Pesquisar este blog

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

A Incrível História do Café

O café tem origem nas terras altas da África Oriental, mais especificamente na atual província de Kaffa, na Etiópia. Lá cresce uma espécie de planta de café que foi domesticada há tempos antigos pelas populações locais. Seu fruto, chamado cereja do café, contém dois grãos que, depois de torrados e moídos, são infundidos em água fervente para consumo.

A bebida, conhecida como Buna, segue rotas comerciais e, por volta do início do 2º milênio, cruza o Mar Vermelho até o porto de Mocha. Em árabe, a nova bebida é chamada de Kahwa, termo que antes se referia ao vinho, mas que também pode ter ligação com a origem do nome Kaffa. Inicialmente, o café é consumido principalmente em mosteiros sufis, onde está associado a práticas religiosas.

O cultivo do café se desenvolve nas terras altas do Iêmen e, gradualmente, a bebida se torna cada vez mais apreciada pelos iemenitas. A partir daí, segue as rotas de peregrinação até Meca, onde se populariza e se espalha pelo mundo muçulmano, especialmente no Sultanato Mameluco. Surgem os primeiros estabelecimentos dedicados ao consumo da bebida, que se tornam locais de encontro, trocas e jogos.

No entanto, alguns imãs conservadores de Meca veem os efeitos estimulantes do café com desconfiança e tentam bani-lo. Em 1517, o Império Otomano conquista a região, e os turcos, que chamam a bebida de Kave, suspendem as proibições. O café rapidamente se torna popular em Constantinopla.

Como a cidade está conectada às principais rotas comerciais do Mediterrâneo, mercadores venezianos descobrem a bebida e a introduzem na Europa. No entanto, o café permanece caro, pois Mocha protege cuidadosamente seu monopólio, proibindo a venda de plantas ou cerejas para evitar que o cultivo se espalhe. Apesar dos controles rigorosos, um peregrino indiano chamado Baba Budan consegue contrabandear sete cerejas de café para a Índia, iniciando um pequeno cultivo.

Enquanto isso, os holandeses e os ingleses estabelecem comércio direto com Mocha, importando café para a Europa sem depender da tradicional rota egípcia. Os primeiros cafés europeus são inaugurados, mas a bebida continua rara e reservada à elite. A Companhia Holandesa das Índias Orientais, querendo dominar o mercado lucrativo, obtém clandestinamente algumas cerejas de café do Iêmen e as leva para Java, onde o clima e a altitude são ideais para o cultivo.

Em 1706, a colônia envia uma planta de café para Amsterdã, tornando-se a ancestral da maioria das plantas de café atuais. A planta é mantida em estufas para estudo e reprodução. Em 1713, durante o Tratado de Utrecht, que encerra a Guerra da Sucessão Espanhola, o prefeito de Amsterdã presenteia o rei Luís XIV da França com várias mudas de café.

As mudas são mantidas nas estufas reais, mas Luís XIV deseja estabelecer uma produção francesa. Ele envia uma expedição ao Iêmen para obter plantas e cultivá-las na Ilha Bourbon (atual Reunião). Enquanto isso, a produção de café em Java cresce e começa a competir com o café de Mocha.

Os holandeses expandem suas plantações para Ceilão, Sumatra e Suriname, usando mudas enviadas de Amsterdã. Em 1721, um capitão francês recebe duas plantas das estufas reais e as leva para a Martinica, onde o café se espalha rapidamente pelas Antilhas Francesas. Na Guiana Francesa, a produção começa após a obtenção clandestina de mudas do Suriname.

O rei de Portugal, interessado no mercado, envia um embaixador à Guiana Francesa, supostamente para discutir fronteiras coloniais, mas secretamente para obter cerejas de café. Ele consegue seduzir a esposa do governador e retorna ao Brasil com as mudas, iniciando a produção.

