O Nubank está revolucionando o mercado financeiro no Brasil. E tudo começou com uma idéia e uma vontade de ir contra a maré. Para falar da empresa, é preciso antes contar um pouco da história de seu idealizador, David Véllez.
O colombiano teve um encontro por acaso com o Brasil. Em sua terra natal, Veles experimentou várias situações. Ele teve uma infância confortável em sua terra natal - seu pai era empresário e ele já começou a trabalhar por lá desde criança com o objetivo de juntar dinheiro para comprar vacas. Em pouco tempo, as vacas se tornaram um rebanho e pavimentaram o caminho de seu primeiro microempreendimento. Porém, tudo mudou após a família Véllez ter de sair do país às pressas por conta da escalada da violência dos cartéis na Colômbia. Além da violência direta, os cartéis passaram a dominar os negócios locais, acuando e chantageando os empresários locais. E por conta das dificuldades, a família teve de deixar o país. A história é contada com mais detalhes em um capítulo da série Brasil de Imigrantes, do History Channel.
Após ser obrigado a deixar sua terra natal, Davi se mudou para a Costa Rica e depois para os Estados Unidos, onde estudou na prestigiada Universidade de Harvard. Depois de se formar, ele trabalhou no mercado financeiro e em fundos de investimentos importantes como Atlantic Capital e Sequoia. Em um trabalho, ele foi designado para passar uma temporada no Brasil, mas logo que chegou por aqui teve uma experiência desagradável - ao tentar abrir uma conta no banco, ele sofreu com a porta giratória e todo o procedimento de segurança, o que o fez se sentir como se fosse um criminoso. Além disso, ele percebeu que era extremamente custoso e trabalhoso fazer qualquer operação financeira no Brasil, até mesmo abrir a conta em um banco. Foi diante dessas situações incômodas que ele vislumbrou uma oportunidade: "se o mercado é tão fechado e tão difícil, por que não criar um negócio para simplificar a vida dos consumidores brasileiros?"
Com essa ideia em mente, Vélez desenhou um modelo de negócio dentro do mercado bancário que pudesse ser viável e atrativo para o mercado brasileiro. O objetivo era criar uma instituição financeira que fosse enxuta e oferecesse o mínimo possível de burocracias, indo à contramão dos bancos tradicionais. Além disso, o banco seria totalmente digital, sem agências físicas ou áreas que pudessem criar burocracia. Todos os documentos seriam digitalizados e bastaria um cadastro simples usando o smartphone para conseguir os dados do cliente, sua foto e demais informações necessárias.
Para dar início à sua jornada, ele criou o projeto e de pronto ofereceria um único serviço, o de cartão de crédito. A ideia era criar um negócio que se sustentasse com um único produto para posteriormente incluir novos produtos e serviços. Porém, enquanto tentava alinhar o seu projeto de negócio, Vélez foi extremamente desencorajado pelas pessoas que ouviram sua ideia. Primeiro, julgavam que era impossível implementar uma ideia tão inovadora em um ambiente dominado por praticamente cinco ou seis bancos grandes. Além disso, várias pessoas e amigos disseram que empreender no Brasil por si só era uma loucura e no mercado bancário era ainda pior. Apesar das vozes contrárias, Davi conseguiu o apoio de duas pessoas que acreditaram em sua ideia. Do mercado bancário veio a então executiva Cristina Junqueira e do mundo das startups veio o americano Edward Wiebel, que seria o responsável pela tecnologia. Além da parceria, os dois traziam habilidades complementares e know-how que até então Davi não possuía. Com o time formado, Vélez foi até o Vale do Silício e se encontrou com seus antigos empregadores, com o objetivo de levantar investimentos para ter o capital inicial necessário para dar vida à sua ideia. O projeto foi encarado com otimismo e, dessa forma, o grupo conseguiu investimento para a ideia.
Até então, o projeto não tinha um nome fixo. A ideia inicial era que fosse EO2, uma referência a oxigênio, para transmitir a mensagem de que se tratava de uma empresa com o objetivo de oxigenar o mercado brasileiro. Porém, após uma consultoria, o nome escolhido foi Nubank, palavra que continha vários significados. Além de remeter à ideia de banco, também usava o NU, que pode ser assimilado tanto à nudez, pelo fato de ser um banco sem condições escondidas, e também pelo fato de que NU pode ser usado como sinônimo de novo. E foi assim que, em maio de 2013, foi criado o Nubank, um banco 100% digital e voltado para ser a instituição bancária do futuro.
