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segunda-feira, 9 de maio de 2016

Estudo de caso sobre usura e comércio em tempos de guerra

1) Para quem estuda a DSI, é interessante estudar a Teoria Geral dos Descobrimentos Portugueses, de Jaime Cortesão, como um estudo de caso. 

2) Desde o Antigo Testamento, há um ensinamento de que ninguém deve praticar usura com aquele que é irmão, aquele que ama e rejeita as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, sendo ele de sangue ou não.

3) A tomada de Constantinopla, em 1453 levou as Igrejas Católica, Copta e Nestoriana a se aliarem. E a Igreja, de modo a estimular a Cruzada, concedeu monopólio a quem encontrasse um caminho marítimo para as índias. 

4) Como as índias não eram cristãs, então buscou-se uma aliança contra os islâmicos - e a usura vinda do comércio serve para financiar a guerra justa contra os islâmicos. Trata-se de uma aliança provisória, feita com um propósito produtivo - e à medida que os aliados entrassem em conformidade com o todo que vem de Deus, eles passariam a ter as relações econômicas fundadas na prestação de serviço, postos que os povos passariam a amar e a rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento. E quem ama e rejeita as mesmas coisas sempre será beneficiado pela reciprocidade.

O que é verdade?

1) Há quem diga que verdade é aquilo que é o que é na realidade. Se Deus é o que é, então o que é conforme o Todo que vem de Deus é verdadeiro.

2) Aquilo que é conforme o Todo que vem de Deus resiste ao teste do tempo - nela, as coisas deixam de ser aparência e acabam se tornando a essência própria das coisas, a ponto de acabarem se tornando postulados necessários sem os quais nada mais faz sentido. O que é falso aparenta ser verdade, no começo, mas não resiste ao teste do tempo, já que a verdade vem à tona, com o passar do tempo.

Diálogo com Elton Kazmierczak

Dúvida de Elton Kazmierczak

Kazmierczak: Eu estou com uma dúvida sobre um dos artigos que você me passou para ler.

Dettmann: Qual é a dúvida, meu amigo?

Kazmierczak: 

1) Eu li naquele artigo que o empresário deve pagar um salário justo ao empregado de modo que ele consiga sustentar toda sua família.  

2) No caso de um microempresário que atua num mercado de vila, que não tenha condição de pagar um salário para seu empregado de modo a que ele possa sustentar toda sua família, como fica a questão do salário justo? E a Igreja possui algo escrito em favor dos empresários ou dos empregadores? Até agora só achei escritos em favor dos empregados.

Dettmann:

1) O que sei é que a microempresa é trabalhada por uma economia de família.

2) O que sei é que a questão dos direitos trabalhistas, tal como está enunciada nos escritos da Igreja, está relacionada a uma grande empresa, fundada no amor ao dinheiro. Ela está fundada em tempos atuais, como esses que estamos vivendo

Kazmierczak: Bom, eu não sou liberal - mas eu reparei essa questão e não vi nada sobre isso. Não estou defendendo empresários, tal como os liberais defendem - foi apenas uma dúvida. Além disso, não vejo empresários como inimigos, caso eles sejam honestos e justos.

Dettmann: Sua pergunta é muito bem-vinda. Vou pensar no assunto.

Kazmierczak:

1) Minha caminhada nessa questão da doutrina social da Igreja é recente.

2) O início se deu quando descobri que a Igreja sempre condenou o comunismo, mas eu descobri que a Igreja condenou o liberalismo - e isso não faz muito tempo que eu tomei conhecimento disso.

Dettmann: O liberalismo é sempre a mesma coisa - é pensamento único. Por isso, é tão nefasto quanto o comunismo.

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Diálogo sobre libertarismo e capitalismo

Kazmierczak: É certo dizer que liberalismo e capitalismo são a mesma coisa?

Dettmann:

1) O libertarismo (buscar a liberdade fora da liberdade de Cristo) nasceu da cultura da falta de fraternidade universal. 

2) Como a salvação se dá pela riqueza, que é construída através do trabalho, então o libertarismo é uma conseqüência do protestantismo. 

3) Como protestante não crê em fraternidade universal, então a usura é praticada de maneira indiscriminada. E o capitalismo precisa da usura, de modo a edificar ordem.

4) Por isso, libertarismo e capitalismo são essencialmente a mesma coisa.

5) O liberalismo verdadeiro decorre do fato de que Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Como Ele é a verdade, então Ele é necessariamente a liberdade. E Ele é magnânimo, pois edifica ordem.

6) E isso é o verdadeiro liberalismo, pois decorre do fato de se conservar a dor de Cristo a cada geração.

7) Como a caridade decorre do fato de que devemos amar uns aos outros tal como Jesus nos amou, então a caridade edifica ordem. E o dar sistemático a quem precisa leva ao distribuir. Eis o distributivismo.

Kazmierczak: Entendo perfeitamente. 

1) Eu achava que o capitalismo funcionasse como uma ferramenta, coisa que depende do modo como as pessoas o usam.

