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quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Empatia Contingente: quando a compreensão depende da experiência

A empatia é frequentemente apresentada como uma virtude universal: a capacidade de se colocar no lugar do outro, de sentir suas dores e alegrias como se fossem nossas. No entanto, a realidade psicológica e prática é mais complexa. Existe um tipo de empatia que podemos chamar de empatia contingente, aquela cuja intensidade e eficácia dependem diretamente do conhecimento ou da experiência prévia da situação do outro.

A base da empatia contingente

A empatia contingente nasce de uma premissa simples: para compreender plenamente o drama de alguém, é preciso que esse drama faça sentido dentro do nosso próprio contexto de vida. Se não vivemos determinada experiência, se não encaramos suas responsabilidades, limitações ou desafios, nossa compreensão é necessariamente parcial. Por mais boa vontade que tenhamos, o esforço de nos conectar com o sofrimento ou a necessidade alheia pode se tornar artificial, forçado ou até mesmo improdutivo.

Por exemplo, considere a situação de um jovem que nunca teve vida independente e que é chamado a resolver problemas logísticos de alguém que vive essa independência diariamente. Ele pode até entender racionalmente os passos necessários, mas não sente a urgência, a frustração ou a responsabilidade inerente à situação. O problema, por mais legítimo que seja, permanece externo à sua realidade. É nesse contexto que a empatia contingente explica a falta de motivação: não é preguiça ou insensibilidade, mas a ausência de conexão experiencial.

Limites e Autonomia

Um aspecto central da empatia contingente é o reconhecimento dos limites pessoais. Cada indivíduo tem sua esfera de atuação e responsabilidade; invadir essas fronteiras, seja por pressão externa ou expectativa social, tende a gerar resistência. A empatia contingente, portanto, não é apenas uma observação psicológica, mas também um guia ético-prático: ajuda a determinar quando podemos ou não nos engajar genuinamente em um problema alheio sem comprometer nossa autonomia.

Implicações para relações pessoais

Entender a empatia contingente muda a forma como nos relacionamos. Ela sugere que:

  1. A empatia não é absoluta – nem sempre conseguimos sentir o que o outro sente, e isso é natural.

  2. O contexto importa – a compreensão plena depende de ter vivido, mesmo que minimamente, a situação que o outro enfrenta.

  3. O respeito aos limites é crucial – pressionar alguém a se envolver fora de sua experiência ou competência tende a gerar resistência, e não colaboração.

Essa perspectiva não elimina a responsabilidade de ajudar os outros, mas a coloca em termos realistas. Antes de exigir envolvimento emocional ou prático, é importante perguntar: “Essa pessoa tem experiência ou conhecimento suficiente para compreender este problema?” Caso não tenha, a ajuda precisa ser oferecida de forma diferente — com orientação, informação ou mediação — sem comprometer sua autonomia ou integridade.

Conclusão

A empatia contingente nos lembra que a verdadeira compreensão do outro é, em grande parte, contextual. Antes de forçar sentimentos ou ações, devemos reconhecer as diferenças de realidade e experiência. Somente assim podemos construir relações de colaboração e apoio genuíno, onde a empatia não é simulada, mas sentida e eficaz.

A forma geométrica da liberdade: a servidão contratual e a ascensão social do homem na América Inglesa

Legenda explicativa do diagrama:

O diagrama representa o ciclo econômico e espiritual da servidão contratual na América inglesa, estruturado em sete anos. A base quadrada simboliza a fase material e disciplinar da servidão — o tempo em que o homem aprende a obedecer, trabalhar e sustentar-se pela constância e pelo esforço. É o tempo da lei e da necessidade, onde a liberdade ainda é potência, não ato.

Sobre essa base ergue-se o triângulo, que representa o ano sabático, o momento de elevação e transição. O trabalhador que cumpriu seu contrato entra na posse de si mesmo: o tempo da liberdade. O triângulo, símbolo da Trindade, indica que a liberdade verdadeira só se realiza quando ordenada por uma forma superior — espiritual e moral.

A união das duas figuras — o quadrado e o triângulo — expressa a completude do ciclo humano:

  • o homem terreno (quadrado) que, pela fidelidade e pelo trabalho,

  • torna-se homem livre (triângulo), participante da ordem divina.

