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terça-feira, 10 de abril de 2012

Sobre a arte de debater - o que se deve e o que não se deve fazer

Um outro leitor me escreve isto:

José Octavio:

Respeito a sua opinião, mas discordo dela. Primeiro, percebe-se que seus argumentos se cercam de posições eminentemente elitistas, fundadas na perpetuidade do status quo de uma parte da sociedade que só colheram frutos. Aliás, parece-me que esse discurso é sempre de protecionismo dessa classe, sob a alegação de que o sistema de cota repercute negativamente na deficiência do ensino universitário brasileiro.

Sinceramente, não consigo entender o porquê de tanta resistência em aceitar uma medida de inclusão provocada pelo governo por meio de políticas públicas, tendo em vista que os negros pobres tiveram sempre uma posição excludente na sociedade. Entendo que as políticas públicas de cotas não deve ser uma medida perene, no entanto, relegar a positividade desse mecanismo, é garantir sempre a dominação da classe burguesa (4), em detrimento dos hipossuficientes (3). Podemos questionar ou afirmar, há negros ricos, há brancos pobres, tudo bem.... mas ser negro pobre no Brasil é a mesma coisa de ser branco pobre no Brasil? Ah, sim, enquanto o sistema de ensino não melhora o negro tem que continuar numa posição desprivilegiada na sociedade?
 Comentário:

1) O crítico me faz um argumento ad hominem, dizendo que o que defendo é elitista - logo, por essa via de acusação, eu sou elitista e protecionista (prova disso: o emprego do pronome "seus", ao se referir a mim). Não é forma apropriada de se argumentar, pois, ao desqualificar o que digo como elitista ou protecionista, eu sou necessariamente posto nessa vala comum, o que se caracteriza tática de má-fé intelectual, o que não é bom por si mesmo, pois não se ataca a suposta falácia do que digo - o que apenas se faz é desqualificar as idéias do expositor ou o próprio expoisitor, no caso eu próprio. Logo, o que digo se mantém válido por si mesmo, mas os leitores vão preferir acreditar na aparência, de que sou elitista, à verdade, tal como expus nos posts anteriores (http://adf.ly/78JBt e http://adf.ly/7CNED)

2) Mesmo fundamentando o que digo,  a acusação do crítico de que sou elitista é peremptória. Não há argumento fundamentando o porquê do meu erro. Logo, isso confirma o ponto 1;

3) Mesmo que a política de cotas não seja perene, o dano aos que foram beneficiados pelas cotas são perenes, estigmatizantes - e isso, sim, confirma o argumento de que cota é uma forma de racismo dissimulada. É uma forma de manter gente na pobreza - uma forma qualificada e sofisticada de se construir um curral eleitoral.

4) Além disso, antes de se falar em dominação burguesa, é preciso ver o que ou quem é burguesia, para Karl Marx. Eu li O Manfiesto Comunista, fonte desse argumento, e não encontrei conceito nenhum de burguesia - o que se vê é "a burguesa fez isso, a burguesia fez aquilo", mas quem é burguesia, isso ele não fala. Logo, o argumento é inválido, por ser meramente retórico. Para quem estuda processo penal, o acusado deve ser identificado ou suficientemente descrito, antes de se acusá-lo pelo suposto crime que este praticou - do contrário, a acusação será nula. Como pode haver bom promotor, se ele segue essa linha de raciocínio? E muitos dos membros do MP têm ideologia na cabeça - e isso é fato.

5) Pessoas não se dividem em classes - não vivemos em sociedade de castas, como na Índia; lá a pessoa se mantém pobre e discriminada, não importa o que de bom ela faça. Aqui, por enquanto, já que a nossa sociedade é capitalista, se uma pessoa é pobre, ela pode trabalhar duro, se esforçar e mudar de vida. Muita gente hoje faz isso - e as pessoas de bem se inspiram nos vencedores e não nos perdedores. E isso inclui muitos negros que vieram de favela e ficaram bem de vida, seja estudando ou jogando futebol. E isso demonstra a falácia do argumento de que o que defendo é, necessariamente, elitista.

