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terça-feira, 14 de novembro de 2017

O debate entre esquerdistas e direitistas não faz sentido - Parte 3

1) Hoje, quando se fala em globalismo e elite burguesa, absolutamente ninguém no espectro político, da esquerda à direita, sabe do que se está falando. E isso porque se perdeu a distinção feita pelos economistas clássicos entre 'economia produtiva' e 'economia financeira'.

2) Marx sabia fazer essa distinção, evidentemente, mas não lhe deu muita ênfase, porque ele era muito otimista em relação à industrialização e comercialização das finanças, acreditando que os financistas (os grandes vilões), se enforcariam com a própria corda, uma vez que o próximo passo seria tomar os meios de produção. Expropriar os financistas expropriando a indústria por eles financiada.

3) A elite globalista é, portanto, a inimiga tanto dos trabalhadores quanto da indústria. Ela não é produtiva, como afirmaram todos os economistas clássicos, mas é ela quem dá as cartas hoje - como nem a esquerda nem a direita conseguem identificá-la, por não saberem fazer essa distinção, tanto um como outro acabam por defendê-la, sem querer. Os esquerdistas, por lutarem contra a indústria e o comércio; os direitistas, por acreditarem que TUDO é economia, borrando a distinção entre economia produtiva e economia financeira.

Roberto Santos (https://www.facebook.com/roberto.santos.3114/posts/10214907385581591)

Facebook, 13 de novembro de 2017.

O debate entre esquerdistas e direitistas não faz sentido - Parte 2

1) É quando se chega ao topo da pirâmide que a discussão entre direitistas e esquerdistas vai parecendo a questão do ovo e da galinha. Quando se chega lá, ambos têm a notícia de que o governo e a elite financeira trabalham em conluio para foder com o povão - e aí, então, o direitista (o esquerdista que se diz de direita) diz que é o governo quem corrompe o mercado financeiro e o esquerdista diz que é o mercado financeiro que corrompe o governo.

2) Vejamos o que diz Ibn Khaldun sobre isso, em sua "Introdução à História":

"In gaining control, he does not plan to appropriate royal authority for himself openly, but only to appropriate its fruits, that is, the exercise of administrative, executive, and all other power. He gives the people of the dynasty the impression that he merely acts for the ruler and executes the latter’s decisions from behind the curtain. He carefully refrains from using the attributes, emblems, or titles of royal authority. He avoids throwing any suspicion upon himself in this respect, even though he exercises full control. … He disguises his exercise of control under the form of acting as the ruler’s representative."
3.1) Ibn Khaldun concorda com os esquerdistas, mas ele não é esquerdista. 

3.2) Apesar de a esquerda ter razão nisso, o mais abominável a respeito dela é que ela TRABALHA 100% para eles atualmente. A esquerda conseguiu fazer todos os seus correligionários acreditarem piamente que, ao lutarem contra a indústria e o comércio, estão lutando contra o grande capital

Roberto Santos (https://www.facebook.com/roberto.santos.3114/posts/10214893561315993)

Facebook, 11 de novembro de 2017.

Notas sobre a relação entre perdão da dívida e tomar o país como um lar em Cristo

1) Os economistas clássicos ainda tinham em mente a idéia cristã de que a usura era um grande pecado. 

2) Não só o cristianismo via a usura como um erro, mas toda a antiguidade. Todos os povos antigos sabiam que a classe financista era quem causava a destruição da economia produtiva, enredando a nação numa dívida crescente, impossível de ser paga, e transformando todos os membros da sociedade em escravos dela.

3 Embora o rei sempre se aliasse com os financistas para ferrar com o povo, como acontece hoje, isso era terrível para ele, porque, ao se endividar e não poder mais pagar a dívida pública, o povo emigrava, e a nação perdia sua força militar. Evidentemente os emigrantes se uniriam ao rei vizinho para dizimar seu antigo rei. Para evitar isso, criou-se o mecanismo do perdão da dívida, prática que o judaísmo herdou dos antigos na instituição do Jubileu. 