Em termos geométricos, a economia assume aqui uma forma complexa e orgânica, composta de duas fases integradas. O tempo econômico não é linear, mas ascensional: começa na servidão e culmina na liberdade. O trabalho, portanto, não é mera necessidade, mas um caminho de elevação — a escada pela qual o homem sobe da matéria ao espírito.

Introdução

Na América inglesa, o regime de servidão contratual — no qual o trabalhador imigrante se comprometia a servir durante sete anos em troca da passagem e da subsistência — não era apenas um arranjo econômico, mas uma estrutura simbólica e temporal de aperfeiçoamento humano. O tempo da servidão representava, na prática, uma pedagogia do trabalho, um ciclo de formação moral e social que preparava o indivíduo para a vida livre.

Esse ciclo, composto por sete anos, pode ser compreendido geometricamente como uma forma dupla e integrada: uma base quadrada (a servidão) e um triângulo sobreposto (a liberdade). Essa composição expressa uma economia orgânica e ascensional, em que o homem passa da obediência à autonomia, do trabalho material à elevação espiritual.

Desenvolvimento

1. O quadrado: a base da servidão e da ordem material

O quadrado, símbolo da estabilidade e da criação ordenada, representa os seis primeiros anos do contrato. É o tempo da disciplina, da necessidade e da obediência. Nesse período, o servo aprende os fundamentos do trabalho, da responsabilidade e da vida em comunidade.

O quadrado é uma figura terrestre: tem quatro lados, remetendo às quatro direções do mundo e aos quatro elementos da natureza. Assim, ele traduz o aprendizado do homem com a realidade concreta. A servidão, longe de ser mera exploração, é um tempo de estruturação interior, no qual o indivíduo aprende a dominar a si mesmo e a compreender o valor do trabalho como via de elevação.

2. O triângulo: a forma espiritual da liberdade

O sétimo ano — o ano sabático — introduz a dimensão trinitária da existência. Representado pelo triângulo, é o momento em que o homem, tendo cumprido seu tempo de servidão, ascende da matéria ao espírito.

O triângulo, símbolo da Trindade, significa a ordem espiritual que dá sentido à liberdade. A liberdade que nasce sem forma espiritual tende à dissolução; por isso, o contrato de sete anos contém uma sabedoria implícita: a verdadeira liberdade exige antes uma obediência interior. O triângulo, colocado sobre o quadrado, é a imagem da pirâmide — a síntese da ordem material e da perfeição espiritual.

3. A integração das duas fases: o homem como síntese da criação

Quando o triângulo é empilhado sobre o quadrado, forma-se uma unidade geométrica perfeita, que pode ser lida como uma alegoria do destino humano. O homem nasce no mundo material (o quadrado), aprende a obedecer às suas leis, e, pela fidelidade e pelo trabalho, eleva-se à ordem divina (o triângulo).

Assim, o contrato de servidão de sete anos não é apenas um instrumento jurídico, mas um rito de passagem, um ciclo pedagógico e espiritual em que o homem é moldado pela necessidade para, enfim, agir pela liberdade.

Conclusão

A forma geométrica composta do ciclo da servidão contratual — o quadrado e o triângulo — revela que a economia colonial possuía uma dimensão simbólica profunda. O trabalho não era apenas produção, mas formação; a servidão não era apenas sujeição, mas caminho para a liberdade.

A economia, entendida nesse sentido, não se limita à troca de bens, mas é um sistema de ascensão moral, onde o tempo é o grande escultor da alma. No fim do sétimo ano, o homem livre não é simplesmente um ex-servo — é alguém que, pela obediência e pelo trabalho, aprendeu a sustentar-se, a ordenar-se e a elevar-se.

Essa leitura geométrica e espiritual da vida econômica nos lembra que a verdadeira liberdade só floresce quando há uma base sólida de virtude, disciplina e ordem. A liberdade não é um ponto de partida, mas uma forma final, conquistada pela união entre a matéria que suporta e o espírito que guia — o quadrado que sustenta o triângulo.

Bibliografia 

  • Turner, Frederick Jackson. The Frontier in American History. New York: Henry Holt and Company, 1920.

  • Royce, Josiah. The Philosophy of Loyalty. New York: The Macmillan Company, 1908.

  • Leão XIII, Papa. Rerum Novarum: Sobre a Condição dos Operários. Vaticano, 1891.