2) Eu achava que isso poderia isso entrar em harmonia com a moral e ética católica, assim como suas doutrinas relativas ao comércio, salário, empresas, relação empregado X empregador.  

3) Eu achava que o liberalismo e libertarianismo fossem a liberdade até suas últimas consequências, sem levar em consideração a moral e a ética.

4) Eu achava que, com exceção da usura, certas coisas no capitalismo poderiam ser preservadas, dentro da moral e da ética católica.

5) Mas vejo que estou errado.

6) Tenho uma outra dúvida: não há nenhuma maneira de catolicizar o capitalismo retirando a usura e inserindo o que é de natureza católica, como a moral e os ensinamentos de Cristo?

Dettmann: pelos ensinamentos da Bíblia, a usura só é permitida a quem não é irmão. É mais comum isso em comércio em época de guerra, em alianças temporárias feitas de modo a se enfrentar um inimigo em comum. O maior exemplo disso se deu no tempo das Grandes Navegações. Uma boa leitura na Teoria Geral dos Descobrimentos Portugueses, do Jaime Cortesão, explica bem essa questão.

Kazmierczak: Entendi. Vou aprofundar as leituras com o tempo. Não posso fazer isso neste ano, devido pois estou no meu último ano de faculdade.

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Diálogo sobre a distinção entre liberalismo e libertarismo:

Dettmann:

1) Existe um libertarismo moderado, clássico, historicamente revolucionário, que preparou o caminho pro comunismo, assim como um libertarismo mais recente e mais radical do que o clássico, que busca ser uma nova esquerda.

2) O moderado prepara o caminho pro radical, tal como ocorre nos islâmicos. Eles têm visão de longo prazo e dão sua vida pela causa, coisa que no momento não estamos fazendo.

Kazmierczak: 

1) Esse libertarismo moderno está mais como um anarquismo, praticamente.

2) No libertarismo, todos somos inimigos de todos, pois o mesmo prega a individualidade ao pé da letra, já que cada um tem a sua verdade.

Dettmann: Exatamente. Até porque não existe crença na fraternidade universal.

Kazmierczak: 

1) Toda noção de amor, caridade e afins é tomada como se fosse contrato e ação de troca, segundo eles - o que reduz tudo a uma mera visão utilitária das coisas. E não é à toa que isso acaba virando conservantismo, o leva as coisas a estarem à esquerda do Pai, no seu grau mais básico.

2) Dentro dessa lógica não haveria ajuda ou caridade, se não houvesse a possibilidade de o agente ganhar alguma coisa em troca do beneficiado - e pelo que sabemos da doutrina católica, nós devemos ajudar, mesmo que não se espere nada em troca, pois isso é bondade e edifica ordem - além disso, a caridade estabelece ordem pública, pois ela é salvífica - e a salvação do homem é algo urgente, necessário, pois se funda na conformidade com o Todo que vem de Deus. 

3) Enfim, José Octavio, eu gosto mesmo de ler seus posts, pois sempre aprendo muito com eles.

Rio de Janeiro, 9 de maio de 2016 (data da postagem original).

domingo, 8 de maio de 2016

Do hispanismo como antítese de Ourique

1) Se a realidade deve ser pensada dialeticamente, então o hispanismo é a oposição daquilo que se fundou em Ourique. A Espanha lançou-se em busca de si mesma e edificou As Espanhas, na América.

2) Como o mundo Hispano só pode ser explicado a partir da conjugação da Espanha com as Espanhas, fica fácil perceber que a Espanha acabou se tornando a porta de entrada do bolivarianismo na Europa, via Podemos.

3) Só o que foi fundado em Ourique pode deter os males do Hispanismo. E no Leste Europeu, a Polônia recebeu a missão de restaurar a Igreja a partir das visões de Santa Faustina - e uma vez restaurada a Igreja, as missões que Cristo deu a cada nação, por mandato do céu, serão restauradas: como o que recebemos de Ourique, por exemplo.

Do hispanismo como doença

1) Desde que a Espanha foi fundada, a cultura de fazer um país ir em busca de si mesmo é uma marca constante dessa cultura. Ela deixou marcas profundas na América Latina, através do Pan-Americanismo e da fundação da Pátria Grande Bolivariana.

2) A república portuguesa está infestada de políticos hispanistas - eles estão à esquerda de tudo aquilo que foi edificado em Ourique - por essa razão, são apátridas.

3) Tal como a União Ibérica fracassou, por se fundar no princípio de que é preciso fazer um país ir em busca de si mesmo - o que leva o país a ser tomado como se fosse religião, fora da conformidade com o Todo que vem de Deus -, o projeto de Pátria Grande Bolivariana também fracassará.

4) Aqui no Brasil, a alegação de que o país foi por um tempo possessão espanhola não merece prosperar. O Brasil nasceu em Ourique e esta terra é herdeira direta da missão de servir a Cristo em terras distantes, dento do contexto americano. Se o Império do Brasil for restaurado, a única república verdadeira que houve na América, esta nobre república que foi mais republicana que este regime maldito que nos domina há 127 anos, conseguirá destruir esse vício inerente da cultura hispânica, o que faria esses países se libertarem da chaga republicana.

