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terça-feira, 3 de junho de 2025

A Popularidade de Bolsonaro e O Impacto na Eletrização da Política Brasileira: Uma Análise à Luz da Teoria das Elites

Introdução

O fenômeno Jair Bolsonaro, que culminou na sua eleição à presidência da República em 2018, não pode ser compreendido apenas pelos parâmetros tradicionais da ciência política brasileira. Ele representa, na verdade, um ponto de inflexão histórica no sistema político nacional, onde, pela primeira vez, um candidato chega ao poder sem o endosso direto das elites tradicionais — políticas, econômicas, midiáticas e culturais.

Esse processo não é um fenômeno isolado do Brasil, mas está inserido em uma dinâmica global mais ampla, onde a transformação tecnológica, especialmente a ascensão das redes sociais, rompeu os monopólios tradicionais da comunicação e da formação da opinião pública. Tal fenômeno dá origem ao que podemos chamar de eletrização da política, isto é, uma forma de mobilização popular que contorna os canais institucionais convencionais, operando de maneira direta, emocional e viral.

Para compreender adequadamente esse processo, é necessário recorrer à teoria das elites, desenvolvida por pensadores como Vilfredo Pareto, Gaetano Mosca, James Burnham e José Ortega y Gasset, além dos diagnósticos mais recentes oferecidos por Olavo de Carvalho, cuja atuação foi central para a articulação do campo cultural conservador no Brasil.

As redes sociais e a ruptura com a elite

A ascensão de Bolsonaro não teria sido possível sem a mediação das redes sociais. Esses novos instrumentos tecnológicos funcionaram como dispositivos de desintermediação, permitindo que o candidato falasse diretamente ao povo, sem precisar submeter-se aos filtros tradicionais da grande imprensa, dos partidos, das universidades ou de outras instituições da elite.

Conforme diagnosticou Ortega y Gasset em A Rebelião das Massas, quando as massas passam a ter acesso irrestrito aos meios de expressão e influência, elas desafiam a autoridade das minorias qualificadas que tradicionalmente conduziam os destinos das sociedades. O problema, segundo Ortega, é que a massa, quando se insurge sem disciplina formativa, tende a se comportar de maneira anárquica e destrutiva.

No entanto, o caso de Bolsonaro não é meramente uma rebelião das massas, mas a manifestação de um vácuo de representação, como já haviam descrito Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto. Para Mosca, toda sociedade é, na prática, governada por uma minoria organizada — a elite. Quando essa elite se torna disfuncional, desconectada dos valores, interesses e necessidades da maioria, abre-se espaço para a emergência de lideranças alternativas.

Pareto, por sua vez, descreveu esse fenômeno como a circulação das elites: quando uma elite dominante perde suas virtudes, sua capacidade de coerção ou de consenso, ela é, inevitavelmente, substituída por uma nova elite. Esse processo, muitas vezes, se dá de forma tumultuada, e não necessariamente garante uma elite superior à anterior, mas simplesmente uma mudança nos ocupantes do poder.

No Brasil, as redes sociais operaram como catalisadoras desse processo. Elas revelaram uma fraqueza estrutural na elite política, cultural e econômica, que, profundamente desacreditada, não conseguiu barrar a ascensão de um candidato oriundo de fora dos seus quadros tradicionais. Como bem observa James Burnham em A Revolução dos Gerentes, as elites modernas costumam ser compostas por tecnocratas, burocratas e especialistas. No entanto, quando esses grupos se tornam excessivamente fechados e autoreferenciais, desconectando-se da realidade popular, surge o risco de serem derrubados por movimentos de contestação radical.

A improvisação partidária e o voto popular direto

O sistema partidário brasileiro rejeitou Bolsonaro de forma quase unânime. Nenhum dos grandes partidos tradicionais quis endossar sua candidatura. Isso obrigou a criação, às pressas, de uma estrutura partidária mínima, suficiente apenas para formalizar sua inscrição nas eleições. Esse fato é, em si mesmo, revelador: o poder institucionalizado, na forma dos partidos, perdeu a capacidade de controlar o acesso ao governo.

Bolsonaro, portanto, foi um candidato eleito diretamente pelo povo, contornando os vetores clássicos da intermediação política. Isso não significa que sua eleição tenha ocorrido fora da lógica das elites, mas sim que representou a emergência de uma nova elite, cuja formação se deu fora dos círculos tradicionais — uma elite midiatizada, digital, composta por influenciadores, operadores culturais independentes, microempreendedores de conteúdo e movimentos organizados nas plataformas online.

Essa configuração confirma a tese de Pareto sobre a inevitabilidade da circulação das elites, bem como valida a crítica de Burnham à burocracia moderna, que, quando perde seu dinamismo, é fatalmente atropelada por formas alternativas de mobilização.

O Papel de Olavo de Carvalho

Dentro desse contexto, é impossível não mencionar o papel desempenhado por Olavo de Carvalho, que, durante décadas, atuou como formador de uma nova camada cultural conservadora no Brasil. Seus escritos, aulas e intervenções públicas contribuíram decisivamente para a formação intelectual de muitos dos atores que viriam a compor a base de apoio cultural, político e até técnico do governo Bolsonaro.

Olavo compreendia profundamente a dinâmica da guerra cultural e a necessidade de atacar os pilares intelectuais da elite hegemônica, especialmente aqueles fincados no marxismo cultural, na mídia corporativa e nas universidades públicas. Seu trabalho é, sob esse aspecto, um dos mais notáveis exemplos contemporâneos da formação de uma elite alternativa, como exigem os processos de circulação descritos por Pareto e Mosca.

Conclusão

A eleição de Jair Bolsonaro representou um fenômeno inédito na história política brasileira: a emergência de uma liderança presidencial sem o apoio prévio das elites tradicionais. Esse evento foi catalisado pela transformação tecnológica das redes sociais, que permitiu uma forma direta de comunicação e mobilização popular.

Contudo, à luz da teoria das elites, fica claro que esse fenômeno não aboliu o governo das elites, apenas promoveu sua substituição. A velha elite, desconectada e decadente, foi desafiada por uma nova elite, formada a partir da interseção entre movimentos culturais, operadores digitais e lideranças populares emergentes.

Trata-se de um fenômeno que revela tanto as potencialidades quanto os riscos das democracias eletrificadas: ao mesmo tempo em que corrige desvios das oligarquias estabelecidas, também abre caminho para formas de personalismo, instabilidade e conflito cultural intenso.

Bibliografia

  • BURNHAM, James. A Revolução dos Gerentes. Lisboa: Antígona, 1941.

  • MOSCA, Gaetano. A Classe Política: Um Estudo da Sociologia dos Governos. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985.

  • ORTEGA Y GASSET, José. A Rebelião das Massas. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

  • PARETO, Vilfredo. Ascesa e Declínio das Elites. Lisboa: Presença, 1991.

  • CARVALHO, Olavo de. O Imbecil Coletivo. Rio de Janeiro: Record, 1996.

  • CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições. Rio de Janeiro: Record, 1995.

  • CARVALHO, Olavo de. A Nova Era e a Revolução Cultural. Campinas: Vide Editorial, 2012.

Profanacyjny Mesjanizm: Uzurpacja Miejsca Boga w Dyskursie Politycznym

Wstęp: Powrót Fałszywych Mesjaszy we Współczesnej Polityce

Na przestrzeni całej historii ludzkości, gdy narody oddalały się od Boga, zawsze pojawiali się fałszywi mesjasze — ludzie, którzy z pychy i obłędu stawiali się na miejscu Boga, przypisując sobie zadanie zbawienia ludzkości. Idolatria władzy, pieniędzy i samego człowieka zawsze rodziła przywódców, którzy zamiast służyć, chcą być obsługiwani, wywyższani i czczeni.

To zjawisko, które można nazwać profanacyjnym mesjanizmem, ujawnia się szczególnie wyraźnie, gdy liderzy polityczni zaczynają posługiwać się językiem religijnym, aby usprawiedliwić swoje działania i ambicje, odwracając boski porządek, przedstawiając siebie jako narzędzia odkupienia, zbawienia lub nawet „cudów”.

W tym kontekście przeanalizujemy — w świetle teologii, filozofii i historii — niedawne wypowiedzi prezydenta Brazylii Luiza Inácio Luli da Silvy, który komentując budowę kanału wodnego São Francisco, oświadczył wprost, że Bóg stworzył suszę po to, aby on mógł ją rozwiązać.

1. Wypowiedź Luli: Proklamacja Społecznego Mesjasza

Oto bezpośredni cytat z przemówienia Luli:

„To jest cud, który wydarzył się dzięki facetowi, który przeżył suszę. W wieku siedmiu lat opuściłem Caetés i wyjechałem do São Paulo z matką i ośmiorgiem rodzeństwa, aby nie umrzeć z głodu i pragnienia. I ten Nordestino (mieszkaniec północno-wschodniej Brazylii), który uciekł przed suszą, wraca po 150 latach i realizuje przekopanie kanału z São Francisco, aby dostarczyć wodę Brazylijczykom. Bóg stworzył suszę, aby to ja ją rozwiązał.
(Przemówienie podczas inauguracji kanału São Francisco, Pernambuco, 2024)

Widać tu wyraźnie budowanie narracji mesjanistycznej, w której Lula stawia się w roli wybrańca, tego, który przewyższa samego Boga. W praktyce sugeruje, że Bóg stworzył problem, którego nawet On nie rozwiązał — ale Lula to zrobił.

To całkowite odwrócenie ontologicznego porządku między Stwórcą a stworzeniem jest głęboko bluźniercze i stanowi jawną manifestację tego, co tradycja chrześcijańska nazywa diabelską pychąsuperbia diabólica — tą samą, która skłoniła Lucyfera do powiedzenia: „Non serviam” — „Nie będę służył” (por. Jeremiasz 2,20).

2. Odniesienia Teologiczne: Pokusa Węża

a) Korzeń pychy: „Będziecie jako bogowie” (Rdz 3,5)

W Księdze Rodzaju wąż mówi do Ewy:

„Bóg bowiem wie, że gdy zjecie z niego, otworzą się wam oczy i będziecie jak Bóg, znający dobro i zło.”
(Rdz 3,5)

To jest istota każdej lucyferycznej pokusy: obietnica absolutnej autonomii, ubóstwienia siebie bez Boga. Gdy Lula mówi: „Bóg stworzył suszę, abym ja ją rozwiązał”, wchodzi dokładnie w tę demoniczną logikę, sugerując, że Boża Opatrzność jest niewystarczająca, niesprawiedliwa lub okrutna — i że to człowiek (on sam) musi naprawić rzekome „błędy” Boga.

b) Chrystus — Prawdziwy Mesjasz: Pokora i Ofiara

W przeciwieństwie do ludzkiej pychy, Chrystus nie przedstawia się jako rozwiązywacz problemów doczesnych, ale jako Ten, który odkupuje ludzkość z grzechu. Jak pisze św. Paweł:

„On, istniejąc w postaci Bożej, nie skorzystał ze sposobności, aby na równi być z Bogiem, lecz ogołocił samego siebie, przyjąwszy postać sługi, stawszy się podobnym do ludzi.”
(Flp 2,6-7)

Chrystus uniża się, oddaje się w ofierze. Fałszywy mesjasz przeciwnie — wywyższa się, gloryfikuje i domaga się czci.

3. Odniesienia Filozoficzne: Człowiek, który Chce Być Bogiem

a) Krytyka Pychy u Św. Augustyna i Św. Tomasza z Akwinu

Św. Augustyn w „De civitate Dei” (O Państwie Bożym) pisze, że pycha jest korzeniem każdego grzechu. To przez pychę ludzie budują „Państwo Ludzkie” w opozycji do „Państwa Bożego”, szukając własnej chwały, a nie chwały Boga.

Św. Tomasz z Akwinu w „Summa Theologica” analizuje grzech upadłych aniołów i wyjaśnia, że pycha jest tym grzechem, który popycha stworzenie do tego, by chciało być jak Bóg — ale bez Boga.

b) Nietzsche i Nadczłowiek: Śmierć Boga i Kult Człowieka

W XIX wieku Nietzsche ogłasza „śmierć Boga” i zapowiada nadejście Übermenscha — nadczłowieka, który sam stworzy swoje własne wartości, bez odniesienia do Boga.

To jest dokładnie ta sama struktura ideologiczna, która stoi za wypowiedzią Luli: skoro Bóg nie rozwiązał problemu, skoro Bóg stworzył problem (suszę), to nadczłowiek — polityk — ma go rozwiązać.

Tutaj polityk przestaje być sługą stworzonego porządku, a staje się nowym stwórcą porządku sztucznego, w którym państwo zajmuje miejsce Boga.

4. Odniesienia Historyczne: Polityczny Mesjanizm i Jego Tragedie

a) Rewolucja Francuska: Ustanowienie Bogini Rozumu

W 1793 roku, w katedrze Notre-Dame w Paryżu, rewolucjoniści usunęli krzyż i ustawili na ołtarzu kobietę — uosobienie Bogini Rozumu. To był symboliczny akt zastąpienia kultu Boga kultem człowieka, techniki i polityki.

Rezultatem był Terror — gilotyny na placach i prześladowania chrześcijan.

b) Marksizm i Socjalizm Naukowy: Zbawienie Bez Boga

Marksistowski socjalizm jest w swej strukturze profanacyjnym mesjanizmem. Zastępuje Boga — historią, Opatrzność — walką klas, a Zbawienie — ziemskim rajem komunizmu.

