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sábado, 18 de janeiro de 2014

Um pensamento de Dostoievski bem atual

"(...) - Nada mais se admite! - interrompeu entusiasmado Razumíkhin - E não estou mentindo!... Eu te mostro um livro deles: eles defendem tudo isso porque para eles "o indivíduo é vítima do seu meio" e nada mais! É a frase preferida! Daí se deduz diretamente que, caso se construa a sociedade de maneira correta, todos os crimes desaparecerão de um só golpe, uma vez que não haverá contra o que protestar e num instante todos os homens se tornarão justos.
 
Não se leva a natureza em conta, suprime-se a natureza, não se percebe a natureza! Para eles não é a humanidade - que se desenvolveu pela via histórica e viva até o fim - que vai finalmente converter-se numa sociedade normal, mas, ao contrário, é o sistema social que, saindo de alguma cabeça de matemático, vai imediatamente organizar toda a sociedade e num abrir e fechar de olhos a tornará justa e pura antes de qualquer processo vivo, sem qualquer via histórica e viva!
 
É por isso que eles detestam tão instintivamente a história: nela veem "só deformidades e tolices", e tudo se explica exclusivamente pela tolice! É por isso que detestam o processo vivo da vida: a alma viva é dispensável! A alma viva exige vida, a alma viva não obedece à mecânica, a alma viva é desconfiada, a alma viva é retrógrada! E mesmo que cheire a carniça, pode ser feita de borracha, mas aí não é viva, aí não tem vontade, aí é escrava, incapaz de rebelar-se. (...). O principal - não se precisa pensar! Todo o mistério da vida cabe em dois cadernos!" 

DOSTOIÉVSKI, Fiódor

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