  • Carvalho, Olavo de. O Jardim das Aflições. São Paulo: É Realizações, 2015.

  • Weber, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

  • Silveira, Sidney. O Espírito e a Letra. Rio de Janeiro: Permanência, 2018.

  • Gurgel, Rodrigo. Muita Retórica — Pouca Literatura. São Paulo: É Realizações, 2013.

A geometria temporal da servidão contratual na América Inglesa

Introdução

Na América inglesa do século XVII, os colonos imigrantes frequentemente ingressavam em sistemas de servidão contratual, cumprindo contratos de trabalho que duravam sete anos para pagar sua passagem e estabelecer-se na colônia. Embora, à primeira vista, a servidão contratual parecesse apenas uma relação econômica, sua organização temporal revela uma complexidade estrutural sofisticada, que pode ser compreendida como uma forma geométrica composta de duas fases: a trinitária e a quadrática.

A fase trinitária: aprendizado, trabalho e acumulação

Os primeiros seis anos do contrato de servidão correspondem à fase trinitária. Durante esse período, o colono passa por três dimensões simultâneas:

  1. Aprendizado: Adaptação ao ambiente colonial, aquisição de habilidades agrícolas ou artesanais e integração social.

  2. Trabalho efetivo: Cumprimento das obrigações contratuais com produtividade crescente.

  3. Acumulação de capital social e experiência: Preparação para assumir responsabilidade plena ao final do contrato.

Essa fase trinitária cria uma base estruturada que permite ao trabalhador adquirir competências essenciais e preparar-se para a liberdade futura.

A fase quadrática: o ano sabático como transição

O sétimo ano do contrato representa a fase quadrática, conhecida como ano sabático. Ele atua como um ponto de transição entre a servidão e a liberdade, transformando o ritmo trinitário em um ciclo fechado. Durante esse período:

  • O trabalhador reorganiza sua vida, consolidando bens, habilidades e relacionamentos.

  • A liberdade recém-conquistada é estruturada, criando uma ponte entre o período de dependência e a autonomia plena.

Essa quadratura finaliza o ciclo e confere completude ao contrato, estabelecendo um padrão temporal que combina eficiência econômica e ordem social.

Complexidade Econômica e Geometria Temporal

A composição das fases trinitária e quadrática revela uma complexidade implícita na organização do trabalho colonial. Diferentemente de um contrato linear ou puramente cronológico, este modelo:

  • Integra duas temporalidades simultâneas: produção e transição.

  • Cria um padrão geométrico composto, que pode ser visualizado como um triângulo (anos 1 a 6) conectado a um quadrado (ano 7).

  • Fornece previsibilidade e estrutura para empregadores e trabalhadores, tornando a servidão contratual uma forma sofisticada de economia temporal.

Conclusão

O estudo da servidão contratual sob essa perspectiva revela que a vida econômica dos colonos não era apenas linear, mas organizada em ciclos com propósito e significado. O triângulo da fase trinitária e o quadrado da fase final demonstram que a economia colonial pode ser entendida como uma geometria temporal, onde cada fase cumpre uma função específica no processo de transição da dependência à liberdade.

Bibliografia

  • Anderson, F. Colonial America: A Very Short Introduction. Oxford University Press, 2016.

  • Galenson, D. W. White Servitude in Colonial America: An Economic Analysis. Cambridge University Press, 1981.

  • Morgan, E. S. American Slavery, American Freedom: The Ordeal of Colonial Virginia. W. W. Norton & Company, 1975.

  • Nash, G. B. The Urban Crucible: Social Change, Political Consciousness, and the Origins of the American Revolution. Harvard University Press, 1979.

  • Thompson, E. P. Time, Work-Discipline, and Industrial Capitalism. Past & Present, 1967.

O investimento como vocação trinitária

O investimento, quando compreendido em sua profundidade espiritual, não é mero ato de acumular riqueza, mas de participar da criação. Ele expressa a vocação do homem de ordenar o tempo e os bens segundo o desígnio de Deus. Nesse sentido, o investimento é um ato de fé na permanência — uma resposta ao chamado do Criador que confia ao homem talentos a serem multiplicados.