Efektem było ponad 100 milionów ofiar w XX wieku — ofiar szaleństwa ludzi, którzy chcieli zbawić świat bez Boga.

c) Latynoamerykański Populizm: Uosobienie Państwa

W XX wieku przywódcy tacy jak Perón w Argentynie, Chávez w Wenezueli, a dziś Lula w Brazylii, przekształcili postać polityka w niemal świętą istotę, której należy się miłość, oddanie i wdzięczność.

To już nie jest polityka. To jest idolatria państwowa.

5. Sąd Tradycji Chrześcijańskiej: Polityk, który Chce Być Bogiem

Nauczanie chrześcijańskie jest absolutnie jasne:

Nie będziesz miał bogów cudzych przede mną.(Wj 20,3)

Przeklęty człowiek, który polega na człowieku i z ciała czyni swoje oparcie.(Jr 17,5)

Jeśli wam powiedzą: Oto tu jest Mesjasz albo tam — nie wierzcie. Powstaną bowiem fałszywi mesjasze i fałszywi prorocy.(Mt 24,23-24)

Polityk, który przedstawia się jako zbawiciel, nie jest tylko oszustem. Jest znakiem czasów, prekursorem ostatecznej apostazji.

Zakończenie: Tylko Chrystus Zbawia

Żadna polityka, żadna ideologia, żadna ludzka działalność nie może rozwiązać fundamentalnego problemu ludzkości: grzechu. Susza, głód i nędza są konsekwencjami zranionego grzechem pierworodnym świata, a nie kaprysami Boga.

Prawdziwe rozwiązanie nie pochodzi z pałaców, trybunałów ani parlamentów. Pochodzi z Kalwarii. Pochodzi od ukrzyżowanego, umarłego i zmartwychwstałego Chrystusa. Tylko On może powiedzieć:

Na świecie doznacie ucisku, ale odwagi — Ja zwyciężyłem świat.(J 16,33)

Kiedy więc człowiek ma czelność mówić, że Bóg stworzył suszę, aby on ją rozwiązał, to nie jest tylko polityczna arogancja. To jest — teologicznie rzecz biorąc — bluźnierstwo, próba zasiadania na tronie Boga.

Niech chrześcijanie czuwają. Czasy są złe, a fałszywi mesjasze chodzą już pośród nas.

📖 Źródła teologiczne i biblijne

  • Pismo Święte. Tłumaczenie Konferencji Episkopatu Brazylii (CNBB). São Paulo: Wydawnictwo Paulus, 2001.

  • Święty Augustyn. O Państwie Bożym. Petrópolis: Wydawnictwo Vozes, 2012.

  • Święty Tomasz z Akwinu. Suma Teologiczna. Wydanie dwujęzyczne. São Paulo: Loyola, kilka tomów.

  • Katechizm Kościoła Katolickiego. Wydanie typiczne watykańskie. São Paulo: Wydawnictwo Loyola, 1997.

  • Benedykt XVI (Joseph Ratzinger). Wprowadzenie do chrześcijaństwa. São Paulo: Planeta, 2007.

  • Benedykt XVI (Joseph Ratzinger). Jezus z Nazaretu. Trylogia. São Paulo: Planeta, 2007–2012.

  • Sobór Watykański II. Konstytucja duszpasterska Gaudium et Spes (1965) oraz Konstytucja dogmatyczna Lumen Gentium (1964). Dokumenty Soboru Watykańskiego II. 

📚 Źródła filozoficzne

  • Friedrich Nietzsche. Tak mówił Zaratustra. Przekład: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

  • Friedrich Nietzsche. Wesoła Nauka. Przekład: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

  • Eric Voegelin. Nowa Nauka o Polityce. Brasília: Wydawnictwo Uniwersytetu w Brasílii, 1982.

  • Eric Voegelin. Religie polityczne. São Paulo: É Realizações, 2012.

  • Russell Kirk. Polityka Roztropności. São Paulo: É Realizações, 2013.

  • Roger Scruton. Zalety Pesymizmu: i niebezpieczeństwo fałszywej nadziei. São Paulo: É Realizações, 2011.

  • José Ortega y Gasset. Bunt Mas. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

📜 Źródła historyczne

  • François Furet. Rewolucja Francuska. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

  • Simon Schama. Obywatele: Kronika Rewolucji Francuskiej. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

  • Stéphane Courtois (red.). Czarna Księga Komunizmu. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

  • Ernesto Laclau. Rozum Populistyczny. São Paulo: Três Estrelas, 2013.

  • Hannah Arendt. Korzenie totalitaryzmu. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

  • Plínio Corrêa de Oliveira. Rewolucja i Kontrrewolucja. São Paulo: Wydawnictwo Vera Cruz, 1959.

  • Olavo de Carvalho. Ogród Udręk. São Paulo: Vide Editorial, 2015.

  • Olavo de Carvalho. Kolektywny Imbecyl. Rio de Janeiro: Record, 1996.

🗒️ Dokumenty i oświadczenia

  • Luiz Inácio Lula da Silva. Przemówienie podczas otwarcia prac nad przekierowaniem wód rzeki São Francisco, Pernambuco, 2024. Dostępne w mediach cyfrowych i publicznych archiwach brazylijskich mediów.

Da inflação ao cashback: duas gerações, dois modos de relacionar-se com o consumo

Minha mãe é filha da inflação. Cresceu e construiu sua vida adulta num Brasil onde quem adiasse o consumo perdia. A regra era simples, cruel e implacável: "Compre hoje, pois amanhã estará mais caro." Esse raciocínio não era fruto de imediatismo inconsequente, mas sim de uma estratégia de defesa, quase instintiva, contra o empobrecimento progressivo que a inflação impunha a todos.

Por isso, até hoje, mesmo vivendo em um ambiente de relativa estabilidade monetária, sua lógica permanece a mesma: resolver as demandas domésticas com rapidez, comprar o que é necessário sem esperar, antes que o preço suba — mesmo quando, muitas vezes, ele não sobe.

Eu, no entanto, sou filho de outro tempo. Fui educado na lógica da estabilidade relativa, dos programas de pontos, dos cashbacks e dos aplicativos que transformam consumo em acúmulo de capital simbólico — milhas, recompensas, crédito, vantagens. Minha mentalidade foi formatada não pela urgência, mas pelo planejamento.

Quando vou às compras, meu primeiro gesto é abrir o Livelo. Meu carrinho está sempre vazio, porque não carrego desejos impulsivos, mas uma lista de intenções organizadas na seção “comprar mais tarde”. Ali, reviso o que é prioridade, comparo, escolho fornecedores que me oferecem o maior retorno em pontos, cashback ou milhas. Só então efetuo a compra, dentro dos recursos que possuo e da estratégia que tracei.

O sistema de fidelidade, como o Livelo, não premia quem compra movido pela necessidade imediata, mas sim quem planeja, compara, e faz o tempo trabalhar a seu favor. Na lógica inflacionária, o tempo era um inimigo; na lógica do planejamento financeiro, o tempo se torna um aliado.

