Pesquisar este blog

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Sobre a tese da fronteira de Frederick Jackson Turner e a concórdia entre as classes na Rerum Novarum - como essas idéias se convergem

Introdução A tese da fronteira, formulada pelo historiador Frederick Jackson Turner em seu ensaio "The Significance of the Frontier in American History" (1893), argumenta que a expansão para o Oeste foi um fator essencial na formação da identidade americana. Segundo Turner, a fronteira criou um ambiente de mobilidade social e de cooperação entre diferentes grupos. Essa visão, ao enfatizar a interação harmônica de diferentes classes e grupos sociais, pode ser comparada à doutrina da concórdia entre as classes exposta na encíclica Rerum Novarum (1891) do Papa Leão XIII. Este artigo explora essa conexão, destacando como ambas as ideias promovem a cooperação em vez do conflito entre os segmentos sociais.

A Tese da Fronteira de Turner Turner defendia que a fronteira não era apenas um limite territorial, mas um espaço de renovação social e econômica. Nela, os indivíduos podiam reinventar-se, superar barreiras sociais e construir uma nova identidade baseada no trabalho e na autossuficiência. Esse processo fomentava uma igualdade relativa, pois, ao contrário da sociedade europeia estratificada, a disponibilidade de terras no Oeste permitia que muitos alcançassem a propriedade e, consequentemente, um grau maior de independência econômica.

Turner sugeria que a fronteira promoveu um espírito democrático e cooperativo, no qual diferentes grupos sociais precisavam colaborar para sobreviver e prosperar. Esse conceito contrasta com a visão marxista da história, que enxerga as relações sociais como fundamentalmente conflitantes.

A Concórdia Entre as Classes na Rerum Novarum Na encíclica Rerum Novarum, Leão XIII rejeita tanto o socialismo marxista quanto o capitalismo liberal irrestrito. Ele propõe um modelo de relação entre trabalhadores e patrões baseado na justiça e na caridade cristã, no qual ambos reconhecem seus deveres e direitos.

Para Leão XIII, a solução para os conflitos sociais não está na luta de classes, mas na cooperação. Os empregadores devem garantir condições dignas aos trabalhadores, enquanto estes devem cumprir suas obrigações com responsabilidade. Essa visão preconiza uma sociedade harmoniosa, na qual diferentes segmentos trabalham juntos pelo bem comum.

A Convergência Entre Turner e Leão XIII Apesar de abordarem contextos distintos, Turner e Leão XIII compartilham uma perspectiva fundamental: a ideia de que o progresso social ocorre através da cooperação e não do conflito. Na fronteira americana, a necessidade de sobrevivência e crescimento exigia a colaboração entre agricultores, comerciantes, trabalhadores e empreendedores. Esse cenário ecoa a visão da Rerum Novarum, segundo a qual o progresso econômico e social só é possível quando diferentes classes se unem para atingir objetivos comuns.

Outro ponto de convergência é o papel do trabalho e da propriedade. Turner argumentava que a fronteira permitia que muitos alcançassem a propriedade de terras, promovendo uma certa igualdade social. Leão XIII, por sua vez, defendia o direito à propriedade privada como um meio de assegurar a dignidade do trabalhador e garantir a estabilidade social.

Conclusão A relação entre a tese da fronteira de Turner e a doutrina social da Rerum Novarum revela uma visão compartilhada sobre a importância da cooperação entre os diferentes grupos sociais. Ambos os autores rejeitam a visão de que a história é um campo de batalha entre classes antagônicas e propõem modelos nos quais a interação entre os diferentes segmentos sociais leva ao progresso coletivo. A fronteira, assim como a concórdia entre patrões e empregados, pode ser vista como um mecanismo que favorece a estabilidade e o desenvolvimento, desde que seja guiada por princípios de justiça e respeito mútuo.

Bibliografia

  • TURNER, Frederick Jackson. The Significance of the Frontier in American History. 1893.

  • LEÃO XIII. Rerum Novarum. 1891.

  • FERRITER, Diarmaid. The Border: The Legacy of a Century of Anglo-Irish Politics. 2019.

  • HOFSTADTER, Richard. The Progressive Historians: Turner, Beard, Parrington. 1968.


Nenhum comentário:

Postar um comentário