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sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Como a classificação etária das obras literárias mata a imaginação dos seus filhos? Balanço de uma experiência pessoal

1) Quando era uma criança bem nova, meu pai costumava comprar os gibis do menino maluquinho para eu ler. Não entendia as piadas - só mais tarde, já adulto, é que comecei a entendê-las e a rir delas.

2) Aquele gibi não era para crianças - era voltado para os adultos. Mesmo que uma criança não tenha a compreensão necessária para entender o que está sendo lido, o que foi lido fica no imaginário daquela criança e vai ser usado como uma informação interessante ou engraçada acerca da vida quando ela meditar sobre isso, assim que ficar mais velha.

3) A classificação indicativa de idade mata a imaginação da criança. Ela desconsidera o aspecto imaginativo das leituras e sua relação com a memória de longo prazo. Sonegar a leitura de um texto por ser "inadequado" ao intelecto de uma criança gera entropia, ou perda de informação. E isso é criminoso.

4) Se eu tivesse filhos, não sonegaria aos meus filhos que lessem Camões no original, ainda que fossem muito novinhas. Quando tiverem uma certa idade, elas meditarão sobre as passagens do livro lido e compreenderão melhor as coisas. Digo isso por experiência própria, pois eu já fui criança e já li textos "inadequados" à minha idade. Aliás, considero um crime toda e qualquer adaptação - ela é feita para não se imaginar, para não se pensar no que foi escrito. 

5) Parece que as coisas foram feitas para emburrecer, no sentido de que não devemos pensar por nós mesmos. E isso é um crime contra a pátria e contra a civilização do país, feita para propagar os valores da Cristandade em terras distantes.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2020. 

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