1) Quando São Pio X condenou o liberalismo, ele condenou um tipo de liberalismo, que é aquele praticado pelos modernistas - e isso foi apontado por Erik von Kuehnelt-Leddihn em seu artigo sobre os quatro liberalismos.
2) Esse liberalismo remonta à tradição greco-latina que é anterior ao cristianismo. É um liberalismo humanista, próprio de quem colecionava textos da época, tal como se coleciona moeda, hoje em dia - como documento virou monumento, então o documento acabou virando crença de livro, o que influenciou decisivamente o movimento protestante e a heresia neopagã. Enfim, como tudo que é próprio da moda, edificou mentalidade revolucionária.
3) A História como ciência ficou presa na tese de que documentos são monumentos. Se os movimentos nos apontam para algo fora da conformidade com o Todo que vem de Deus, são ídolos; se eles nos apontam para a verdade, são ícones, pois nos apontam para a verdade, para a conformidade com o Todo que vem de Deus.
4) Os ídolos não resistem à readequação das formas, de modo a servir àquilo que é conforme o Todo que vem de Deus, uma vez que esta está ancorada numa sólida tradição oral que é mais ampla do que as limitações próprias da linguagem escrita, documentalizada. Se isso acontece com a escrita, isso também acontece com a linguagem.
5) Quando tratei de estudar a linguagem, eu percebi que o termos "liberalismo" e "conservadorismo" foram corrompidos, pois foram usados de modo a abarcar idéias fora daquilo que é conforme o Todo que vem de Deus. E isso foi usado intencionalmente, com o intuito de relativizar a verdade. Isso criou uma língua bifurcada - e só uma mente acostumada a dominar as mais diferentes nuances da linguagem é que poderá perceber a verdade, separando-a do erro. E só uma mente acostumada a vida em conformidade com o Todo que vem de Deus e que tem empatia para com essa mesma verdade é quem poderá perceber essa sutil diferença.
6) Claude Lévi-Strauss pensava em termos dialéticos, pois a dialética se faz a partir de antônimos. Do cru, temos o cozido - e várias coisas vão acontecendo de modo a passar de um estado para o outro. Na Idade Média, para a ira pecaminosa se transformar em ira santa, era preciso uma transformação alquímica - e isso se dava no ferro, que era forjado constantemente até ficar na forma desejada. E isso é uma forma de conservar a dor em Cristo, pois a guerra total era convertida em guerra estratégica, feita para se matar o que era mau e poupar e a vida e as propriedades dos cidadãos civis, que não tinham nenhuma relação com a história.
7) Com isso, a noção de coisa do inimigo como sendo coisa nula foi se perdendo, pois isso está fora da boa razão - e o novo território passava a ser integrado à nova sociedade através de pretores peregrinos, de modo a que os costumes locais inspirassem aos costumes da nova terra de modo a que chegassem num denominador comum, até o momento em que o país como um todo acabaria fosse tomado como se fosse um só lar em Cristo. Exemplo disso foi a Guiana Francesa sob o tempo da ocupação portuguesa.
8) Para se perceber a heresia liberal condenada por São Pio X de maneira mais evidente, eu tive que criar um antônimo. O que é herético é libertário, pois busca liberdade fora da liberdade em Cristo - e isso é libertarismo; e o que se conserva o que é conveniente e dissociado da verdade é conservantismo. Como o libertarismo é alimentado por conservantismo - a ponto de produzir novos conservantismos, num processo de descapitalização moral -, trata-se de uma ordem libertário-conservantista, pois edifica um espectro de ordem, de ordem falsa tomada como se fosse verdadeira, que na verdade leva à desordem. Com isso, o liberalismo, dentro daquilo que era pensado antes da corrupção da linguagem, passou a ter o seu significado restaurado.
9) Quem me faz uma impugnação hostil está preso num positivismo histórico e num positivismo da linguagem. Ao fazer tábula rasa, dizendo que estou a confundir, acaba se reduzindo a um idiota útil, pois acaba não percebendo que a revolução cultural é inerente á mentalidade revolucionária e é anterior ao próprio Gramsci. O que Gramsci fez foi acoplar isso a uma tática da guerra, o que é conforme aquilo que já era pregado em Karl Marx. Com isso, ele atualizou a linguagem revolucionária, dando a ela uma flexibilidade que muitos dos que se dizem nominalmente de direita não possuem, por terem justamente rejeitado aquilo que decorre da Santa Tradição. Se isso não se der na carne, será impossível vencer a mentalidade revolucionária.