1) Quando uma cidade é fundada, ela tem de explorar toda uma série de recursos em sua geografia imediata de modo a desenvolver todo o seu potencial, toda a sua capacidade de tal maneira a desenvolver uma vocação (seja ela comercial, portuária, político-administrativa, histórica, industrial ou mesmo religiosa). É por meio dessa vocação que a cidade será tomada como se fosse um lar em Cristo.
2.1) A maioria das cidades novas, do ponto de vista civil, nasceu por força da necessidade de atender às demandas de cidades mais antigas por recursos ou para abrir rotas comerciais que facilitem as relações entre uma cidade e outra, em contexto do sistema político e cultural pelo qual tomaremos uma nação como um lar em Cristo; do ponto de vista militar, o terreno ocupado previne a ocupação a ser feita por potências estrangeiras, pois o povoamento de terras e regiões distantes é uma projeção de poder.
2.2.1) Não é à toa que muitos cidadãos das cidades novas foram no passado habitantes das cidades mais antigas, a ponto de manterem laços de parentesco ou mesmo de lealdade e de reciprocidade umas com as outras, por força do comércio ou mesmo da prestação de serviço à distância.
2.2.2) Eis o fundamento mais basilar da solidariedade. Não é à toa que eles tinham dupla cidadania, duplo domicílio, tanto por força do sangue quanto da terra ocupada como um lar em Cristo junto com a terra ancestral.
3.1) Afinal, o fundamento que justifica cidades-Estado povoarem terras distantes com colônias e entrepostos comerciais e com elas formar uma liga confederada - e juntas se tornarem uma nação, por força da ação do teste do tempo em que a confederação se desdobra numa federação - é que recursos são para serem consumidos e assim o serão. Se esses recursos não forem explorados pela atual geração, eles serão explorados pela geração futura, em algum ponto futuro da História.
3.2.1) Mas isso não quer dizer que a exploração e consumo de recursos não deva ser desordenada, irresponsável, voltada para o nada - afinal, a mão que produz precisa ser necessariamente a mão que preserva.
3.2.2) Tal como um organismo, uma cidade necessita moderar seu apetite por recursos tal como devemos moderar nosso apetite, evitando que o ato de alimetar-se para manter o corpo acabe se tornando uma idoltatria, a ponto de cairmos no pecado da gula.
3.2.3) No caso das cidades, o pecado da gula se dá quando a riqueza é vista como um sinal se salvação, coisa que se dá num mundo dividido entre eleitos e condenados, a tal ponto que o uso justo da terra e dos recursos inerentes a ela acabe se pervertendo numa modalidade predatória, a ponto de servir liberdade com fins vazios, fundados na ganância.
4) Enfim, do ponto de vista macro, esta é a gênese da fundação de cidades, quando se parte do zero.
5.1) Quando as cidades já existem e são uma realidade consolidada por gerações, a ponto se tornarem uma coisa natural, a tendência é pensarmos as coisas desde o ponto da família, uma vez que cidades antigas tendem a ser verdadeiras metrópoles, com toda uma complexidade política e econômica que lhes é inerente.
5.2) Um indivíduo precisa encontrar uma conexão com sentido com Deus, um caminho a seguir, de modo que a vida tenha o seu devido curso natural e atenda a sua devida finalidade, fundada na conformidade com o Todo que vem d'Ele vem - afinal, uma cidade grande é um verdadeiro recurso em si mesmo, por conta da imensidão de fatos, circunstâncias e possibilidades que nela ocorre.
5.3.1) Uma cidade - tomada como se fosse um recurso a ser explorado, uma possibilidade a ser explorada - pede para que seja tomada como se fosse um lar em Cristo.
5.3.2) Se a cidade grande é um recurso que precisa ser explorado e ocupado, então o indivíduo não pode deixar que a imensidão inerente a ela o esmague, pois a infinidade de possibilidades, sem Cristo, pode deixar qualquer um perdido, já que seria extremamente irresponsável tomar a cidade como um lar em si mesmo, pois isso faria com que ela se torne uma espécie de religião, de tal maneira que a política na cidade acabe se pervertendo em demagogia, em populismo.