No fundo, tanto minha mãe quanto eu agimos de forma racional — cada um dentro da moldura histórica que o formou. Ela, para se proteger do empobrecimento gerado pela inflação. Eu, para transformar consumo em acúmulo de capital, seja ele financeiro, simbólico ou cultural.

Essa diferença revela mais do que um contraste geracional. Ela expressa uma mudança de mentalidade econômica, que reflete a transição do Brasil de uma economia de defesa — onde todos corriam para não perder — para uma economia de estratégia, onde ganha quem sabe esperar, comparar e acumular.

O curioso é que o Brasil de hoje oscila entre esses dois mundos. Quem não percebe isso vive preso a hábitos que já não oferecem as mesmas vantagens. Quem compreende essa dinâmica aprende que, no jogo econômico atual, não basta trabalhar — é preciso saber transformar consumo em capital, seja ele material ou imaterial.

segunda-feira, 2 de junho de 2025

O Messianismo Profano: A Usurpação do Lugar de Deus no Discurso Político

Introdução: O Ressurgimento dos Falsos Messias na Política Moderna

Em todos os tempos da história humana, quando as nações se afastaram de Deus, surgiram falsos messias — homens que, por soberba e delírio, se colocaram no lugar de Deus, arrogando para si a tarefa de salvar a humanidade. A idolatria do poder, do dinheiro e do próprio homem sempre produziu líderes que, longe de servir, desejam ser servidos, exaltados e adorados.

Este fenômeno, que pode ser denominado messianismo profano, manifesta-se de forma especialmente clara quando líderes políticos passam a utilizar uma linguagem religiosa para justificar seus atos e suas ambições, invertendo a ordem divina ao apresentar-se como agentes de redenção, de salvação ou de "milagres".

É nesse contexto que analisaremos, à luz da teologia, da filosofia e da história, as declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, ao comentar as obras da transposição do Rio São Francisco, disse explicitamente que Deus criou a seca para que ele viesse resolvê-la.

1. A Fala de Lula: A Proclamação do Messias Social

A transcrição direta do discurso de Lula é reveladora:

"Esse é um milagre que aconteceu com um cara que viveu a seca. Com sete anos de idade, saí de Caetés para São Paulo com a mãe e oito filhos num pau de arara para não morrer de fome e não morrer de sede. E esse nordestino, que saiu daqui para não morrer de sede, volta 150 anos depois e faz a transposição do São Francisco para trazer água para o povo brasileiro. Deus criou a seca, para que eu viesse resolvê-la."
(Discurso na inauguração das obras da transposição, 2024, Pernambuco)

Aqui se percebe claramente a construção de uma narrativa messiânica, em que Lula se coloca como o agente escolhido, aquele que supera até o próprio Deus. Na prática, ele sugere que Deus criou um problema, mas que ele, Lula, com sua ação política, resolve aquilo que nem Deus teria resolvido.

Essa inversão da ordem ontológica entre Criador e criatura é profundamente blasfema e representa uma clara manifestação daquilo que a tradição cristã denomina como superbia diabólica, a soberba luciferiana que levou Lúcifer a dizer: "Non serviam""Não servirei." (Jeremias 2, 20)

2. Referências Teológicas: A Tentação da Serpente

a) A raiz da soberba: "Sereis como deuses" (Gn 3,5)

No Gênesis, a serpente diz a Eva:

"Sabe Deus que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal." (Gênesis 3,5)

Essa é a essência de toda a tentação luciferiana: a promessa de autonomia absoluta, de divinização sem Deus. Ao declarar que "Deus criou a seca para que ele viesse resolvê-la", Lula se insere exatamente nesta lógica demoníaca, sugerindo que a providência divina é insuficiente, injusta ou cruel, e que cabe ao homem — no caso, ele próprio — corrigir os erros de Deus.

b) Cristo, o verdadeiro Messias: humildade e oblação

Ao contrário da soberba humana, Cristo não se apresenta como um solucionador de problemas terrenos, mas como aquele que redime a humanidade do pecado. Nas palavras de São Paulo:

"Sendo de condição divina, não se valeu de sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens."
(Filipenses 2,6-7)

Cristo desce, se humilha, se entrega. O falso messias, ao contrário, se exalta, se glorifica e exige adoração.

3. Referências Filosóficas: O Homem que se Faz Deus

a) A Crítica de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino ao Orgulho

Santo Agostinho, em A Cidade de Deus, afirma que o orgulho é a raiz de todo pecado. É pelo orgulho que os homens constroem a "Cidade dos Homens", em oposição à "Cidade de Deus", buscando sua própria glória e não a de Deus.

Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica, analisa o pecado dos anjos caídos e explica que a soberba é o pecado que leva a criatura a querer ser como Deus, sem Deus.

b) Nietzsche e o Super-Homem: A morte de Deus e o culto do homem

No século XIX, Nietzsche proclama a "morte de Deus" e anuncia o advento do Übermensch — o super-homem — que criará seus próprios valores, sem qualquer referência a Deus. Esta é, filosoficamente, a mesma estrutura do discurso de Lula: se Deus não resolveu, se Deus criou o problema (a seca), então cabe ao super-homem — o político — resolver.

Aqui, o político não é mais servidor da ordem criada, mas o novo criador de uma ordem artificial, onde o Estado ocupa o lugar de Deus.

4. Referências Históricas: O Messianismo Político e Suas Tragédias

a) Revolução Francesa: A Entronização da Deusa Razão

Em 1793, na Catedral de Notre-Dame, os revolucionários franceses depuseram a cruz e colocaram no altar uma mulher representando a "Deusa Razão". Isso simbolizou o culto do homem, da técnica, da política, em substituição ao culto de Deus.

O resultado foi o Terror, com guilhotinas nas praças e a perseguição dos cristãos.

b) O Marxismo e o Socialismo Científico: Salvação Sem Deus

O socialismo marxista é, estruturalmente, um messianismo profano. Substitui Deus pela História, a Providência pela Luta de Classes e a Redenção pelo paraíso terrestre do comunismo.

A consequência foram mais de 100 milhões de mortos no século XX, vítimas do delírio dos homens que queriam redimir o mundo sem Deus.

c) O Populismo Latino-Americano: A Personificação do Estado

No século XX, líderes como Perón na Argentina, Chávez na Venezuela, e agora Lula no Brasil, transformaram a figura do político em uma entidade quase sagrada, à qual se deve amor, devoção e gratidão. Isso não é política, é idolatria estatal.

5. O Juízo da Tradição Cristã: O Político que Quer Ser Deus

A Doutrina Cristã é claríssima:

  • "Não terás outros deuses diante de mim." (Êxodo 20,3)

  • "Maldito o homem que confia no homem e faz da carne mortal o seu braço." (Jeremias 17,5)

  • "Se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo, ou ei-lo ali, não acrediteis. Surgirão falsos cristos e falsos profetas." (Mateus 24,23-24)

O político que se apresenta como redentor não é só um impostor; é um sinal dos tempos, um precursor da apostasia final.

