Resumo
Este artigo analisa a política imigratória do Império do Brasil sob D. Pedro II, com destaque à acolhida estratégica de árabes cristãos oriundos do então Império Otomano, especialmente do Líbano. Em contraste, apresenta-se uma crítica fundamentada às políticas contemporâneas de imigração indiscriminada na União Europeia, que ignoraram critérios de afinidade cultural e religiosa. O caso brasileiro é proposto como modelo de integração bem-sucedida e como advertência contra o colapso das nações que abandonam suas raízes civilizacionais cristãs.
Palavras-chave: D. Pedro II; imigração árabe; maronitas; União Europeia; identidade cristã; política migratória.
1. Introdução
No século XIX, enquanto a Europa se ocupava de rivalidades imperiais e industrialização acelerada, o Império do Brasil, sob o reinado de D. Pedro II, adotava uma política migratória fundamentada na harmonia entre progresso econômico e preservação da unidade cultural cristã. O imperador, homem culto e viajado, viu no Oriente Médio uma oportunidade de acolher imigrantes árabes que, além de suas habilidades comerciais, comungavam da fé cristã — especialmente os maronitas libaneses.
Hoje, esse movimento é contrastado com a política de fronteiras abertas promovida pela União Europeia no século XXI. Esta, ao acolher grandes contingentes islâmicos sem critério civilizacional, enfraqueceu suas estruturas sociais. Ao revisitar a sabedoria de D. Pedro II, podemos lançar luz sobre erros contemporâneos e sobre a importância da afinidade cultural na recepção de imigrantes.
2. A política imigratória de D. Pedro II
D. Pedro II foi um entusiasta das culturas orientais e um estudioso do mundo árabe. Visitou a Síria, o Líbano, a Palestina e o Egito em 1876, sendo recebido com honra por líderes religiosos e autoridades locais1. Durante essa viagem, identificou nos maronitas libaneses um povo diligente, culto, comerciante — e, sobretudo, cristão. Era o tipo de imigrante ideal para o projeto civilizacional brasileiro: trabalhadores que poderiam enriquecer o país sem romper com sua estrutura espiritual católica.
Ao longo das últimas décadas do século XIX, milhares de sírio-libaneses cristãos migraram para o Brasil, sobretudo após a crise econômica e a perseguição religiosa que sofriam no Império Otomano. Foram bem recebidos porque se integravam com facilidade, adotando a língua, os costumes e a fé da terra que os acolhia2.
D. Pedro II não via a imigração como um fim em si, mas como parte de uma estratégia de desenvolvimento com unidade cultural. Ele não fechava o Brasil ao estrangeiro, mas selecionava criteriosamente os que poderiam contribuir sem ameaçar os fundamentos do país.
3. A imigração islâmica na Europa e a crise da identidade ocidental
Em contraste com essa política prudente, muitos países da União Europeia adotaram, a partir da década de 1990, uma abordagem multiculturalista radical, que culminou, após 2015, em uma verdadeira crise civilizacional. A abertura indiscriminada de fronteiras para refugiados e imigrantes, majoritariamente muçulmanos, gerou:
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guetificação de bairros inteiros (como Molenbeek, em Bruxelas);
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radicalização religiosa entre jovens de segunda geração3;
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tensões culturais e atentados terroristas recorrentes;
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perda de controle sobre os mecanismos de integração e assimilação.
Autores como Bat Ye'or alertam para o avanço da "eurábia", isto é, a progressiva islamização da Europa sob a desculpa de humanismo mal compreendido4. Outros, como Douglas Murray, denunciam o suicídio da civilização europeia ao abandonar suas raízes cristãs e permitir a infiltração de valores incompatíveis com os fundamentos ocidentais5.
4. O caso brasileiro como modelo de sucesso
O Brasil possui hoje uma das maiores diásporas libanesas do mundo — estima-se entre 7 e 10 milhões de brasileiros descendentes de libaneses6. A maioria é cristã. Essa presença não apenas fortaleceu o setor comercial, como também influenciou positivamente a cultura, a política e as artes brasileiras. Diferentemente de outras nações ocidentais, o Brasil nunca enfrentou uma islamização socialmente relevante, mesmo sendo um dos maiores centros de cultura árabe fora do mundo árabe.
Esse sucesso se explica, em grande parte, por dois fatores:
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Afinidade civilizacional: os imigrantes cristãos compartilhavam da fé, da ética do trabalho e da estrutura familiar brasileira.
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Expectativa de integração: não vieram para formar enclaves, mas para se misturar, aprender o idioma e contribuir com o país.
A lição que fica é clara: hospitalidade não pode ser confundida com desordem, e diversidade sem unidade é fragmentação.
5. Conclusão
O Brasil imperial, sob D. Pedro II, demonstrou que uma política migratória bem-sucedida exige inteligência estratégica, fidelidade aos fundamentos culturais e uma visão de longo prazo. Ao acolher árabes cristãos em vez de promover uma imigração indiscriminada, o imperador evitou os erros cometidos hoje pela União Europeia. Este caso deveria, de fato, ser matéria obrigatória nos cursos de História, Relações Internacionais e Políticas Públicas da Europa — não apenas por sua relevância prática, mas porque nos lembra que a verdadeira caridade nunca dispensa a prudência.
Referências
HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.
MURRAY, Douglas. The Strange Death of Europe: Immigration, Identity, Islam. London: Bloomsbury Publishing, 2017.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
ROY, Olivier. O jihad e a morte. São Paulo: Três Estrelas, 2018.
TRUZZI, Oswaldo. Os árabes no Brasil: história, identidade e imigração. São Paulo: Editora Brasiliense, 1997.
YE’OR, Bat. Eurábia: The Euro-Arab Axis. Madison: Fairleigh Dickinson University Press, 2005.
Notas de Rodapé
HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. ↩
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TRUZZI, Oswaldo. Os árabes no Brasil: história, identidade e imigração. São Paulo: Editora Brasiliense, 1997. ↩
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ROY, Olivier. O jihad e a morte. São Paulo: Três Estrelas, 2018. ↩
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YE'OR, Bat. Eurábia: The Euro-Arab Axis. Madison: Fairleigh Dickinson University Press, 2005. ↩
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MURRAY, Douglas. The Strange Death of Europe: Immigration, Identity, Islam. London: Bloomsbury Publishing, 2017. ↩
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RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. ↩