5) Portugal precisa estudar a História da Restauração de 1640 como sendo a restauração daquilo que se estabeleceu em 1139. Ela pegou o ranço da cultura de fazer um país ir busca de si mesmo, durante o tempo em foi parte da União Ibérica - e foi por conta disso que Portugal foi perdendo sua grandeza e sua influência, ao longo do tempo. O país acabou servindo liberdade para o nada - e nunca mais foi o mesmo.

sábado, 7 de maio de 2016

O distributivismo é orgânico e imita os princípios inerentes da criação

1) Em polonês, as palavras rico (bogaty) e pobre (ubogi) derivam de bóg (Deus).

2) O rico é aquele que foi abençoado por Deus com dons de modo a servir à comunidade, de modo a edificar uma santa ordem na conformidade com o Todo que vem de Deus. A riqueza, tal como um dom, ele a recebeu de Deus - e por isso deve dar uma destinação justa, de modo a que a nação como um todo seja tomada como se fosse um lar em Cristo.

3) Como na biologia, a riqueza deve se dirigir a ambientes de maior concentração para ambientes de menor concentração, de modo a que todos possam prosperar juntos, através do bom trabalho e da mútua confiança. Ela deve se dar por meio do trabalho honesto e por meio de acordos cujo objeto não fira de morte à Lei Natural, lei essa que se dá na carne.

4) Esse tipo de ordem livre, voluntária, precisa de medidas legais e judiciais feitas de tal maneira a que as transações não sejam prejudicadas, seja pela desonestidade alheia ou por meio de ação revolucionária, que toma o direito, enquanto mecanismo de legítima defesa, como se fosse preconceito.

5) Dentro desses pressupostos, o papel do rico é amparar o pobre, de modo que ele possa progredir na vida - e quando progredir na vida, o pobre se torna rico.

6) O fundamento do distributivismo é orgânico. Se a vida na Terra teve um criador, então este modelo imita os princípios que são inerentes da própria criação. Se a água é vida, é riqueza, então ela deve sair de um ambiente de maior concentração para um ambiente de menor concentração. A mesma coisa deve se dar através do dinheiro.

7) Se o distributivismo é caridade sistemática, então o melhor ato de caridade que se pode dar é um emprego para o pobre de modo a que ele possa crescer como um ser humano digno. E é este o papel do rico, pois dedicar-se a uma atividade economicamente organizada é também um tipo de apostolado.
 
José Octavio Dettmann
 
Rio de Janeiro, 07 de maio de 2016 (data da postagem original).

quarta-feira, 4 de maio de 2016

O costume nasce do senso de se tomar o lugar onde se vive como se fosse um lar

1) Quando um lugar é tomado como se fosse um lar, as pessoas, por conta do senso de fraternidade universal, buscarão resolver seus conflitos de maneira amigável. 

2) Os primeiros acordos se fundarão na boa convivência, a partir dos direitos de vizinhança e nos direitos decorrentes da sociedade conjugal - esses acordos devem se pautar na conformidade com o Todo que vem de Deus e nenhum governo fora dessa conformidade com o Todo deve interferir naquilo que é sagrado, uma vez que tomar o país como se fosse religião é completamente incompatível com o senso de se tomar o país como se fosse um lar.

3) Para que essa cultura de acordo e colaboração surja, é necessário que o povo seja recristianizado novamente. E uma vez recristianizado o povo, devemos ter a garantia de que o governo não perverterá aquilo é de mais sagrado - e eis o verdadeiro fundamento da constituição escrita: ser subsídio de algo que se dá na carne. Ela deve ser feita de modo a garantir aquilo que será estabelecido por costume entre as pessoas que tomarão este país como se fosse um lar em Cristo. Eis o fundamento de uma verdadeira magna carta.

3) O processo será lento - e é através do tempo e das gerações que todos os vícios da mentalidade revolucionária serão decantados de modo a que haja uma ordem consuetudinária e foraleira. Esse processo durará gerações, mas é melhor do que uma invencionice modernista, pois a boa vida pede estabilidade e estrutura - e não instabilidade, fundada no amor ao dinheiro. 

4) O princípio da não-traição à verdade revelada observa um outro o princípio: nenhuma inovação legislativa será introduzida sem o consentimento de todos aqueles que tomam o país como se fosse um lar em Cristo, posto que as pessoas amam e rejeitam as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento. Toda mudança que não seja fundada em uma boa razão, fundada na lei natural, é traumática - isso sem contar que gera entropia. E essa entropia é que faz com que as pessoas percam o senso da fraternidade universal e passem a tomar o país como se fosse religião, em que tudo está no Estado e nada pode estar fora dele.

5) Sempre que surgir alguma circunstância nova, em que o conjunto das pessoas, por força do costume, não puder oferecer uma solução para aquele problema em particular, a lei municipal resolve o problema; se do conjunto dos municípios não houver uma solução, o Estado resolve; se do conjunto dos Estados nada puder ser resolvido, a federação resolve, com a moderação do Imperador. É por meio da subsidiariedade que se tem o senso de nacionidade.