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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Notas sobre a alquimia enquanto alegoria

1) Na alquimia, a passagem da pedra - do estado bruto (símbolo da ignorância) - para o ouro - o estado da sabedoria, da conformidade com o Todo que vem de Deus - é uma figura alegórica. E é esse o segredo para se entender a cosmologia medieval, coisa que se funda nas alegorias - o que nos faz tentar entender os mistérios da criação, a partir da investigação racional do Universo. Essa investigação se funda a partir do respeito e admiração pelos mistérios que gravitam em torno da Criação, obra suprema de Deus. É assim que se faz ciência. Por isso que a Idade Média nunca será Idade das Trevas.

2) Como a vida santa implica respeitar os mistérios da criação, o então o segredo para se restaurar a linguagem é restaurar o respeito a esses mesmos mistérios, pois tornou-se lugar comum da ciência o desencantamento do mundo - e o mundo sem mistério é um mundo materialista e vazio. 

3.1) Quando se escreve, o manejo da linguagem faz do escritor um jogador. Um bom escritor é um mestre nesse jogo de se esconder e de se mostrar as coisas - nesse jogo, as coisas vão sendo reveladas a partir da imaginação - e os que lêem de boa vontade é que compreenderão isso. 

3.2) Todo trabalho fundado na conformidade com o Todo que vem de Deu, edifica esse imaginário, de modo a respeitar esses santos mistérios.  Dito desta forma, o escritor é um alquimista, pois é o agente que edifica a cosmologia da pátria, de modo a que seja tomada como se fosse um lar em Cristo. De suas palavras, é capaz de converter um coração de pedra em um coração de carne. E é disso que realmente precisamos - ele deve ser uns instrumento de evangelização, dedicado a levar pessoas a perceberem a beleza das coisas, fundadas na conformidade com o Todo que vem de Deus. E para isso, ele precisará edificar alegorias e analogias, ícones que nos apontam para o Céu, tal qual uma imagem de Nossa Senhora.

4) O processo de restauração da linguagem necessitará do estudo da alquimia, enquanto alegoria. É isso que quebra o positivismo, que é iconoclasta, pois mata as alegorias, uma vez que a compreensão necessita da imaginação, de modo a se chegar à verdade, à conformidade com o Todo que vem de Deus.

Guerra do Peloponeso dentro da cosmologia medieval

1) Se Marte é o Deus da Guerra, relacionado ao pecado da Ira, da raiva cega, da guerra total, então ele está relacionado a Hares, o Deus da Guerra dos espartanos, que é um dos deuses do submundo.

2) Se a ira, enquanto pecado capital, pode ser transmutada nas virtudes da coragem e da fortaleza, então a Ira Divina, fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus, leva a uma guerra estratégica. E a deusa da guerra estratégica era Athena, a deusa dos atenienses. Não é à toa que Athena é a deusa da sabedoria, da filosofia, a base de toda a civilização. 

Uma reflexão interessante

O pecado da Ira é tratado pelo ferreiro, com fogo diretamente no ferro. O martelo bate e torna a bater, oscila entre a forja da espada no fogo e na água. Essa é a oscilação da ira - o rompante do fogo e dos golpes da dor,  além da calmaria das águas. Assim é forjada a armadura do guerreiro - assim forjam-se a espada, o escudo e a armadura, que representam a coragem e a fortaleza, graças de Deus.

O contrário do pecado da Ira são as Virtudes da Coragem e Fortaleza - a ira santa.

Curiosidades de cosmologia medieval: Marte é o nome de um deus romano da guerra, que é um dos sete planetas que está ligado a um dos sete pecados capitais: a Ira, que está ligado a um dos sete metais que é o ferro. A transmutação deste é uma das sete virtudes a Coragem e a Fortaleza, a Ira Santa.

Leandro Gama

Chave para entender o mundo do cru e o mundo do cozido

1) Eis uma chave de leitura que deveria ser feita para se entender o mundo do cru e o mundo do cozido, de Claude Lévi-Strauss: a ira - enquanto raiva cega, pecado capital - pode ser convertida em ira divina - e isso se dá através da virtude da fortaleza. O ferro é forjado constantemente, de modo a ter forma desejada. Se o homem é criatura, então Deus, o grande ferreiro, permite o pecado de modo a que sejamos forjados na virtude, através da experiência. Se experiência é sinônimo do saber, então ele é fruto do sabor que provamos da realidade, que é cheia de dissabores.