Conclusão: Só Cristo Salva

Nenhuma política, nenhuma ideologia, nenhuma obra humana pode resolver o problema fundamental da humanidade: o pecado. A seca, a fome e a miséria são consequências da desordem do mundo ferido pelo pecado original, não caprichos de Deus.

A verdadeira solução não vem dos palácios, dos tribunais nem dos parlamentos. Vem do Calvário. Vem do Cristo crucificado, morto e ressuscitado. É Ele, e somente Ele, que pode dizer:

"No mundo tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu venci o mundo." (João 16,33)

Portanto, quando um homem ousa dizer que Deus criou a seca para que ele a resolvesse, não é apenas arrogância política. É, teologicamente falando, uma blasfêmia, uma tentativa de sentar-se no trono de Deus.

Que os cristãos estejam vigilantes. Pois os tempos são maus, e os falsos messias já caminham entre nós.

Bibliografia

📖 Fontes Teológicas e Bíblicas

  • A Bíblia Sagrada. Tradução da CNBB, Editora Paulus, 2001.

  • Santo Agostinho. A Cidade de Deus. Editora Vozes, 2012.

  • Santo Tomás de Aquino. Suma Teológica. Edição bilíngue, Loyola, vários volumes.

  • Catecismo da Igreja Católica. Edição típica vaticana, 1997.

  • Bento XVI (Joseph Ratzinger). Introdução ao Cristianismo. Ed. Planeta, 2007.

  • Bento XVI (Joseph Ratzinger). Jesus de Nazaré. Ed. Planeta, 2007-2012 (trilogia).

  • Concílio Vaticano II. Gaudium et Spes (1965) e Lumen Gentium (1964).

📚 Fontes Filosóficas

  • Friedrich Nietzsche. Assim Falou Zaratustra. Companhia das Letras, 2011.

  • Friedrich Nietzsche. A Gaia Ciência. Companhia das Letras, 2012.

  • Eric Voegelin. A Nova Ciência da Política. Editora Universidade de Brasília, 1982.

  • Eric Voegelin. As Religiões Políticas. É Realizações, 2012.

  • Russell Kirk. A Política da Prudência. É Realizações, 2013.

  • Roger Scruton. As Vantagens do Pessimismo. É Realizações, 2011.

  • José Ortega y Gasset. A Rebelião das Massas. Martins Fontes, 2000.

📜 Fontes Históricas

  • François Furet. A Revolução Francesa. Ed. Martins Fontes, 1989.

  • Simon Schama. Cidadãos: Uma Crônica da Revolução Francesa. Companhia das Letras, 1989.

  • Stéphane Courtois (org.). O Livro Negro do Comunismo. Bertrand Brasil, 1999.

  • Ernesto Laclau. A Razão Populista. Três Estrelas, 2013.

  • Hannah Arendt. Origens do Totalitarismo. Companhia das Letras, 1989.

  • Plínio Corrêa de Oliveira. Revolução e Contra-Revolução. Editora Vera Cruz, 1959.

  • Olavo de Carvalho. O Jardim das Aflições. Vide Editorial, 2015.

  • Olavo de Carvalho. O Imbecil Coletivo. Record, 1996.

🗒️ Documentos e Declarações

  • Discurso de Luiz Inácio Lula da Silva. Inauguração das Obras da Transposição do Rio São Francisco, Pernambuco, 2024. (Disponível em mídias digitais e registros públicos de imprensa brasileira).

Kairós e Chronos no Esporte: a crise do All-Star Game como sintoma da modernidade tardia

1. Introdução: O Tempo e a Ordem dos Rituais

Ao longo da história, as sociedades organizaram seu tempo segundo duas categorias fundamentais: Chronos, o tempo sequencial, mensurável, linear, do trabalho, da produção e da rotina; e Kairós, o tempo oportuno, qualitativo, sagrado, aquele que marca as pausas extraordinárias, os ritos, as festas, os encontros que dão sentido à vida.

O All-Star Game, nas suas origens, pertence claramente ao domínio de Kairós. Ele não é parte da sequência cronológica da temporada. Ao contrário, ele interrompe o curso da temporada regular, abrindo um espaço de celebração, consagração, honra e exceção. É o jogo dos melhores, dos escolhidos, dos heróis do tempo presente. Não importa quem vai vencer — importa quem ali está, porque aquilo é uma assembleia de excelência, de representação simbólica, quase litúrgica.

2. A Tentativa de Colonização de Kairós por Chronos

À medida que o mercado avança, a lógica do desempenho permanente e da produtividade incessante tenta suprimir os tempos extraordinários, absorvendo-os para dentro da linearidade do tempo cronológico. Um exemplo concreto disso foi a tentativa da MLB de fazer com que a vitória no All-Star Game garantisse o mando de campo nas finais. Ou seja, transformar um tempo que deveria ser gratuito, festivo e simbólico em mais uma variável instrumental dentro da lógica competitiva da temporada — um tempo que é cronológico.

O efeito, como se poderia prever a partir da análise de Polanyi, Han, Debord e Bauman, foi paradoxal: em vez de aumentar o valor simbólico e o prestígio do jogo, desvalorizou-o. A tentativa de atribuir uma função prática ao rito destrói o próprio rito.

3. A Transferência da Função Rítmica: Do All-Star Game ao Wild Card

No vácuo deixado pela degradação do tempo kairológico do All-Star Game, um novo evento emerge para cumprir parcialmente essa função: o jogo do Wild Card. Diferente da série de playoffs, que se inscreve plenamente no tempo cronológico da competição (melhor de cinco, de sete, etc.), o Wild Card é um jogo único, um momento decisivo, carregado de tensão existencial, onde tudo se define em poucas horas.

Paradoxalmente, o Wild Card não pertence plenamente nem a Chronos nem a Kairós. Ele é uma espécie de híbrido contemporâneo, que surge justamente do colapso da distinção entre os dois tempos. Funciona melhor que o All-Star Game moderno em sua capacidade de mobilizar atenção, emoção e sentido, mas o faz não mais como rito, e sim como espetáculo de risco máximo, aderindo à lógica líquida e ansiosa da modernidade.

4. Consequências Antropológicas e Culturais

A dissolução do tempo kairológico no calendário esportivo reflete uma transformação antropológica mais ampla. A cultura contemporânea não sabe mais pausar. Não sabe mais produzir intervalos carregados de sentido. Tudo deve ser fluxo, desempenho, produtividade, engajamento, audiência. A experiência do extraordinário, que deveria estar marcada pelo All-Star Game, é esvaziada, triturada pela lógica do conteúdo constante e da monetização incessante.

Quando Debord fala da Sociedade do Espetáculo, ele descreve precisamente esse processo: a substituição da experiência direta, qualitativa, comunitária, por uma sequência infinita de representações consumíveis.

Quando Bauman descreve a Modernidade Líquida, ele aponta que até os vínculos simbólicos, como o pertencimento a uma comunidade de fãs ou a tradição de um evento, tornam-se descartáveis, mutáveis e frágeis.