O investimento inicial era substancial, mas nem de longe era relevante para uma empresa que desejava atuar no mercado bancário. Por conta disso, desde o início, a empresa começou pequena, enxuta e voltada para fazer o máximo possível com o mínimo possível de recursos, como é o clássico de uma startup, seguindo o manual, como é descrito pelos livros A Startup Enxuta e Startup Manual do Empreendedor.
O primeiro local de trabalho da empresa seria uma casa alugada na Califórnia. Na verdade, na Rua Califórnia, no bairro do Brooklyn, em São Paulo. A casa era antiga e relativamente barata, e serviria para abrigar as instalações da empresa e também poderia eventualmente acomodar temporariamente alguns colaboradores que se mudaram para São Paulo para tocarem o projeto. A estrutura aparentemente restrita da primeira sede do banco ajudava em alguns pontos, e era razoavelmente barata de se manter, o que era importante, pois cada centavo economizado era importante. Mas, em contrapartida, também dificultava a atração de profissionais qualificados. Mesmo após receberem o projeto e o compromisso da empresa, a maior parte dos entrevistados rejeitavam as propostas de emprego ao verem que o banco inovador era então (5:54) sediado em uma casa antiga, com pouca ou quase nenhuma estrutura.
Por conta dessa dificuldade, a equipe inicial tinha apenas 12 pessoas, contando com os três fundadores originais. Segundo Véllez, foi nesse primeiro grupo de pessoas que foi criada a cultura da empresa, focada em inovação, velocidade de implementação de ideias e, principalmente, foco na satisfação do cliente, com o objetivo principal de não fazer com que o cliente se sinta desprivilegiado a exemplo da forma como Davi se sentiu quando entrou pela primeira vez em um banco no Brasil. Essa cultura foi a base para as ações e (6:30) também para as contratações da empresa. Segundo Cristina Junqueira, a ideia sempre foi juntar pessoas com perfis diferentes para que a diversidade tornasse a empresa mais moderna, e que também tivesse uma visão mais ampla em relação ao mercado e as possibilidades de se encantar o cliente. O objetivo inicial da Fintech era prover serviços financeiros, sem a cobrança de tarifas mensais, como é praxe dos bancos tradicionais. Porém, o Nubank não poderia começar do topo e precisaria de um único produto para tentar por no papel a sua ideia de um dia se tornar um banco inovador, totalmente sem tarifas.
Para fazer o máximo com o mínimo possível, o Nubank começou oferecendo apenas o serviço de cartão de crédito com a bandeira MasterCard, para uma quantidade limitada de clientes. O serviço entrou em vigor em 2014, e em primeiro de abril daquele ano foi feita a primeira compra com o cartão do banco. Pelo serviço, o banco digital ganha parte do dinheiro relativo à porcentagem das bandeiras de cartão de crédito, e também quando há o parcelamento ou atraso no pagamento das faturas dos cartões, em que há o pagamento de juros, assim como no caso das demais instituições financeiras. Porém, segundo a empresa, com juros mais baixos do que a média do mercado, mantendo o objetivo de ser melhor do que os bancos tradicionais. Em pouco tempo, o nome da startup se espalhou como a empresa que distribuía cartões de crédito sem cobrança de anuidade. Por ter um cadastro extremamente simples, a operação conquistou rapidamente a atenção dos jovens, principalmente pelo fato deles serem os principais impactados pela cobrança de anuidade do cartão de crédito por parte dos bancos.
Outros jovens com dificuldade de aprovação de crédito pelas instituições financeiras também foram beneficiados, já que o cartão não estava atrelado a uma conta bancária como era a praxe bancária. Com essa popularização entre os jovens, houve uma viralização da marca, que ganhou as redes sociais e foi propagada como a moda entre os usuários. Todo mundo queria o cartão Nubank, que também era diferente dos demais e vinha na cor roxa, a cor escolhida para a empresa. Além disso, por não ter anuidade, o número de interessados se tornou enorme, já que o cartão estava ao alcance de qualquer um e poderia ser usado quando o usuário quisesse, sem ficar preso a nenhuma anuidade que o poderia fazer repensar se continuaria ou não com o serviço. Por conta desse buzz, a empresa passou a ter uma lista de espera de pessoas ávidas a se tornarem clientes do banco. Graças ao sucesso, em apenas um ano, a casa do Brooklyn ficou pequena demais para o negócio e então foi necessária uma nova sede, desta vez no coração de São Paulo, sendo capaz de abrigar o corpo de mais de 300 funcionários. Junto com a nova casa, veio também uma nova rodada de investimentos de fundos internacionais, aumentando ainda mais os recursos e o valor da empresa. Na boca do povo, o Nubank se tornou um dos primeiros exemplos de fintechs no Brasil.