A Trindade oferece o arquétipo supremo dessa ordem. O Pai é a fonte de todo capital, pois d’Ele procede o ser e a substância das coisas. O Filho, ao encarnar-se, santifica o trabalho humano, tornando-o redentor; e o Espírito Santo é a prudência viva, a sabedoria que orienta a aplicação dos dons conforme o bem comum. Assim, cada ato econômico — quando realizado em estado de graça — reflete a estrutura da própria vida divina: origem, mediação e retorno.

O homem que investe, portanto, deve reconhecer em cada aplicação financeira um espelho do seu próprio caminho espiritual. O capital é a herança recebida (do Pai), o trabalho é o meio de multiplicação (do Filho), e a prudência é o discernimento que preserva o fruto (do Espírito). Quando essas três potências atuam em harmonia, o investimento se torna um ato trinitário: produtivo, justo e ordenado.

Nesse contexto, o ciclo do CDB, com sua duração trienal, assume um significado simbólico. Ele expressa o tempo necessário para que a fé se prove na constância, o trabalho se aperfeiçoe na disciplina e o capital amadureça no serviço ao bem. Ao fim de cada ciclo, o investidor é avaliado pelo uso que fez de seus talentos — tal como na parábola — e deve renovar seu propósito de servir à Verdade e à Ordem, jamais à cobiça.

Em contraste, o ciclo de Kondratiev, com seus 60 anos, reflete a passagem geracional do mesmo princípio. Ele mostra como as nações são avaliadas não pelo montante de suas riquezas, mas pela sabedoria com que cada geração administra o que recebeu da anterior. Quando uma sociedade investe sem prudência, gasta o capital espiritual e moral acumulado, e a crise se torna inevitável — porque o tempo aiônico reage, impondo correção à desordem.

A harmonia entre esses dois ciclos — o trienal do CDB e o geracional de Kondratiev — mostra que a verdadeira economia é uma liturgia do tempo. Cada homem, em sua microeconomia pessoal, reflete a macroeconomia das civilizações. Quando o indivíduo investe segundo a Trindade, o seu tempo pessoal se ordena ao tempo histórico; e, quando as sociedades imitam esse modelo, o tempo histórico se ordena ao tempo de Deus.

Por isso, a santificação do investimento é também a santificação do tempo. O cronos se torna instrumento do kairós; o kairós se perpetua no aiôn; e o aiôn, reconciliado, retorna à eternidade do Pai. Assim, a economia deixa de ser a ciência do lucro e se torna a ciência da fidelidade, onde o homem, por meio de sua vocação criadora, continua a obra do Gênesis: “Crescei e multiplicai-vos” — não apenas em número, mas em virtude, em sabedoria e em graça.

As três dimensões do tempo e os ciclos da economia

Ao longo de uma vida singular, o homem vive dois tempos: o cronológico e o kairológico. O tempo cronológico é o tempo dos relógios e calendários — o tempo da produção, do vencimento dos contratos, da maturação dos investimentos e do envelhecimento dos corpos. Já o tempo kairológico é o tempo das decisões significativas — o instante em que o homem age conforme o sentido de sua vocação, e transforma o simples decorrer do tempo em ocasião de graça.

Mas há também o tempo aiônico, o tempo da sucessão entre os homens. Nele, as gerações antigas cedem lugar às novas, transmitindo o capital espiritual, cultural e material que sustenta a continuidade da sociedade. O tempo aiônico é, portanto, o tecido da História: nele, cada ato humano se torna semente de um legado — quer de sabedoria, quer de ruína.

Quando estudamos a economia do ponto de vista da sociologia, o tempo não pode ser medido apenas pela sucessão dos fatos, mas pelas três dimensões do existir humano. A microeconomia observa o homem em suas circunstâncias — o trabalhador, o poupador, o investidor, o consumidor — e, por isso, lida com uma temporalidade bidimensional: o cronos e o kairós. Já a macroeconomia, quando pensada como ciência moral e política, deve incluir o aiôn, pois cada ciclo econômico traduz a maturação de uma geração diante de seu próprio tempo histórico.

Foi esse o mérito da teoria dos ciclos longos de Kondratiev, que percebeu que as economias não evoluem linearmente, mas oscilam entre períodos de expansão e contração a cada 50 ou 60 anos — aproximadamente o tempo de uma geração produtiva. O que Kondratiev observou no campo dos preços e da inovação tecnológica é, em última instância, a manifestação empírica do tempo aiônico: a passagem do bastão histórico de uma geração a outra.

