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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

O Lúdico e o Fim do Mundo: Death Stranding e o Conceito de Homo Ludens em Huizinga

Resumo O presente artigo tem por objetivo analisar a relação entre o jogo eletrônico Death Stranding (2019), desenvolvido por Hideo Kojima, e o conceito de Homo Ludens, formulado pelo historiador e teórico Johan Huizinga em sua obra homônima de 1938. Argumenta-se que a obra de Kojima não apenas incorpora elementos fundamentais do pensamento huizinguiano, mas também o expande ao explorar as funções sociais, tecnológicas e existenciais do jogo no contexto de uma civilização em colapso.

1. Introdução O jogo Death Stranding apresenta um mundo devastado por um evento apocalíptico, no qual o protagonista, Sam Porter Bridges, assume a missão de reconstruir conexões entre os fragmentos da sociedade remanescente. Ao longo dessa jornada, o jogo propõe uma experiência interativa que, paradoxalmente, enfatiza tanto a solidão quanto a interdependência humana. Através desse contexto, torna-se pertinente a relação entre a obra e a teoria de Huizinga, que considera o jogo não apenas uma atividade recreativa, mas um elemento essencial para a constituição da cultura e da sociedade.

2. O Conceito de Homo Ludens Em Homo Ludens (1938), Huizinga argumenta que o jogo antecede a cultura e é um dos pilares da civilização humana. Ele define o jogo como uma atividade voluntária, dotada de regras próprias e de um sentido de liberdade, além de um caráter ritualístico. O jogo é visto como um espaço liminar no qual os indivíduos exercitam sua criatividade e experimentam formas alternativas de socialização. Essa perspectiva permite compreender Death Stranding como uma representação do papel do jogo na manutenção da ordem social em tempos de crise.

3. Death Stranding como Expressão do Homo Ludens O protagonista do jogo, Sam Bridges, é um mensageiro encarregado de reconectar territórios isolados por meio da Rede Quiral. Essa mecânica de conexão pode ser interpretada como uma manifestação do conceito de Homo Ludens, pois a interação entre os jogadores através da construção colaborativa do mundo compartilhado resgata o jogo enquanto elemento de fundação social. Em Death Stranding, o jogador deve construir pontes, estradas e abrigos que também podem ser utilizados por outros jogadores, estabelecendo um vínculo lúdico que transcende a interação tradicional dos jogos eletrônicos.

Outro aspecto relevante é a relação entre o jogo e a liberdade. Para Huizinga, o jogo é uma manifestação da liberdade humana, pois sua participação não pode ser forçada. Em Death Stranding, a liberdade se expressa no modo como o jogador decide estruturar sua jornada: se seguirá caminhos já estabelecidos ou criará novas rotas, se cooperará com outros ou se isolará em sua missão.

4. A Dimensão Filosófica do Jogo Death Stranding também ecoa o pensamento de Huizinga ao refletir sobre a importância do jogo para a sobrevivência da cultura. No universo do jogo, a tecnologia se apresenta tanto como salvadora quanto como um fator de distanciamento humano, um dilema explorado por Huizinga ao discutir a mecanização da vida moderna. Ademais, a figura de Sam Bridges simboliza a convergência entre o Homo Ludens e o ciborgue, conceito desenvolvido por Donna Haraway, ao unir o homem e a tecnologia em uma relação de interdependência.

5. Considerações Finais O estudo de Death Stranding sob a ótica de Homo Ludens permite compreender como o jogo eletrônico pode ser um espaço para reflexões filosóficas profundas sobre a natureza da humanidade e sua relação com a cultura. Ao recuperar a ideia de que o jogo é um elemento constitutivo da sociedade, a obra de Kojima se insere em uma tradição filosófica que resgata o lúdico como força civilizatória. Dessa forma, Death Stranding não apenas dialoga com a teoria de Huizinga, mas a reinterpreta para o contexto contemporâneo, reafirmando o papel do jogo na criação e manutenção das relações humanas.

Referências

  • HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: O jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2014.

  • KOJIMA, Hideo. Death Stranding. Kojima Productions, 2019.

  • HARAWAY, Donna. Manifesto Ciborgue: Ciência, Tecnologia e Feminismo-Socialista no Final do Século XX. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.

  • TSING, Anna. The Mushroom at the End of the World: On the Possibility of Life in Capitalist Ruins. Princeton University Press, 2015.

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=_fHbTZQy_qg

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