"(...) - Nada mais se
admite! - interrompeu entusiasmado Razumíkhin - E não estou mentindo!...
Eu te mostro um livro deles: eles defendem tudo isso porque para eles "o
indivíduo é vítima do seu meio" e nada mais! É a frase preferida! Daí
se deduz diretamente que, caso se construa a sociedade de maneira
correta, todos os crimes desaparecerão de um só golpe, uma vez que não
haverá contra o que protestar e num instante todos os homens se tornarão justos.
Não se leva a natureza em conta, suprime-se a natureza, não se percebe a
natureza! Para eles não é a humanidade - que se desenvolveu pela via
histórica e viva até o fim - que vai finalmente converter-se numa
sociedade normal, mas, ao contrário, é o sistema social que, saindo de
alguma cabeça de matemático, vai imediatamente organizar toda a
sociedade e num abrir e fechar de olhos a tornará justa e pura antes de
qualquer processo vivo, sem qualquer via histórica e viva!
É por
isso que eles detestam tão instintivamente a história: nela veem "só
deformidades e tolices", e tudo se explica exclusivamente pela tolice! É
por isso que detestam o processo vivo da vida: a alma viva é
dispensável! A alma viva exige vida, a alma viva não obedece à mecânica,
a alma viva é desconfiada, a alma viva é retrógrada! E mesmo que cheire
a carniça, pode ser feita de borracha, mas aí não é viva, aí não tem
vontade, aí é escrava, incapaz de rebelar-se. (...). O principal - não
se precisa pensar! Todo o mistério da vida cabe em dois cadernos!"
DOSTOIÉVSKI, Fiódor
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