Do ponto de vista espiritual, entretanto, o homem prudente não pode limitar-se à observação do aiôn. Ele deve integrar o ciclo histórico (aiônico) ao ciclo pessoal de trabalho e fé (kairológico), e este ao tempo mensurável dos contratos e rendimentos (cronológico). É exatamente isso que se manifesta no ciclo do CDB, tal como concebido: um ciclo de três anos que, ao encerrar-se, não representa apenas o vencimento de um título financeiro, mas o fechamento de uma triangulação trinitária do investimento — uma liturgia do tempo econômico, em que o trabalho humano retorna a Deus por meio da ordem, da disciplina e da fecundidade.

Enquanto o ciclo de Kondratiev mede o ritmo da civilização, o ciclo do CDB mede o ritmo da alma disciplinada. Um observa a longa duração dos povos; o outro, a conversão diária do indivíduo. Ambos, porém, só adquirem sentido quando inseridos na unidade do tempo kairológico — isto é, quando o homem reconhece que cada oportunidade de investimento, cada ato de consumo e cada decisão de poupança é, em si, uma resposta à Providência.

Assim, o tempo deixa de ser apenas uma sucessão de eventos e se torna um sacramento da permanência: o cronos se ordena ao kairós, o kairós se inscreve no aiôn, e o aiôn retorna a Deus, que é o Senhor de todos os tempos.

A trindade dos ciclos: uma teologia do tempo econômico

Há quem veja na economia apenas números, curvas e tendências; outros, porém, percebem nela um reflexo da ordem divina do tempo. Assim como a história das nações segue grandes ondas de expansão e retração, o indivíduo que busca santificar-se pelo trabalho pode ordenar sua vida financeira segundo uma métrica simbólica — uma teologia do tempo econômico.

Essa teologia parte de uma constatação: o dinheiro, quando bem administrado, não é fim, mas meio de fidelidade. Cada contrato, cada aplicação, cada ato de investimento pode tornar-se um rito de amor à verdade, um sinal concreto de que o homem participa da Providência ao transformar o tempo em fruto.

1. O ciclo de Kondratiev e o ritmo da civilização material

O economista russo Nikolai Kondratiev observou que a economia mundial se move por ondas longas de aproximadamente sessenta anos, nas quais se alternam períodos de inovação, crescimento, crise e reconstrução. Essas ondas — hoje conhecidas como ciclos de Kondratiev — descrevem o pulso da civilização industrial.

Contudo, enquanto Kondratiev media as forças materiais, o homem de fé é chamado a medir as forças espirituais que se expressam na economia pessoal e doméstica. O seu ciclo não é o do ferro, do vapor ou da eletricidade, mas o da graça operante no trabalho humano, isto é, o ciclo da obediência e da prudência.

2. O triênio do CDB e a trindade do investimento

O contrato de CDB, com duração de três anos, adquire nesse contexto um valor simbólico. Ele representa a unidade trinitária do investimento: Pai, Filho e Espírito Santo — princípio, redenção e santificação do capital.

A cada três anos, o investidor que renova seu compromisso com o trabalho e com a disciplina financeira participa de um ciclo de purificação e renascimento. O capital se torna, por assim dizer, uma metáfora do tempo santificado: nasce, frutifica e retorna à fonte.

Assim, cada triênio é um vértice da trindade econômica:

  • Primeiro triênio: fé e plantio — o homem confia no tempo de Deus;

  • Segundo triênio: esperança e consolidação — o fruto começa a amadurecer;

  • Terceiro triênio: caridade e colheita — a abundância se converte em doação.

Ao final de três triangulações (nove anos), o ciclo atinge sua plenitude simbólica: o número três elevado à potência do tempo humano.

3. A geometria do tempo: o quadrado e o pentágono

Além da triangulação trinitária, há formas temporais que exprimem o ritmo da vida política e social.

O quadrado, com seus quatro lados, representa o tempo do governo humano, geralmente medido em mandatos de quatro anos. É a figura da estabilidade temporal e da administração justa.

O pentágono, por sua vez, simboliza o homem completo — corpo e alma — e corresponde a ciclos de cinco anos, frequentemente associados ao período administrativo de repúblicas. É a medida do poder terreno que se manifesta na história.