2) Como o processo de forjar metais passa por várias transformações químicas, de maneira análoga a transformação do pecado em virtude se dá através de alquimia - e nada é mais essencialmente medieval do que isso.

3) Pode parece estranho, mas o Olavo já tinha cantado essa pedra antes - e parece que ele tem razão.

Sobre a necessidade de se resgatar a literariedade dos documentos históricos

1) A Lei Natural, para ser observada, precisa ser internalizada na carne - é por conta disso que Jesus nos ensinou o mandamento do amor. Se Cristo é Constituição - e a lei mosaica é ordinária, em relação ao Cristo -, então o mandamento do amor é lei complementar, pois está hierarquicamente acima da lei ordinária.

2) O que é registrado à tinta deve ser ancorado num testemunho fundado na carne. Eis aí o segredo pelo qual o documento se torna um ícone, tal qual uma imagem de Nossa Senhora, que nos aponta para o Céu. 

3) Registro à tinta sem haver um prévio registro fundado na carne edifica liberdade para o nada, fundada no mais puro conservantismo, utilitarismo. E isso leva a um conhecimento fundado para o nada - o que é pretensamente verdadeiro torna-se falso, a partir do momento em que a linguagem é retrabalhada de modo a se readequar à realidade, fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus. 

4) O segredo para se extirpar o positivismo da História é restaurar a literariedade dos documentos históricos. A literariedade trabalha com a imaginação - e tende a virar ícone, a partir do momento em que as coisas são registradas para a posteridade, de modo a que o país seja tomado como se fosse um lar em Cristo. 

5) Se a pessoa não for capaz de ver no Historiador a figura de Cristo, ela só conservará o que é conveniente e dissociado da verdade. E aí tudo o que este fizer de bom será anulado por conta dessa conduta fechada à verdade. É essa má consciência que destrói a vida intelectual de uma nação.

Notas sobre o estado da questão a respeito do liberalismo - da Condenação de São Pio X até os dias atuais

1) Quando São Pio X condenou o liberalismo, ele condenou um tipo de liberalismo, que é aquele praticado pelos modernistas - e isso foi apontado por Erik von Kuehnelt-Leddihn em seu artigo sobre os quatro liberalismos.

2) Esse liberalismo remonta à tradição greco-latina que é anterior ao cristianismo. É um liberalismo humanista, próprio de quem colecionava textos da época, tal como se coleciona moeda, hoje em dia - como documento virou monumento, então o documento acabou virando crença de livro, o que influenciou decisivamente o movimento protestante e a heresia neopagã. Enfim, como tudo que é próprio da moda, edificou mentalidade revolucionária.

3) A História como ciência ficou presa na tese de que documentos são monumentos. Se os movimentos nos apontam para algo fora da conformidade com o Todo que vem de Deus, são ídolos; se eles nos apontam para a verdade, são ícones, pois nos apontam para a verdade, para a conformidade com o Todo que vem de Deus.

4) Os ídolos não resistem à readequação das formas, de modo a servir àquilo que é conforme o Todo que vem de Deus, uma vez que esta está ancorada numa sólida tradição oral que é mais ampla do que as limitações próprias da linguagem escrita, documentalizada. Se isso acontece com a escrita, isso também acontece com a linguagem. 

5) Quando tratei de estudar a linguagem, eu percebi que o termos "liberalismo"  e "conservadorismo" foram corrompidos, pois foram usados de modo a abarcar idéias fora daquilo que é conforme o Todo que vem de Deus. E isso foi usado intencionalmente, com o intuito de relativizar a verdade. Isso criou uma língua bifurcada - e só uma mente acostumada a dominar as mais diferentes nuances da linguagem é que poderá perceber a verdade, separando-a do erro. E só uma mente acostumada a vida em conformidade com o Todo que vem de Deus e que tem empatia para com essa mesma verdade é quem poderá perceber essa sutil diferença.