4) Na época de Cristo, essa prática foi esquecida, e é essa a razão pela qual Ele era tão duro com os financistas e dizia que era para dar ao irmão necessitado que o que pedisse, sem esperar nada em troca. Também era por isso que os fariseus O odiavam tanto: Só Deus, diziam eles, pode perdoar as dívidas, pois Ele é o dono da terra, e eles, os fariseus, eram seus legítimos representantes, não um maluco que se achava Deus.

Roberto Santos (https://www.facebook.com/roberto.santos.3114/posts/10214907785591591)

Facebook, 13 de novembro de 2017.

Das razões pelas quais Cristo expulsou os vendilhões do templo

1) O conservador nominal de hoje costuma ser muito anti-Estado, pendendo fortemente ao libertarismo econômico - isso chega a ser engraçado. Se você ler os evangelhos com atenção, verá que Cristo, apesar de não ser um defensor entusiasta do Estado, disse claramente que era para dar o que era de Deus a Deus, e a César o que era de César. Em contrapartida, o único momento nos evangelhos em que Ele fica furioso e sai descendo o cacete foi quando encontrou os tais "vendilhões" do Templo, os quais, na verdade, eram cambistas ou credores particulares.

2) Os templos, antigamente, eram, além de centros de culto religioso, o mercado financeiro que fazia empréstimos sem juros. Na época de Cristo essa prática havia acabado, e os religiosos - principalmente os fariseus - se tornaram os exploradores do povo. Essa a razão pela qual eles aceitavam de bom grado tudo que Cristo dizia, mas abominavam, a ponto de quererem matá-Lo, a partir do momento em que Ele falava em perdão dos pecados - o que também significa perdão das dívidas, tal como aparece na oração do Pai-Nosso.
 
3) O perdão das dívidas tem duas dimensões na Bíblia:

A) A dívida contraída com Deus é aquela em que você endivida com os poderosos do mundo, a ponto de se tornar escravos dele (banqueiros e financistas estrangeiros) e

B) Essa dívida propriamente dita, que era crescente e levava o povo à escravidão, Cristo veio para relevar e revelar - para além de muitas outras coisas - esses dois segredos esquecidos, além restaurar o instituto do PERDÃO da divida dando um claro recado aos poderosos (banqueiros e financistas, que se encontravam no templo): "Deus perdoará vocês, poderosos do mundo, se vocês perdoarem as dividas dos pequeninos, que vocês escravizam financeiramente, freqüentemente em conluio com César, que vocês corrompem".

Roberto Santos (https://www.facebook.com/roberto.santos.3114/posts/10214884814417326)

Facebook, 10 de novembro de 2017.

Por que os conservantistas não compreendem o liberalismo da forma como ele realmente é?

1) O que um conservador nominal de nossos dias não consegue entender de jeito nenhum - talvez por ignorância dos clássicos, talvez por má-fé - é que o liberalismo (aqui em entendido por liberdade em Cristo) NÃO preconizava a extinção do Estado, uma vez que devemos dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Livre mercado para essas pessoas significava "mercado livre dos avarentos e monopolistas, que vêem a riqueza como um sinal de salvação, como um fim em si mesmo". E essa gente constituía a classe ociosa, extrativista e exploradora da nação, que deve ser tomada como um lar em Cristo, na conformidade que vem de Deus.

2) Essa é a classe que detém o monopólio das terras, dos recursos naturais e da cunhagem da moeda. Adam Smith os abominava e era enfático ao dizer que o governo, fundado na Aliança do Altar com  o Trono, deveria taxá-los fortemente, reverter esse dinheiro para a infraestrutura e o financiamento da indústria e do comércio, sem cobrar juros, de modo a diminuir - ou mesmo acabar - com o imposto sobre estes ramos da produção de riqueza. E isso é uma forma de distributivismo.

3) Acontece que esses camaradas são a escória do mundo. Eles sempre conseguem convencer o governo a livrá-los dos impostos e fazer com que a mão pesada do governo esmague a indústria, o comércio e o trabalho. Ao longo da história, essa classe maldita sempre conseguiu seduzir a todos, e agora tem também a ajudinha dos que conservam o que é conveniente e dissociado da verdade, a ponto de se autodenominarem conservadores, quando na verdade não passam de conservantistas .