Quando essas formas se combinam com a trindade do investimento, forma-se uma geometria do tempo providencial, na qual o homem se orienta simultaneamente pelo espiritual, pelo político e pelo econômico.

4. A mesocontagem: do nascimento à maioridade

Há, entre o instante e a eternidade, um tempo intermediário — o tempo humano propriamente dito. Ele é o espaço onde a Providência se faz visível na sucessão das gerações.

Do nascimento à maioridade de um filho — dezoito anos — há a duração de dois grandes ciclos trinitários de investimento. Cada um desses períodos marca uma etapa da formação moral e material da descendência.

Investir ao longo desse tempo é mais do que acumular capital: é medir o amor no eixo do tempo, imprimindo nas finanças domésticas um ritmo de continuidade e herança espiritual. Cada triênio se torna uma semente de eternidade, e o próprio crescimento do filho reflete a fecundidade da fidelidade paterna.

5. O tempo como vocação

Ao compreender o investimento sob a luz da Trindade, o homem deixa de ver o dinheiro como simples reserva de valor e passa a enxergá-lo como instrumento de redenção da matéria pelo espírito.

Quando o ciclo financeiro se torna expressão do ciclo moral, nasce uma nova forma de economia: não a do lucro pela avareza, mas a do lucro pela sabedoria, onde o rendimento é sinal da correspondência entre esforço humano e graça divina.

Assim, ao longo de triênios, quadriênios e quinquênios, o homem fiel transforma a incerteza econômica em caminho de santificação. Ele faz do contrato um pacto com a ordem, da poupança um ato de esperança, e do rendimento um testemunho de que o tempo pode, sim, ser redimido.

Sobre a mesocontagem do tempo na economia e na vida

A noção de mesocontagem do tempo nasce da consciência de que o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, participa do tempo não como quem é arrastado por ele, mas como quem o ordena. Se Deus criou o mundo em seis dias e repousou no sétimo, o homem, feito cooperador da Criação, deve distribuir o tempo de sua vida em ciclos ordenados, nos quais o trabalho e o repouso se alternem, e o fruto do esforço retorne em forma de sabedoria.

A mesocontagem é essa ordenação prudente do tempo vivido. Ela mede o progresso espiritual e material por intervalos suficientemente longos para permitir o amadurecimento, e suficientemente curtos para manter viva a vigilância. Enquanto o instante é o tempo da decisão e o destino é o tempo do julgamento, a mesocontagem é o tempo da formação.

No plano econômico, ela se manifesta no ciclo de investimento de nove anos — unidade simbólica e prática. Nove anos bastam para consolidar uma estratégia financeira, corrigir seus desvios e observar o fruto composto do trabalho. Renovados sucessivamente, três desses ciclos perfazem vinte e sete anos, o tempo de uma geração; dois, dezoito anos, o tempo da maioridade, quando o filho já pode colher a herança moral do pai. Assim, cada mesocontagem é também um ciclo pedagógico e genealógico: o pai trabalha, o filho aprende, e o tempo converte o esforço em herança.

Do ponto de vista espiritual, a mesocontagem reflete a economia kairológica da salvação: o tempo que é vivido com sentido de eternidade. Cada meta intermediária — um investimento, um livro, uma dívida convertida em aporte — torna-se sinal visível de um processo invisível de santificação. Porque o verdadeiro capital não é o dinheiro, mas o tempo bem usado. O tempo desperdiçado empobrece a alma; o tempo ordenado, mesmo que breve, enriquece eternamente.

Essa perspectiva faz da mesocontagem uma arte do governo interior. Ela obriga o homem a pensar o tempo não em termos de pressa ou procrastinação, mas de ritmo e fidelidade. Fidelidade à própria vocação, fidelidade aos frutos do trabalho e fidelidade àqueles que dependem de seu exemplo. Por isso, no pai de família, a mesocontagem assume um caráter sacramental: é o modo pelo qual ele governa o tempo de sua casa segundo o tempo de Deus.

A prudência, nesse contexto, não é mera cautela, mas inteligência temporal. É a virtude que ajusta o movimento da alma à realidade das circunstâncias, e a realidade das circunstâncias à finalidade divina. A prudência mede o tempo com amor, e o amor mede o tempo com paciência. Daí o sentido de “meso”: aquilo que está no meio, sustentando os extremos, ligando o instante à eternidade.