1) Vejo, no seio da Igreja, divisões e rupturas entre irmãos por pouca coisa. Geralmente entre os gênios. Todas essas divisões possuem algo daquele antigo ódio de Caim por Abel: irmãos que vivem um drama que termina num homicídio.
2) No seio da Igreja, vivemos dramas que matam o homem. Homens bons não conseguem deixar de lado as pequenas diferenças e ficam se arranhando, quando deviam sentar-se à mesa com um belo charuto e uma garrafa de whisky. Nesses dramas, pessoas como eu, que apenas lêem e pensam - embora não com tanta genialidade quanto esses homens - vêem o desenrolar dramático de brigas entre gigantes dos quais, de minha modesta posição, só posso admirar a ambos os lados. A épica briga de Sidney Silveira e Olavo de Carvalho rendeu-me um imenso respeito por ambos; as discussões entre Orlando Fedeli e Plinio Corrêa de Oliveira, outra; Olavo de Carvalho e Plinio Corrêa de Oliveira, outra - isso sem falar nas discussões entre os latinistas, um dos quais meu amigo: William Bottazzini Rezende e outro, Rafael Falcón - um sujeito com o qual gostaria de ter amizade. E há ainda as discussões nas quais se envolvia Dom Estêvão Bettencourt, ora contra a TFP, ora contra Montfort e vice-versa.
3) No meio de tantas discussões, envolvendo todos esses homens, eu sempre percebi haver entre eles a máxima tomista: idem nolle, idem velle. Esse tipo de coisa eu também vejo, por exemplo, no trabalho de José Octavio Dettmann, o qual tenho começado a ler recentemente - e sinto que posso colocá-lo no hall desses nomes. Quando fico a pensar no termo "olavismo", fico a pensar no que se trata tal coisa. No fim das contas, essas richinhas. essas diferenças pequenas não passam de uma "síndrome de Caim e Abel", a meu ver.
4) De fato, se colocarmos quaisquer um desses nomes como vox Dei, una et vera, dando-lhes uma autoridade ex-cathedra daí sim podemos imputir-lhes um sufixo "ismo". Fora isso, sou imensamente grato ao trabalho de todos esses homens - e na diferença entre eles aprendo algo de um e algo de outro.
5) Repito que, no fim, vejo em todos um amor pelas mesmas coisas e um ódio pelas mesmas coisas. Ainda que cada qual tenha amores e ódios particulares que outros não possuem, não vejo entre eles grandes contradições. Não há dúvida de que isso gera conflitos, por isso que acho extremamente salutar o que faziam Tolkien, Lewis e Chesterton. Suas grandes diferenças eram resolvidas banhadas a whisky e provavelmente com amendoins e queijo.
6) Enquanto ficamos perdendo tempo com nossas vaidades intelectuais, os inimigos de Cristo se unem com uma facilidade tamanha. Se o meio mais promissor de unir os inimigos do socialismo é o COF, então paguemos todos o COF. Depois disso, unamo-nos todos noutro movimento para lutar contra os libertários e depois vençamos o protestantismo e por aí vai. Em vez de nos unirmos, estamos todos cada qual lutando contra um inimigo, dispersos enquanto os inimigos se unem.
Douglas Bonafé
Facebook, 26 de maio de 2016 (data da postagem original).
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