Roberto Santos (https://www.facebook.com/roberto.santos.3114/posts/10214885201387000)

Facebook, 10 de novembro de 2017 (data da postagem original).

Notas sobre o perdão das dívidas - comentários ao Deuteronômio 15

1) Em Deuteronômio 15, lê-se o seguinte:

"No final de cada sete anos, as dívidas deverão ser canceladas.

2) Isso deverá ser feito da seguinte forma: Todo credor cancelará o empréstimo que fez ao seu próximo. Nenhum israelita exigirá pagamento de seu próximo ou de seu parente, porque foi proclamado o tempo do Senhor para o cancelamento das dívidas."

3) Logo depois, vem este versículo surpreendente:

"Assim, não deverá haver pobre algum no meio de vocês, pois a terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá como herança para que dela tomem posse - e por força disso Ele os abençoará ricamente"

4) Mais adiante, Deus faz um alerta:

"Cuidado! Que nenhum de vocês alimente este pensamento ímpio: 'O sétimo ano, o ano do cancelamento das dívidas, está se aproximando, e não quero ver o meu irmão pobre'."

5) Todo esse capítulo trata do mecanismo do perdão da dívida (clean slate). Como se vê, ele foi criado por Deus para que NÃO houvesse pobres. É como se Deus dissesse: " Se vocês seguirem os meus mandamentos, se botarem em prática esse mecanismo do perdão da dívida, NÃO haverá pobres entre vocês.

6) Ao afirmar que não empréstimos próximos à época do sétimo ano da servidão não devem ser feitos, duas coisas estão pressupostas aí.

A) A condenação da avareza e do cálculo financeiro, o que levaria à escravidão por dívida, sem prazo para se esgotar e a possibilidade de se ter poder de vida e morte sobre o cativo.

B) Uma apologia à produção, pois o dinheiro emprestado visava à produção (ou seja, é investimento). Deus é claro: Você perderá agora, mas Deus o abençoará RICAMENTE pelos próximos seis anos, se fizer isso. Trata-se de um poderoso mecanismo de capitalização moral e de integração entre as pessoas.

Roberto Santos (https://www.facebook.com/roberto.santos.3114/posts/10214916550090698)

Facebook, 14 de novembro de 2017.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Notas sobre a importância da distinção de Borneman e sobre a razão pela qual ela favorece o caminho natural do saber (de partir do que se sabe para o que não se sabe)

1) Se devemos partir do que é mais óbvio para o que não é tão óbvio, então ficaria patente saber que tomar o país como um lar em Cristo não é tomar o país como se fosse religião, em que tudo está no Estado e nada pode estar fora dele ou contra ele.

2) Para que isso se tornasse patente, seria preciso distinguir nacionidade de nacionalidade, coisa que só pôde ser feita por John Borneman, no livro Belonging in the Two Berlins, em debate que este teve com Ernst Gellner, que considerava a história de todo e qualquer povo é marcarda por uma série de nacionalismos e salvacionismos, em que a constituição escrita é reescrita diversas vezes criando uma história da nacionalidade por meio das sucessivas crises constitucionais, posto que a nacionalidade é o sub-produto desse nacionalismo em que o Estado é tomado como se fosse uma segunda religião, feita de modo a revogar por forças humanas a primeira e derradeira, fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus.

3.1) A distinção de Borneman permite exatamente fazer essa ponte do óbvio para o que não é tão-óbvio. O termo "nacionidade" é um neologismo decorrente da tradução de nationness (esse foi o termo usado nesse debate, constante na obra Belonging in the two Berlins) e que ainda não está dicionarizado em língua portuguesa. Isso tudo favorece o desenvolvimento de uma especulação filosófica nesta direção.

3.3) A única pessoa que conheço que está fazendo disso uma filosofia por enquanto sou eu (pelo menos, não conheço outra pessoa que faça um trabalho semelhante ao que faço).

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2017.