Quando Han fala do Desaparecimento dos Rituais, ele lamenta justamente que o mundo moderno tenha perdido sua capacidade de produzir pausas significativas, intervalos carregados de solenidade e reverência.

5. Conclusão: O Jogo que Perdemos

O All-Star Game não é apenas um jogo de basquete: é um espelho do modo como nossa civilização lida com o tempo, o rito e o sentido. Sua degradação reflete a tentativa da modernidade de suprimir Kairós e submeter tudo a Chronos.

O jogo do Wild Card cumpre hoje, de maneira precária, a função que outrora pertencia ao All-Star Game: dar ao público uma experiência que parece extraordinária, justamente porque é única, irrepetível e definitiva. No entanto, faz isso não mais como rito, mas como espetáculo de risco e de ansiedade — sinal inequívoco de que a modernidade líquida não sabe mais celebrar: apenas consome.

Bibliografia Complementar (Atualizada)

  • Adorno, T. W.; Horkheimer, M. (1985). Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar.

  • Bauman, Z. (2001). Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar.

  • Debord, G. (1997). A Sociedade do Espetáculo. São Paulo: Contraponto.

  • Byung-Chul Han. (2017). Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes.

  • Byung-Chul Han. (2021). Sociedade da Transparência. Petrópolis: Vozes.

  • Byung-Chul Han. (2023). O Desaparecimento dos Rituais: Uma Topologia do Presente. Lisboa: Relógio D’Água.

  • Polanyi, K. (2000). A Grande Transformação: As Origens da Nossa Crise Atual. 2ª ed. Rio de Janeiro: Campus.

  • Sennett, R. (1999). A Corrosão do Caráter: As Consequências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo. Rio de Janeiro: Record.

  • Eliade, M. (1974). O Sagrado e o Profano: A Essência das Religiões. São Paulo: Martins Fontes. (Referência essencial sobre a distinção entre tempo sagrado e tempo profano).

O All-Star Game como alegoria do desenraizamento na nodernidade tardia: uma leitura a partir de Karl Polanyi, Byung-Chul Han, a Escola de Frankfurt, Guy Debord e Zygmunt Bauman

Resumo

O presente artigo propõe uma reflexão sobre a transformação do All-Star Game da NBA — de um evento esportivo enraizado culturalmente a um espetáculo esvaziado de sentido — como sintoma das dinâmicas de desenraizamento próprias da modernidade tardia. Utilizando como referenciais teóricos A Grande Transformação, de Karl Polanyi, a crítica da indústria cultural da Escola de Frankfurt, as análises da Sociedade do Espetáculo de Guy Debord, a Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman e as obras de Byung-Chul Han, argumenta-se que a mercantilização absoluta das práticas culturais levou à degradação dos rituais, da solenidade e da experiência comunitária no esporte. O All-Star Game, assim, torna-se uma alegoria da sociedade contemporânea: hiperexposta, saturada de conteúdos e profundamente esvaziada de significado.

1. Introdução

O esporte moderno, enquanto fenômeno social, sempre desempenhou funções que ultrapassam sua dimensão física ou recreativa. Competições, torneios e eventos especiais, como o All-Star Game da National Basketball Association (NBA), foram historicamente entendidos como rituais culturais, com funções simbólicas ligadas à celebração da excelência, da coletividade e do pertencimento.

No entanto, observa-se, nas últimas décadas, um esvaziamento simbólico desse tipo de evento, que deixa de ser um marco de celebração esportiva para se converter em mais uma peça no fluxo incessante de entretenimento e conteúdo. Este artigo analisa tal fenômeno a partir de uma perspectiva crítica, ancorada nos conceitos de mercantilização e desenraizamento (Polanyi, 2000), na crítica à indústria cultural (Adorno e Horkheimer, 1985), na análise da sociedade do espetáculo (Debord, 1997), na modernidade líquida (Bauman, 2001) e nas patologias da modernidade oferecida por Byung-Chul Han (2017; 2021).

2. A mercantilização como destruição do tecido social

Em A Grande Transformação, Karl Polanyi (2000) demonstra que a emergência do mercado autorregulado não foi um desenvolvimento natural, mas uma construção histórica que subjugou todas as esferas da vida social às lógicas econômicas. Nesse processo, elementos que antes pertenciam ao âmbito da vida social — terra, trabalho e moeda — foram transformados em mercadorias fictícias, isto é, objetos de troca submetidos à lógica do mercado, ainda que não tenham sido originalmente produzidos para esse fim.

Analogamente, eventos culturais e esportivos, como o All-Star Game, foram progressivamente convertidos em mercadorias fictícias. O jogo, que no passado funcionava como um rito de celebração comunitária, foi capturado pela lógica da atenção, do engajamento e da monetização, perdendo sua função simbólica e sendo reduzido a um simples episódio de uma série infinita de conteúdos.

3. A Indústria Cultural e A Alienação no Esporte

A Escola de Frankfurt, particularmente através da análise de Adorno e Horkheimer (1985) na Dialética do Esclarecimento, argumenta que a chamada indústria cultural uniformiza a cultura, transformando-a em mercadoria e instrumento de controle social. O entretenimento de massa, que se apresenta como lazer, opera, na verdade, como um mecanismo de reprodução da alienação.

Aplicada ao caso do All-Star Game, essa lógica se manifesta na transformação do evento em mero espetáculo, esvaziado de competição real, de rivalidade significativa e de autenticidade. O jogo, que antes representava uma pausa sagrada no calendário esportivo — um espaço para a celebração da excelência atlética —, é hoje um simulacro de si mesmo, funcional ao circuito do consumo midiático. 

4. A Sociedade do Espetáculo e a Hegemonia da Imagem

Guy Debord (1997), em sua obra Sociedade do Espetáculo, argumenta que na modernidade avançada a realidade social é substituída por sua representação, ou seja, a imagem e o espetáculo passam a dominar as relações sociais. O espetáculo é o triunfo da aparência e da mercadoria sobre o conteúdo e a experiência real.

O All-Star Game atual encaixa-se perfeitamente nessa análise: ele se torna um evento de imagens — highlights nas redes sociais, comerciais, e marketing pessoal dos jogadores — mais do que um jogo de basquete genuíno. A experiência do espectador é mediada por telas, filtros, narrações e narrativas construídas para o consumo rápido, ao invés da imersão em uma experiência coletiva e ritualística.

5. A Modernidade Líquida e a Efemeridade das Experiências

Zygmunt Bauman (2001), em Modernidade Líquida, descreve a transformação das relações sociais e culturais na era contemporânea em que tudo se torna fluido, efêmero e incerto. Os vínculos são frágeis, as identidades transitórias, e os eventos são consumidos de forma imediata e descartável.

