1.1) A
democracia moderna - ensina-nos José Pedro Galvão de Sousa - falhou
porque ela é uma herdeira da revolução, pois ela se inspira na idéia
rousseauniana de que a 'vontade geral' é soberana.
1.2.1) Essa vontade é abstrata - por essa razão, não tem como ser representada.
1.2.2) Em um Estado liberal-democrata, a vontade abstrata é constituída do consórcio de muitas vontades individuais que teriam de ser representadas, por força de terem vencido a eleição e por serem consideradas as mais relevantes naquele momento em que houve a eleição, de modo a se promover o bem comum. Ela tende a levar em conta um provável "consenso".
1.2.3) Em um Estado social-democrata, a vontade abstrata é constituída do conjunto inteiro da sociedade que teria de ser representada.
2.1.1) Isso, evidentemente, é utópico.
2.1.2) A única forma de haver legítima representatividade - segundo ele - era por meio do municipalismo (princípio de subsidiaridade). Isso ajudaria a descentralizar o que devia ser descentralizado no Estado e a centralizar o que devia ser centralizado.
2.2) Com o surgimento da internet, na década de 90, essa falha no sistema democrático moderno, da qual falava Galvão de Sousa, parecia estar sendo solucionada com o surgimento dos blogs, os quais foram celebrados como a voz do indivíduo na sociedade, que finalmente seria ouvida.
No entanto, para Matthew Hindman - em seu livro 'O Mito da Democracia Digital' -, essas vozes eram muitas - e só algumas despontavam para o público com um interesse maior. Quando isso acontecia, logo passavam a ser subsidiados pelos clássicos representantes da elite política, fazendo com que a esfera alternativa dos blogs passasse, mais uma vez, a transmitir conteúdos idênticos aos da Big Mídia ou do Mainstream (tal como estamos a ver no caso dos blogs da esgotosfera).
2.3) Essa foi a primeira onda da internet: a idéia de que a internet ia causar o rompirmento do antigo modelo de Estado e de mídia Mainstream não aconteceu. Muito pelo contrário - o Estado continua o mesmo e a mídia Mainstream está mais viva do que nunca. Se a banda The Buggles entrasse na onda, diria na letra da sua música, mais uma vez, que a "internet killed the power and the big mídia stars", e erraria mais uma vez, como errou com o rádio.
2.4.1) A segunda onda da internet vem com o surgimento de startups não-lucrativas, que prometiam estreitar as relações sociais na base do compartilhamento comunitário (TaskRabbit, eBay, Postmates, Lyft, Uber etc).
2.4.2) A dona Maria precisa de um saco de açúcar e pede à vizinha - ela não cobra nada pelo açúcar ou então pede à dona Maria que lhe dê apenas o valor que ela pagou por ele.
2.4.3) A dona Josefina precisa fazer uma compra mas não tem como ir ao supermercado. Então ela pede ao vizinho, que estava indo com a sua mulher ao mercado, para que aproveitasse a viage para trazer-lhe uma pequena compra, a qual seria paga assim que o casal vizinho voltasse.
2.4.4) O seu José precisa ir ao centro da cidade, mas não tem carro, então ele pede ao vizinho, que para lá estava indo, uma carona, cuja remuneração de custos o vizinho pode rejeitar ou aceitar.
2.4.5) Esse modelo da segunda onda da internet é chamado de 'economia de compartilhamento' - e isso foi celebrado no início como um novo meio de causar a ruptura com o modelo antigo, desta vez não dos velhos barões da política, mas dos velhos barões das grandes corporações monopolistas.
2.4.6.1) À medida que uma ou outra dessas startups ia crescendo em popularidade nas redes sociais, o Big Business - que nunca foi imbecil - começou a se interessar por elas. De 'não lucrativas' que eram passaram a ter uma tremenda lucratividade, a tal ponto que as relações sociais - em vez de serem aproximadas, solidificadas e aprofundadas - foram todas quantificadas e mercantilizadas depois que essas startups passaram a buscar o monopólio para o capital financeiro que as subsidiava.
2.4.6.2) Se havia uma grande chance de você obter um saco de açúcar com sua vizinha e não pagar nada por isso ou mesmo compensar o que ela pagou por ele, agora isso já não é mais possível. Se havia alguma possibilidade de o seu vizinho lhe dar uma carona sem custo, ou mesmo por um valor irrisório por isso, agora não há mais essa possibilidade.
2.4.6.3)Agora todas as relações sociais estão sendo quantificadas economicamente. A internet não só não entregou nada do que prometeu, tanto na política quanto na economia, como agravou a coisa extraordinariamente, concentrando ainda mais o poder dos velhos barões da política e do grande capital
.
3.1) Não se iludam. Como já disse Bertrand de Jouvenel em seu livro "Du pouvoir : Histoire naturelle de sa croissance": O poder só cresce, seus bobinhos.