As fintechs são empresas financeiras com base tecnológica, que buscam trazer inovações e tornar o mercado mais simples. Essas instituições vêm se multiplicando e conquistando cada vez mais o país. Além do Nubank, surgiram outras instituições semelhantes e, ao mesmo tempo, outras migraram de estruturas tradicionais para estruturas digitais, como o Banco Mineiro Intermedium, que passou a ser conhecido como o Inter, e hoje é um dos maiores concorrentes do Nubank. Em 2016, a empresa lançou o seu segundo produto, chamado de Rewards, um programa de pontos semelhante aos usados pelos demais cartões, em que o usuário pode ganhar pontos à medida que usa o cartão de crédito. Porém, ao contrário dos cartões normais, o programa é pago e hoje custa R$ 19,90 por mês, sendo totalmente opcional. Além disso, os pontos não expiram, uma outra inovação no mercado. Em 2017, houve mais um avanço na oferta de serviços com a criação da Nuconta, a conta corrente da instituição, também sem tarifas.
Graças ao seu pioneirismo, o Nubank saiu na frente dos concorrentes e conseguiu conquistar uma generosa fatia do mercado, chamando a atenção de mais investidores. Em fevereiro de 2018, a empresa se tornou um unicórnio, ou seja, uma startup com valor superior a 1 bilhão de dólares. A valorização total foi de 4 bilhões de dólares, consolidada após o aporte do fundo chinês Tencent, dono de vários negócios digitais, entre eles o WeChat, similar do WhatsApp, que é líder na China. O fundo adquiriu 5% do seu negócio. Em dezembro daquele ano, veio outro serviço, dessa vez o cartão com a funcionalidade de débito. Posteriormente, também foi integrada a função de saque do saldo da conta. Em 2019, a empresa se tornou internacional, abrindo filiais no México, sob a marca Nu e um escritório na Argentina. E também anunciou a implementação de um sistema de empréstimos que visa revolucionar o mercado, o Nu Financeira. A iniciativa cobra juros menores do que a média de mercado, mas o valor pode variar de usuário para usuário, de acordo com a recomendação e avaliação de crédito de cada um.
O Banco Central diz que o Nu Financeira cobra uma média de 3,52% de juros, enquanto a taxa média do mercado é de 6,71%. Em 2020, veio a primeira aquisição, a compra da Plataform Tech, uma empresa de engenharia de softwares. O objetivo é aumentar a tecnologia e a segurança embarcada no sistema da Fintech. Todo esse crescimento faz com que a empresa esteja avaliada em cerca de 10 bilhões de dólares. Porém, há críticas em relação a todo esse crescimento.
Ao longo de sua jornada, a empresa amarga prejuízos recorrentes - em 2019, a marca triplicou seu prejuízo em relação a 2018, amargando 313 milhões de reais em prejuízo. Em contrapartida, o faturamento quase que dobrou, de 1,23 bilhão de reais para 2,1 bilhões no último ano. Essa conta aparentemente deficitária é explicada pelos fundadores da empresa como proposital - para manter o crescimento da empresa em níveis exponenciais, o Nubank permanecerá deixando o lucro em segundo plano, com o intuito de investir tudo o que recebe e mais um pouco para continuar construindo o objetivo de abocanhar parte do mercado e se tornar o banco do futuro. Enquanto isso, os investidores continuam bancando a ideia. Outra entrave é a complexidade do mercado brasileiro, tanto em termos regulatórios quanto jurídicos. Porém, somente o tempo irá dizer se, de fato, a ideia dos fundadores será sustentável ao longo dos anos. Ainda assim, a empresa continua inovando e promete novidades para os próximos anos. Segundo eles, é apenas o começo.
De toda forma, o Nubank foi responsável por uma revolução no mercado bancário brasileiro.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=hmxQTtx3BXI
Nota do transcritor: em razão da transferência do Nubank para a sua nova sede na Inglaterra, achei por bem transcrever um vídeo que traz a História da Nubank, feita pela Passo a Passo Empreendedor, desde as suas origens.
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