6-A)  Agora, passo a responder a esta questão: "ser negro pobre no Brasil é a mesma coisa de ser branco pobre no Brasil?" A respostá é: Sim, a situação de miserabilidade e de indigência humana é indiferente quanto à cor - isso é fato natural. O fato de os negros serem maioria da população miserável não os coloca em situação especial que a dos não negros que estão na mesma condição. Logo, a cor da pele se torna privilégio circunstanciado, e isso é uma forma de implantar, pela via da tirania, um sistema de castas semelhante ao da Índia - por isso, as cotas, sim, ferem o princípio da igualdade perante a lei, bem como o livre acesso aos cargos públicos, através do exame em provas e provas e títulos, como manda a Constitiuição. Se o STF declarou a constitucionalidade das cotas, violou o princípio da não-traição - e, por isso, rasgou a constituição. Por essa razão, a autoridade desta corte não existe, já que nada está acima dele, já que Deus é irrelevante para esses homens (afinal, eles não disseram que o preâmbulo não tinha relevância constitucional?). Por causa disso, não passam de verdadeiros tiranos, usando toga.

6-B) Além disso, um presidente dos EUA, o Obama, foi eleito por causa da cor da pele - por causa dessa tal "dívida histórica", promovida pelo politicamente correto. Obviamente, quem se elege assim tem carta branca para governar o país de modo despótico, já que não terá o compromisso moral de estar à altura do cargo que desempenha e nem de respeitar as leis que são anteriores a ele no cargo, visto que não tem nada a provar à população que é honesto, já que nada concorreu para fazer alguma coisa de bom pela sociedade, posto que o cargo lhe foi entregue de mão beijada. Isso é próprio do ser humano, isso que eu falo, não importa se é negro, amarelo, branco ou verde com bolinhas.

7) Destaco, por fim, este ponto: "enquanto o sistema de ensino não melhora o negro tem que continuar numa posição desprivilegiada na sociedade?" Atentem para o caráter retórico dessa pergunta - isso merece duas respostas: uma preliminar e outra de mérito.

7-A) Preliminarmente. eu nunca defendi que o negro deve continuar pobre (Deus me livre e guarde!). Isso decorre daquilo que fui acusado no ponto 1 - e essa pergunta retórica é prova inequívoca de má-fé - pois, para quem assim argumenta, para existir ricos, é preciso haver pobres, ainda que pela via forçada. E um desses argumentos é a tal da teoria da exploração, há mais de cem anos refutada por Eugen von Böhm-Bawerk - e isso foi convertido em bases culturais. Sobre isso, eu falarei num próximo post, tão logo eu possa.

7-B) O fato de haver pobres se deve a isto:

1) O Governo não deixa os mais ricos empreenderem, visto que há uma violenta carga tributária.

2) O Governo não se preocupa com o futuro dos mais jovens, visto que acabaram com a autoridade dos professores e com a repetência escolar. Além disso, construir uma escola não é sinônimo de garantir ensino decente. 

3) Some-se a isso o fato de que o Governo criminaliza o homeschooling, fazendo com a que a criança fique à mercê de um sujeito que acha que sabe tudo e a única coisa que este sabe fazer (e vai fazer!) é vociferar contra os EUA, contra o capitalismo e contra o Cristianismo, sob a alegação de que isso é "ensino crítico". Que coisa boa alguém pode aprender de um sujeito maledicente?  

4) Há um argumento que não se vê: onde o governo não faz aquilo que lhe compete, as pessoas, por sua própria iniciativa, estão buscando a solução, para os seus filhos, já que educação é um ato de amor e de caridade intelectual. As pessoas estão buscando construir escolas comunitárias para os seus filhos estudarem perto de casa, já que só tem vaga em escola pública longe de onde eles moram, pagando professores paticulares para isso - além disso, há municípios onde o transporte público não é gratuito para os estudantes da rede pública municipal, ou estadual, o que incentiva a construção dessas escolas comunitárias. Além disso, há um movimento em prol do homeschooling, desde a condenação do casal Nunes, já que não é função da escola formar cidadãos, posto que quem forma indivíduos, no plano moral, é a família, posto que é a Igreja doméstica.  Um exemplo dessa iniciativa é o Escola sem Partido (link para acessar: http://adf.ly/RRqk)

5) Quanto mais se tira da família a responsabilidade natural de se formar indivíduos ajustados e responsáveis, mais intervenção do Estado na sociedade ocorre - a tal ponto que ela destrói todos os valores morais que são a base de um país, pela relativização desses valores - e os marxistas, desde Gramsci, apontam que os valores "burgueses" vêm da Igreja de Cristo. E tudo isso contribui para a anarquia, pura e simplesmente. 

Eis um exemplo do que se deve e o que não se deve fazer, ao argumentar. 

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 10 de abril de 2012 (data da postagem original)

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