5.4.1) Para que possa se desenvolver melhor, o indivíduo precisará às vezes ir para outros lugares, até mesmo distantes, e comparar com o que conhece de sua terra natal. Esse conhecimento virá de experiências de família e amigos, de livros escritos ou mesmo de diários familiares escritos ao longo das gerações de modo a se conhecer a experiência anterior - e com base nela se orientar e achar seu caminho.
5.4.2) Se isso vier de uma tradição ancestral de registro desde os primeiros momentos, quando a cidade-Estado se expandiu de tal maneira a se tornar uma nação, então tomar o país como um lar em Cristo será fácil, pois tudo o que se deve fazer é estudar a História e não cometer os mesmos erros das gerações anteriores, como bem ensina Heródoto.
5.4.3) Agora, quando os registros começam a ser falsificados e o sentido pelo qual o país deve ser tomado como um lar é pervertido de modo a ser tomado com se fosse religião - onde tudo está no Estado e nada pode estar fora dele ou contra ele, tal como acontece com o Brasil desde 1822 -, então já não há esperanças de tentar lutar por dias melhores num ambiente em que a mentira começou a ser dita desde o começo dos tempos, com país independente.Afinal, se o país for tomado como se fosse religião, a ponto de competir ou renegar a religião verdadeira, então tudo está perdido, pois a liberdade voltada para o nada e o relativismo moral serão o norte de todas as coisas.
5.4.4) A única solução para isso é restaurar a História verdadeira e tirar lições desse espectro de coisas que norteiam a nossa realidade, à luz do que poderia ter acontecido se estivéssemos em conformidade daquilo que vem de Deus e que herdamos desde Ourique. E isso, além de ser história verdadeira, é também a verdadeira razão pela qual o Brasil deve ser tomado como um lar em Cristo, junto com Portugal e Algarves.
5.4.5) Eis o nosso mitologema, pois não existe cultura sem isso. É como criar um sistema dentro do sistema apodrecido, protegendo as pessoas da mentira, criando uma ilha de sanidade em meio ao mar de lama que nos rodeia.
5.4.6) É como criar catacumbas de modo a se proteger da perseguição dos pagãos, pois a secessão (incorretamente chamada de "independência") gerou uma ordem anticristã e neopagã, pois nela reina o mais puro relativismo moral. Para sobreviver melhor, é preciso, como já disse anteriormente, universalizar-se primeiro - e este é o fundamento de uma santa expansão.
5.4.7) Se não for possível viajar e morar em outros países de modo a aprender como se deve e não se deve tomar o Brasil como um lar, então ao menos aprenda da experiência dos outros que tiveram essa oportunidade. Se puder, reflita sobre essa experiência alheia - trata-se de uma relação de empréstimo; desse conhecimento, você estará pagando os devidos juros, pois você está se comprometendo a não cometer os mesmos erros que os franceses cometem quando tomam a França como se fosse religião, se isso for contado por alguém que conheceu a França desde dentro. Afinal, inside information é um recurso escasso, que vale tanto quanto ouro.
5.4.8) Se for possível morar no exterior, faça da sua casa um verdadeiro entreposto, uma embaixada da sua família nesse país que será tomado como seu lar em Cristo junto com a terra da qual você é originário. Nessa embaixada, seja um construtor de pontes - o mínimo é o microcosmos do máximo, que liga a Terra ao Céu. Se você cria as pontes necessárias, prestando serviços lá e cá, então você criou as bases necessárias para se tomar dois países como um mesmo lar em Cristo. Eis aí o segredo das coisas.
5.4.9) Se você não conhecer o estado da questão que norteia o processo de se tomar dois ou mais lugares como um mesmo lar em Cristo à luz da experiência familiar, então você está perdido, pois isso é navegar sem bússola. Você estará na deriva, em estado permanente.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 2018.