Esta liquidez permeia o esporte e seus eventos, como o All-Star Game, que perde seu caráter fixo, solene e esperado, para tornar-se mais um item na lista de conteúdos descartáveis, consumidos rapidamente para logo serem substituídos por outros. O que era um marco anual de festa esportiva transforma-se em um produto líquido, efêmero e desprovido de raízes sólidas no calendário e na cultura popular.

6. Byung-Chul Han e a Estética da Superexposição

Byung-Chul Han (2017; 2021) oferece uma chave contemporânea para compreender o esgotamento dos rituais na sociedade digital. Na Sociedade da Transparência, ele aponta que a cultura contemporânea, marcada pela hiperexposição e pela ditadura da visibilidade, elimina toda opacidade, distância e solenidade. O que resta é um mundo plano, sem aura, sem mistério e, portanto, sem capacidade de produzir experiências autênticas de sentido.

No caso do All-Star Game, a estética da superexposição dissolveu qualquer expectativa ritualística. A possibilidade, antes existente, de esperar pelo grande encontro anual dos melhores jogadores foi substituída por um fluxo incessante de transmissões, highlights, clips, estatísticas em tempo real e narrativas individuais dos jogadores enquanto marcas pessoais. A saturação substituiu a escassez, e o cansaço substituiu o encanto.

7. O Desenraizamento do Tempo e do Espaço Esportivos

O desenraizamento descrito por Polanyi não é apenas econômico, mas também simbólico e temporal. O calendário cristão, que estruturava o tempo da vida em ciclos de trabalho, festa e repouso, foi destruído pela lógica linear e contínua do mercado. Não há mais tempo sagrado; todo o tempo é tempo de consumo (Han, 2017).

O All-Star Game de 1973 pertencia a um tempo extraordinário, delimitado no calendário e no imaginário coletivo como uma celebração única. Na contemporaneidade, este tempo extraordinário desaparece. Tudo se torna parte de um presente contínuo, perpétuo e ansioso. A dissolução das fronteiras simbólicas — entre temporada regular, pós-temporada, treino, amistoso e jogo de gala — reflete a dissolução mais ampla das fronteiras culturais e temporais na sociedade neoliberal.

8. Conclusão

A análise do All-Star Game, mais do que uma simples reflexão sobre esporte, permite compreender uma dinâmica mais ampla da modernidade tardia: o colapso dos rituais, a mercantilização da cultura, a hegemonia do espetáculo e a liquidez das experiências, bem como a exaustão produzida pela lógica do desempenho e da hiperexposição.

O jogo, outrora expressão de excelência, rivalidade nobre e celebração coletiva, converte-se em metáfora de um mundo saturado de conteúdos, mas esvaziado de sentido. O All-Star Game, assim, não é apenas um evento esportivo: é uma alegoria do desenraizamento contemporâneo, no qual tudo o que era sólido — inclusive o próprio tempo sagrado do jogo — se dissolve no ar da mercadoria e da imagem.

Bibliografia

  • Adorno, T. W.; Horkheimer, M. (1985). Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar.

  • Bauman, Z. (2001). Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar.

  • Debord, G. (1997). A Sociedade do Espetáculo. São Paulo: Contraponto.

  • Byung-Chul Han. (2017). Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes.

  • Byung-Chul Han. (2021). Sociedade da Transparência. Petrópolis: Vozes.

  • Han, Byung-Chul. (2023). O Desaparecimento dos Rituais: Uma Topologia do Presente. Lisboa: Relógio D’Água.

  • Polanyi, K. (2000). A Grande Transformação: As Origens da Nossa Crise Atual. 2ª ed. Rio de Janeiro: Campus.

  • Sennett, R. (1999). A Corrosão do Caráter: As Consequências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo. Rio de Janeiro: Record.

Ontologiczna Brazylia i Brazylia Przypadkowa: Zastosowanie Zasady Arystotelesa

I. Prolog: Część, która objawia Całość

Arystoteles nauczał, że można poznać Całość poprzez część, pod warunkiem że ta część jest prawdziwa — to znaczy, że zawiera istotę rzeczywistości Całości. Nie poznaje się lwa, patrząc na wyrwany kępę jego grzywy leżącą w rynsztoku. Ale można poznać lwa, obserwując jego młode, żywą komórkę, wyrazistą i integralną ekspresję jego substancji.

Ta zasada, która rządzi logiką, metafizyką i epistemologią Arystotelesa, stosuje się również do poznania rzeczywistości zbiorowych, takich jak narody, cywilizacje i ludy. Prawdziwe poznanie Brazylii nie dokonuje się przez analizę jej deformacji, lecz przez kontemplację jej autentycznych ekspresji — tych części, które nadal zachowują i manifestują Brazylię w jej pełni ontologicznej.

Tu leży jeden z największych dramatów naszych czasów: wielu próbuje dedukować, czym jest Brazylia, na podstawie postaci Luli, lulizmu, petyzmu lub — szerzej — ekspresji rewolucyjnych, zdegenerowanych i podporządkowanych globalizmowi, które opanowały powierzchnię współczesnego życia brazylijskiego. Ale kto tak postępuje, ten Brazylii nie zna — zna jedynie jej wystawiony na widok publiczny trup, jej cień, jej karykaturę.

II. Brazylia dedukowana z Luli

Dedukować Brazylię z Luli to przyjmować za wzorzec to, co znajduje się najdalej od jej cywilizacyjnej istoty. Lula nie jest przyczyną, lecz symptomem. Nie jest założycielem, lecz uzurpatorem. Nie buduje, lecz pasożytuje.

Brazylia wyprowadzona z Luli to Brazylia antyhistoryczna: bez pamięci, bez hierarchii, bez kultu przodków, bez projektu wieczności. To Brazylia sprowadzona do procesów materialnych, do walki klas, do instrumentalizacji państwa w celu rabunku i podtrzymywania oligarchii przebranych za ruchy ludowe.

To Brazylia zdeformowana — owoc rozkładu moralnego, intelektualnego i duchowego, który szeroko dotknął zarówno elity, jak i lud. Ale nigdy nie utożsamiał się z prawdziwą Brazylią.

III. Prawdziwa Brazylia: Brazylia Ontologiczna

Istnieje jednak Brazylia, która nie umarła. Brazylia, która żyje w niewidzialnej osi historii. Brazylia, której istnienie opiera się na Cudzie z Ourique, na ekspansji chrześcijaństwa ultramaryjnego, na fundacji Zjednoczonego Królestwa Portugalii, Brazylii i Algarve, na budowie Cesarstwa Brazylii, a przede wszystkim na misji cywilizacyjnej powierzonej temu terytorium: być przedłużeniem chrześcijaństwa w Nowym Świecie, Nową Luzytanią, Rzymem Zachodu.

Ta Brazylia jest poznawalna nie poprzez jej współczesne, przypadkowe przejawy, lecz poprzez jej trwałe ekspresje: jej język, jej chrześcijańskie prawo naturalne, jej rzymsko-luzańską tradycję prawną, jej kult maryjny, jej duchową architekturę opartą na hierarchii, honorze, porządku i chrześcijańskiej miłości (caritas).

