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segunda-feira, 9 de maio de 2016

Diálogo com Elton Kazmierczak

Dúvida de Elton Kazmierczak

Kazmierczak: Eu estou com uma dúvida sobre um dos artigos que você me passou para ler.

Dettmann: Qual é a dúvida, meu amigo?

Kazmierczak: 

1) Eu li naquele artigo que o empresário deve pagar um salário justo ao empregado de modo que ele consiga sustentar toda sua família.  

2) No caso de um microempresário que atua num mercado de vila, que não tenha condição de pagar um salário para seu empregado de modo a que ele possa sustentar toda sua família, como fica a questão do salário justo? E a Igreja possui algo escrito em favor dos empresários ou dos empregadores? Até agora só achei escritos em favor dos empregados.

Dettmann:

1) O que sei é que a microempresa é trabalhada por uma economia de família.

2) O que sei é que a questão dos direitos trabalhistas, tal como está enunciada nos escritos da Igreja, está relacionada a uma grande empresa, fundada no amor ao dinheiro. Ela está fundada em tempos atuais, como esses que estamos vivendo

Kazmierczak: Bom, eu não sou liberal - mas eu reparei essa questão e não vi nada sobre isso. Não estou defendendo empresários, tal como os liberais defendem - foi apenas uma dúvida. Além disso, não vejo empresários como inimigos, caso eles sejam honestos e justos.

Dettmann: Sua pergunta é muito bem-vinda. Vou pensar no assunto.

Kazmierczak:

1) Minha caminhada nessa questão da doutrina social da Igreja é recente.

2) O início se deu quando descobri que a Igreja sempre condenou o comunismo, mas eu descobri que a Igreja condenou o liberalismo - e isso não faz muito tempo que eu tomei conhecimento disso.

Dettmann: O liberalismo é sempre a mesma coisa - é pensamento único. Por isso, é tão nefasto quanto o comunismo.

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Diálogo sobre libertarismo e capitalismo

Kazmierczak: É certo dizer que liberalismo e capitalismo são a mesma coisa?

Dettmann:

1) O libertarismo (buscar a liberdade fora da liberdade de Cristo) nasceu da cultura da falta de fraternidade universal. 

2) Como a salvação se dá pela riqueza, que é construída através do trabalho, então o libertarismo é uma conseqüência do protestantismo. 

3) Como protestante não crê em fraternidade universal, então a usura é praticada de maneira indiscriminada. E o capitalismo precisa da usura, de modo a edificar ordem.

4) Por isso, libertarismo e capitalismo são essencialmente a mesma coisa.

5) O liberalismo verdadeiro decorre do fato de que Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Como Ele é a verdade, então Ele é necessariamente a liberdade. E Ele é magnânimo, pois edifica ordem.

6) E isso é o verdadeiro liberalismo, pois decorre do fato de se conservar a dor de Cristo a cada geração.

7) Como a caridade decorre do fato de que devemos amar uns aos outros tal como Jesus nos amou, então a caridade edifica ordem. E o dar sistemático a quem precisa leva ao distribuir. Eis o distributivismo.

Kazmierczak: Entendo perfeitamente. 

1) Eu achava que o capitalismo funcionasse como uma ferramenta, coisa que depende do modo como as pessoas o usam.

2) Eu achava que isso poderia isso entrar em harmonia com a moral e ética católica, assim como suas doutrinas relativas ao comércio, salário, empresas, relação empregado X empregador.  

3) Eu achava que o liberalismo e libertarianismo fossem a liberdade até suas últimas consequências, sem levar em consideração a moral e a ética.

4) Eu achava que, com exceção da usura, certas coisas no capitalismo poderiam ser preservadas, dentro da moral e da ética católica.

5) Mas vejo que estou errado.

6) Tenho uma outra dúvida: não há nenhuma maneira de catolicizar o capitalismo retirando a usura e inserindo o que é de natureza católica, como a moral e os ensinamentos de Cristo?

Dettmann: pelos ensinamentos da Bíblia, a usura só é permitida a quem não é irmão. É mais comum isso em comércio em época de guerra, em alianças temporárias feitas de modo a se enfrentar um inimigo em comum. O maior exemplo disso se deu no tempo das Grandes Navegações. Uma boa leitura na Teoria Geral dos Descobrimentos Portugueses, do Jaime Cortesão, explica bem essa questão.

Kazmierczak: Entendi. Vou aprofundar as leituras com o tempo. Não posso fazer isso neste ano, devido pois estou no meu último ano de faculdade.

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Diálogo sobre a distinção entre liberalismo e libertarismo:

Dettmann:

1) Existe um libertarismo moderado, clássico, historicamente revolucionário, que preparou o caminho pro comunismo, assim como um libertarismo mais recente e mais radical do que o clássico, que busca ser uma nova esquerda.

2) O moderado prepara o caminho pro radical, tal como ocorre nos islâmicos. Eles têm visão de longo prazo e dão sua vida pela causa, coisa que no momento não estamos fazendo.

Kazmierczak: 

1) Esse libertarismo moderno está mais como um anarquismo, praticamente.

2) No libertarismo, todos somos inimigos de todos, pois o mesmo prega a individualidade ao pé da letra, já que cada um tem a sua verdade.

Dettmann: Exatamente. Até porque não existe crença na fraternidade universal.

Kazmierczak: 

1) Toda noção de amor, caridade e afins é tomada como se fosse contrato e ação de troca, segundo eles - o que reduz tudo a uma mera visão utilitária das coisas. E não é à toa que isso acaba virando conservantismo, o leva as coisas a estarem à esquerda do Pai, no seu grau mais básico.

2) Dentro dessa lógica não haveria ajuda ou caridade, se não houvesse a possibilidade de o agente ganhar alguma coisa em troca do beneficiado - e pelo que sabemos da doutrina católica, nós devemos ajudar, mesmo que não se espere nada em troca, pois isso é bondade e edifica ordem - além disso, a caridade estabelece ordem pública, pois ela é salvífica - e a salvação do homem é algo urgente, necessário, pois se funda na conformidade com o Todo que vem de Deus. 

3) Enfim, José Octavio, eu gosto mesmo de ler seus posts, pois sempre aprendo muito com eles.

Rio de Janeiro, 9 de maio de 2016 (data da postagem original).

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