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sábado, 13 de novembro de 2021

Por que os bens do tempo kairológico estão fora do comércio?

1) Na Idade Média, costumava-se dizer que os usurários vendiam tempo, já que eles mediam as coisas pelo tempo cronológico. Logo, o deus do tempo é também o deus da ganância. Por isso que gula e ganância são dois pecados que estão muito bem relacionados entre si, por conta do caráter do tempo em Chronos.

2.1) No tempo kairológico, todas as coisas se fundam no verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, já que Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Você não vende tempo, no sentido de sujeitar alguém aos termos de um contrato leonino e abusivo, pressionando-o a tomar a melhor decisão possível ao ritmo da clepsidra - como todas as coisas têm plenitude no verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, você espera pelos bens futuros, uma vez que eles valem mais que os bens do presente, os quais se desgastam no tempo por conta de jazerem no maligno. 

2.2) Por conta de você ter um encontro com o verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, que conhece todas as criaturas pelo seu nome, você tem com Cristo uma relação personalíssima - como Ele sabe tudo e pode tudo, você não pode enganá-Lo. Por isso que tudo o que você ganha nessa relação personalíssima não pode ser passado para outras pessoas que não crêem no Cristo, por serem considerados bens fora do comércio, uma vez que essas coisas se fundam numa relação de confiança, tal como acontece no confessionário. E neste sentido, o tempo kairológico não pode ser vendido, já que mercado é encontro, não sujeição. E nesse encontro, o lucro é ganho sobre a incerteza.

3.1) Além disso, Cristo prometeu vida em abundância e economia, neste sentido, é vida também - logo, as trocas com alguém que ama e rejeita as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento não podem ser fundadas em algo a partir do mineral, pois na natureza o metal não se reproduz. O verdadeiro Deus e verdadeiro Homem é a verdadeira medida de todas as coisas nessa troca - e essa medida é objetiva e personalista, pois tudo se funda n'Ele, por Ele e para Ele. A humanidade jamais conseguirá pagar a dívida que tem com Ele por conta de Seu sacrifício na Cruz - o ouro e a prata deste mundo não bastam, já que Cristo, por ser a verdade em pessoa, Ele é o próprio lastro, porque Ele basta a si mesmo, por ser Deus.

3.2) É preciso haver algum bem que sirva de moeda e que simbolize riqueza, confiança, a autoridade que aperfeiçoa a liberdade de muitos em Cristo e que simbolize, ao mesmo tempo, justiça. Esse bem precisa ter o princípio da vida dentro de si a ponto de poder ser reproduzido naturalmente de modo que essas coisas façam sentido, tal como vemos na agricultura ou mesmo na indústria, onde a matéria-prima é trabalhada em um produto acabado, feito para durar. Além disso, ele precisa observar este sentido: quanto mais ele for dividido, mais ele é multiplicado, sem perder sua substância, tal como é a eucaristia, já que a graça divina é por natureza inflacionária e ela multiplica as riquezas, ao invés de desvalorizá-las. 

3.3) Afinal, é próprio do cristianismo o altruísmo e a partilha, não o egoísmo, como apregoam os liberais - e no egoísmo não há nenhum tipo de virtude, mas idolatria do próprio ego, o que é doentio.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 13 novembro de 2021 (data da postagem original).

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