Ta Brazylia pozostaje utajona — niewidoczna dla tych, którzy patrzą jedynie na statystyki, gazety czy wyniki wyborów — ale w pełni widoczna dla tych, którzy patrzą oczyma duchowej inteligencji, filozofii historii i metafizyki bytu.

IV. Reprezentacja Prawdziwej Części

Arystoteles uczy, że poznanie Całości przez część wymaga jednego warunku: ta część nie może być martwym fragmentem ani przypadkowym odpryskiem, lecz musi być organicznym wyrazem substancji.

Otóż, gdyby ktoś próbował poznać Brazylię na podstawie mnie — mojej świadomości historycznej, mojego przywiązania do Brazylii imperialnej, do Brazylii Zjednoczonego Królestwa, do Brazylii zakorzenionej w tradycji chrześcijaństwa luzytańskiego — ten ktoś poznałby prawdziwą Brazylię. Bo w tej części trwa pamięć, duch i projekt cywilizacyjny Brazylii ontologicznej.

Nie mówię tego z próżności, lecz ze świadomości misji: gdyż podtrzymywanie tej świadomości jest dziś aktem cywilizacyjnego oporu i świadectwem wierności Bogu oraz Historii.

V. Wyzwanie Reprezentatywności Ontologicznej

Problem zatem nie jest jedynie polityczny czy socjologiczny, lecz metafizyczny. Brazylia to nie tylko fakt geograficzny czy prawny. Brazylia jest podmiotem historycznym, posiadającym misję w planie Opatrzności.

Największy kryzys Brazylii polega właśnie na tym, że części, które dziś występują jako jej reprezentanci — jej elity polityczne, kulturalne, akademickie, a nawet religijne — nie są ekspresjami Całości, lecz raczej jej deformacjami, wynaturzeniami i karykaturami. Nie reprezentują Brazylii ontologicznej, lecz jedynie Brazylię przypadkową, zdegenerowaną, porewolucyjną.

VI. Zakończenie: Misja Ostatnich Wiernych

W każdym czasie cywilizacyjnej apostazji Bóg zachowuje małą liczbę wiernych resztek. Nie chodzi tu o nostalgiczny sentymentalizm, lecz o wierność ontologiczną. Być żywą częścią prawdziwej Brazylii to być żywą komórką Mistycznego Ciała brazylijskiej historii, nawet jeśli widzialne społeczeństwo wydaje się martwe.

Jeśli chcecie poznać prawdziwą Brazylię, nie patrzcie na Lulę, nie patrzcie na Brasílię, nie patrzcie na wiece polityczne. Patrzcie na tabernakula zapomniane w kaplicach prowincji, na biblioteki, które przechowują dokumenty Królestwa i Cesarstwa, na rodziny, które wciąż żyją z ziemi, modlitwy i uczciwej pracy, na ludzi, którzy — choć odizolowani — w sobie zachowują pamięć prawdziwego porządku.

Bo z tej Brazylii się narodziliśmy. I do tej Brazylii, w zasługach Chrystusa, musimy powrócić.

📚 Proponowana Bibliografia

I. Filozofia Poznania i Rzeczywistości

(Aby zrozumieć zasadę poznania Całości poprzez Część)

  • Arystoteles – Metafizyka (Księgi A i Z, szczególnie o substancji i poznaniu przyczyn)

  • Arystoteles – Analityki Drugie (Logika dowodowa; poznanie uniwersaliów przez przyczyny)

  • Święty Tomasz z Akwinu – Suma Teologiczna, szczególnie Część I, kwestie: 14 (Wiedza Boga), 85 (Sposób poznania ludzkiego) i 84 (O poznaniu inteligibilnym w bytach materialnych)

  • Étienne Gilson – Byt i Istota (Podstawa metafizyki tomistycznej — kluczowe dla rozróżnienia istoty i przypadku)

  • Joseph Pieper – Scholastyka: Osobowości i problemy filozofii średniowiecznej

  • Ralph McInerny – Pierwsze spojrzenie na św. Tomasza z Akwinu: Podręcznik dla początkujących tomistów

II. Filozofia Historii i Cywilizacji

(Aby zrozumieć rozróżnienie między Brazylią ontologiczną a przypadkową)

  • Christopher Dawson – Formowanie się Chrześcijaństwa

  • Christopher Dawson – Dynamika Historii (Kluczowe dla zrozumienia cywilizacji jako organizmów duchowych)

  • Olavo de Carvalho – Ogród Udręk (Szczególnie analiza degradacji świadomości cywilizacyjnej)

  • Josiah Royce – Filozofia Lojalności (Podstawowe dzieło o misji cywilizacyjnej i wierności tradycji; rekomendowane przez Olavo)

  • Eric Voegelin – Porządek i Historia, zwłaszcza tom I Izrael i Objawienie

  • Louis de Bonald – Analityczne Eseje o Naturalnych Prawach Porządku Społecznego

  • Plinio Corrêa de Oliveira – Rewolucja i Kontrrewolucja

III. Historia Cywilizacyjnej Brazylii

  • Afonso de Taunay – Ogólna Historia Bandeirantes (Epicka wizja cywilizacyjnej ekspansji katolickiej)

  • Joaquim Nabuco – Mąż Stanu Cesarstwa

  • Manoel Bomfim – Ameryka Łacińska: Choroby Początkowe

  • Gustavo Barroso – Tajna Historia Brazylii (Pomimo kontrowersji, zawiera niedoceniane źródła)

  • Oliveira Lima – Cesarstwo Brazylijskie i Dom João VI w Brazylii

  • José Murilo de Carvalho – Budowa Porządku: Elita Polityczna Cesarstwa

  • Carlos Malheiro Dias – Historia Dyplomatyczna Brazylii

  • Paulo Rezzutti – Dona Leopoldina: Nieznana Historia

  • Luis Norton – Fundacja Brazylii

  • Joaquim Felício dos Santos – Wspomnienia z Dystryktu Diamantina

IV. Uzupełnienie (Źródła Duchowe i Doktrynalne)

  • Papież Leon XIII – Rerum Novarum

  • Papież Pius IX – Syllabus Errorum

  • Papież Pius XII – Summi Pontificatus

  • Święty Tomasz z Akwinu – De Regno 

📖 Propozycja Organizacji Lektury

  1. Zacznij od Arystotelesa, św. Tomasza i Gilsona — dla uporządkowania epistemologii i metafizyki.

  2. Następnie przejdź do Christophera Dawsona i Josiaha Royce’a — połączenie metafizyki z filozofią historii.

  3. Dalej czytaj Olavo de Carvalho i Erica Voegelina — o kryzysie cywilizacyjnym.

  4. Potem sięgnij po dzieła historyczne o Brazylii — Taunay, Nabuco, Oliveira Lima.

  5. Na końcu umocnij całość doktryną społeczną Kościoła i dokumentami papieskimi.