Há quem diga: "Eu não acho que o capitalismo nasça do protestantismo. Na Idade Média já havia capitalismo - a diferença é que o capital era outro: a terra, as armas e os grãos.
Respondo:
1) Há que se fazer a distinção entre capital e capitalismo.
2) Capital é o complexo de bens que maximiza a produção de riqueza: a terra, o maquinário e os grãos são bens de capital - e esses bens podem ser convertidos em dinheiro, em riqueza móvel, em riqueza que pode circular por todo o território nacional. Se você tomar o capital - esse complexo de bens - como se fosse religião, o que ocorre é capitalismo, pois tudo pode ser convertido em dinheiro ou reduzido a ele, ainda que certas coisas não possam ser exprimidas nele. Enfim, se você toma o capital como se fosse religião, então o dinheiro será tomado como se fosse um Deus.
3) Jesus Cristo disse que não podemos ter dois senhores, a Deus e o Dinheiro.
4) Quem ama o dinheiro necessariamente não acredita em fraternidade universal. E os protestantes não crêem em fraternidade universal - é por conta disso que buscarão liberdade fora da liberdade em Cristo, amparada no seio da Igreja Católica. Quem busca liberdade para o nada tende a conspirar - e, para isso, estimulará os outros à busca dessa liberdade para o nada, fora da autoridade de Cristo, que é a base dessa liberdade verdadeira. Buscar essa liberdade para o nada, como um modo de se edificar uma civilização, é o caminho da mentalidade revolucionária, pois ela rejeita a Deus - e o começo disso foi atentando contra a autoridade da Igreja Católica.
5) Além disso, com base em Leddihn, existem dois tipos de liberalismo:
5.1) Um funda-se na liberdade em Cristo, o que leva ao termo liberal como se fosse sinônimo de magnânimo. A maior prova disso é quando suplicamos à Virgem a intercessão da graça, por intermédio de suas mãos LIBERAIS.
5.2) O outro funda-se na perversão do primeiro conceito, pois busca a liberdade rejeitando os valores mais tradicionais e mais caros, ao se rejeitar a autoridade da Igreja Católica. E essa busca sistemática da liberdade voltada para o nada nasce da tradição protestante, que é uma tradição revolucionária.
5.3) As sociedades que rejeitam a aliança do altar com o Trono são todas LIBERTÁRIAS - pois edificam liberdade para o nada. A liberdade para o nada leva ao fato de que tudo está no Estado e nada pode estar fora dele. E tudo isso nasce da negação da fraternidade universal
6) Nas nações católicas, onde a produção das riquezas é regrada com base na doutrina social da Igreja, a produção das riquezas se dirige à edificação de um bem comum, de tal modo a que o trabalho de um complete o trabalho do outro. E as pessoas cooperam de tal forma a haver uma associação onde os indivíduos sejam valorizados por conta do que fazem de bom para o seu próximo, uma vez que o trabalho é causa de santificação e servir é fundamento da liberdade. E isso leva a uma repartição recíproca das riquezas, por conta dessa colaboração - uma espécie de distributivismo. E esse é o fundamento da sociedade humana, pois todos são sócios no projeto civilizatório.
7) O uso regrado da riqueza, com base em valores morais, nos leva à conformidade com o Todo e isso sempre vai resultar numa economia de livre mercado. E o fundamento dessa liberdade é Cristo Jesus - e é liberal no sentido de magnânimo. E esse é o verdadeiro fundamento, no sentido medieval do termo.
8) Se o conceito de liberdade for pervertido, no sentido de edificar liberdade para o nada, então esse mercado será dissociado de regras morais e atenderá a toda uma finalidade libertária. Logo, esse mercado não é livre - e passará a ser parte integrante da estrutura de poder do Estado.
9) Liberdade sem regras não é liberdade - é libertinagem. E essa liberdade deve se dar na carne, na conformidade com o Todo que vem de Deus.