Roberto Santos (https://www.facebook.com/roberto.santos.3114/posts/10214827445303134)
Facebook, 3 de novembro de 2017.
1.2.1) Essa vontade é abstrata - por essa razão, não tem como ser representada.
1.2.2) Em um Estado liberal-democrata, a vontade abstrata é constituída do consórcio de muitas vontades individuais que teriam de ser representadas, por força de terem vencido a eleição e por serem consideradas as mais relevantes naquele momento em que houve a eleição, de modo a se promover o bem comum. Ela tende a levar em conta um provável "consenso".
1.2.3) Em um Estado social-democrata, a vontade abstrata é constituída do conjunto inteiro da sociedade que teria de ser representada.
2.1.1) Isso, evidentemente, é utópico.
2.1.2) A única forma de haver legítima representatividade - segundo ele - era por meio do municipalismo (princípio de subsidiaridade). Isso ajudaria a descentralizar o que devia ser descentralizado no Estado e a centralizar o que devia ser centralizado.
2.2) Com o surgimento da internet, na década de 90, essa falha no sistema democrático moderno, da qual falava Galvão de Sousa, parecia estar sendo solucionada com o surgimento dos blogs, os quais foram celebrados como a voz do indivíduo na sociedade, que finalmente seria ouvida.
No entanto, para Matthew Hindman - em seu livro 'O Mito da Democracia Digital' -, essas vozes eram muitas - e só algumas despontavam para o público com um interesse maior. Quando isso acontecia, logo passavam a ser subsidiados pelos clássicos representantes da elite política, fazendo com que a esfera alternativa dos blogs passasse, mais uma vez, a transmitir conteúdos idênticos aos da Big Mídia ou do Mainstream (tal como estamos a ver no caso dos blogs da esgotosfera).
2.3) Essa foi a primeira onda da internet: a idéia de que a internet ia causar o rompirmento do antigo modelo de Estado e de mídia Mainstream não aconteceu. Muito pelo contrário - o Estado continua o mesmo e a mídia Mainstream está mais viva do que nunca. Se a banda The Buggles entrasse na onda, diria na letra da sua música, mais uma vez, que a "internet killed the power and the big mídia stars", e erraria mais uma vez, como errou com o rádio.
2.4.1) A segunda onda da internet vem com o surgimento de startups não-lucrativas, que prometiam estreitar as relações sociais na base do compartilhamento comunitário (TaskRabbit, eBay, Postmates, Lyft, Uber etc).
2.4.2) A dona Maria precisa de um saco de açúcar e pede à vizinha - ela não cobra nada pelo açúcar ou então pede à dona Maria que lhe dê apenas o valor que ela pagou por ele.
2.4.3) A dona Josefina precisa fazer uma compra mas não tem como ir ao supermercado. Então ela pede ao vizinho, que estava indo com a sua mulher ao mercado, para que aproveitasse a viage para trazer-lhe uma pequena compra, a qual seria paga assim que o casal vizinho voltasse.
2.4.4) O seu José precisa ir ao centro da cidade, mas não tem carro, então ele pede ao vizinho, que para lá estava indo, uma carona, cuja remuneração de custos o vizinho pode rejeitar ou aceitar.
2.4.5) Esse modelo da segunda onda da internet é chamado de 'economia de compartilhamento' - e isso foi celebrado no início como um novo meio de causar a ruptura com o modelo antigo, desta vez não dos velhos barões da política, mas dos velhos barões das grandes corporações monopolistas.
2.4.6.1) À medida que uma ou outra dessas startups ia crescendo em popularidade nas redes sociais, o Big Business - que nunca foi imbecil - começou a se interessar por elas. De 'não lucrativas' que eram passaram a ter uma tremenda lucratividade, a tal ponto que as relações sociais - em vez de serem aproximadas, solidificadas e aprofundadas - foram todas quantificadas e mercantilizadas depois que essas startups passaram a buscar o monopólio para o capital financeiro que as subsidiava.
2.4.6.2) Se havia uma grande chance de você obter um saco de açúcar com sua vizinha e não pagar nada por isso ou mesmo compensar o que ela pagou por ele, agora isso já não é mais possível. Se havia alguma possibilidade de o seu vizinho lhe dar uma carona sem custo, ou mesmo por um valor irrisório por isso, agora não há mais essa possibilidade.
2.4.6.3)Agora todas as relações sociais estão sendo quantificadas economicamente. A internet não só não entregou nada do que prometeu, tanto na política quanto na economia, como agravou a coisa extraordinariamente, concentrando ainda mais o poder dos velhos barões da política e do grande capital
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3.1) Não se iludam. Como já disse Bertrand de Jouvenel em seu livro "Du pouvoir : Histoire naturelle de sa croissance": O poder só cresce, seus bobinhos.
Roberto Santos (https://www.facebook.com/roberto.santos.3114/posts/10214827445303134)
Facebook, 3 de novembro de 2017.
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