À medida que o cultivo se difunde, novas potências adquirem plantas de café. Os britânicos iniciam plantações na Jamaica, os espanhóis nas Filipinas. Nas Américas, a produção agrícola é impulsionada pelo comércio triangular, que fornece às colônias europeias grande quantidade de escravizados africanos. A produção global explode, os preços caem e o café se torna popular na Europa e América do Norte.

Após o Boston Tea Party em 1773, os revolucionários americanos abandonam o chá (visto como símbolo do colonialismo britânico) e passam a preferir o café. A França se torna a maior produtora mundial, especialmente graças ao café Bourbon e ao cultivo em Saint-Domingue (atual Haiti), onde meio milhão de escravizados produzem metade do café mundial.

Em 1789, ocorre a Revolução Francesa, e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão inspira revoltas de escravizados contra os grandes proprietários. Em 1804, o Haiti declara independência, e muitos colonos franceses fogem para Jamaica e Cuba, levando consigo o cultivo do café.

Em 1822, o Brasil se torna independente e foca na produção de café para impulsionar sua economia. Para isso, o país continua importando grande número de africanos escravizados, mesmo após a proibição do tráfico. Em poucas décadas, o Brasil se torna o maior produtor de café do mundo, posição que mantém até hoje.

No final do século XIX, toda a produção global provém da espécie Coffea arabica, geneticamente vulnerável a doenças. Em 1870, um fungo chamado ferrugem do café devasta plantações no Ceilão e se espalha por outras regiões. Apenas plantas cultivadas acima de 1400m resistem.

Em resposta, os europeus buscam novas áreas de cultivo em grandes altitudes. A Grã-Bretanha importa café para colônias na África, próximo à Etiópia, levando o café de volta às suas origens. Lá, uma nova espécie é descoberta: Coffea canephora (Robusta), mais resistente a doenças e com o dobro da cafeína do arábica.

No início do século XX, a produção global explode e os preços caem. Em 1929, a Grande Depressão afeta o mercado, levando o Brasil a queimar estoques para tentar estabilizar os preços.

Em 1938, a Nestlé desenvolve o café solúvel, uma solução criada para preservar o café e aumentar as vendas. Durante a Segunda Guerra Mundial, o café instantâneo acompanha soldados no campo de batalha.

Nos anos 1960, os EUA promovem um acordo entre produtores para limitar exportações e evitar quedas de preço. A Organização Internacional do Café (OIC) é criada para regular o mercado. Mas, em 1989, o Brasil rompe o acordo, levando ao colapso da regulação global.

Nos anos 1990, o Vietnã se torna o 2º maior produtor mundial, cultivando principalmente Robusta. O excesso de oferta faz com que pequenos produtores vendam a preços baixos, surgindo assim o Comércio Justo (Fair Trade), para garantir um preço mínimo e um salário digno aos cafeicultores.

Atualmente, o mundo produz cerca de 10 milhões de toneladas de café por ano, principalmente entre os trópicos. O café é exportado principalmente para o Hemisfério Norte, onde se consomem mais de 2 bilhões de xícaras por dia, especialmente na Europa, líder no consumo per capita.

Bibliografia:

  • PENDERGRASS, Mark. Uncommon Grounds: The History of Coffee and How It Transformed Our World. Basic Books, 2010.

  • UKERS, William H. All About Coffee. The Tea and Coffee Trade Journal Company, 1922.

  • WEINBERG, Bennett Alan; BEALER, Bonnie K. The World of Caffeine: The Science and Culture of the World's Most Popular Drug. Routledge, 2001.

  • HATTOX, Ralph S. Coffee and Coffeehouses: The Origins of a Social Beverage in the Medieval Near East. University of Washington Press, 1985.

  • TOPIK, Steven; CLARENCE-SMITH, William Gervase. The Global Coffee Economy in Africa, Asia, and Latin America, 1500–1989. Cambridge University Press, 2003.

 Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=SKxGAYWVhf4

Nenhum comentário:

Postar um comentário