6) Claude Lévi-Strauss pensava em termos dialéticos, pois a dialética se faz a partir de antônimos. Do cru, temos o cozido - e várias coisas vão acontecendo de modo a passar de um estado para o outro. Na Idade Média, para a ira pecaminosa se transformar em ira santa, era preciso uma transformação alquímica - e isso se dava no ferro, que era forjado constantemente até ficar na forma desejada. E isso é uma forma de conservar a dor em Cristo, pois a guerra total era convertida em guerra estratégica, feita para se matar o que era mau e poupar e a vida e as propriedades dos cidadãos civis, que não tinham nenhuma relação com a história.

7) Com isso, a noção de coisa do inimigo como sendo coisa nula foi se perdendo, pois isso está fora da boa razão - e o novo território passava a ser integrado à nova sociedade através de pretores peregrinos, de modo a que os costumes locais inspirassem aos costumes da nova terra de modo a que chegassem num denominador comum, até o momento em que o país como um todo acabaria fosse tomado como se fosse um só lar em Cristo. Exemplo disso foi a Guiana Francesa sob o tempo da ocupação portuguesa.

8) Para se perceber a heresia liberal condenada por São Pio X de maneira mais evidente, eu tive que criar um antônimo. O que é herético é libertário, pois busca liberdade fora da liberdade em Cristo - e isso é libertarismo; e o que se conserva o que é conveniente e dissociado da verdade é conservantismo. Como o libertarismo é alimentado por conservantismo - a ponto de produzir novos conservantismos, num processo de descapitalização moral -, trata-se de uma ordem libertário-conservantista, pois edifica um espectro de ordem, de ordem falsa tomada como se fosse verdadeira, que na verdade leva à desordem. Com isso, o liberalismo, dentro daquilo que era pensado antes da corrupção da linguagem, passou a ter o seu significado restaurado.

9) Quem me faz uma impugnação hostil está preso num positivismo histórico e num positivismo da linguagem. Ao fazer tábula rasa, dizendo que estou a confundir, acaba se reduzindo a um idiota útil, pois acaba não percebendo que a revolução cultural é inerente á mentalidade revolucionária e é anterior ao próprio Gramsci. O que Gramsci fez foi acoplar isso a uma tática da guerra, o que é conforme aquilo que já era pregado em Karl Marx. Com isso, ele atualizou a linguagem revolucionária, dando a ela uma flexibilidade que muitos dos que se dizem nominalmente de direita não possuem, por terem justamente rejeitado aquilo que decorre da Santa Tradição. Se isso não se der na carne, será impossível vencer a mentalidade revolucionária.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Notas sobre a arrogância dos conservantistas

1) Se há uma coisa que eu nunca faço é reagir de maneira peremptória, dizendo que alguém está completamente errado, sem antes examinar tudo o que este tem a dizer. Além de ser imprudente, isso é indício de se conservar algo conveniente e dissociado da verdade: a vaidade. E isso não é atitude cristã, fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus. 

2) Esse tipo de coisa eu espero de esquerdistas e protestantes, mas de católico eu jamais espero isso. Se alguém agir assim, trata-se de nominalismo, bem típico daqueles que ficam a acusar o outro de herege ao ouvir qualquer coisa que soe desconfortável àquilo que lhe é conveniente e dissociado da verdade.

3) Como conservantismo é estar à esquerda do Pai, ele se faz através de vaidade e soberba. O conservantista, como todo agente do mal, se revela - e eu não debaterei com alguém que não se move através do Santo Espírito de Deus. 

4) É fato sabido que a arrogância precede a queda. Tudo o que for feito a partir desse senso é nulo, pois a obra segue o principal, o caráter de quem poderia viver a vida em conformidade com o Todo que vem de Deus e não o fez. 

5) Eis aí o maior problema do Brasil: essa vaidade intelectual. O dia em que começarem a tomar posturas civilizadas na rede social - como a de nunca reagir peremptoriamente a uma alegação, sem antes examiná-la por completo -, aí haverá senso verdadeiro de se conservar a dor de Cristo, pois estas posturas demonstram caridade intelectual.