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sábado, 31 de outubro de 2015

Tratado filosófico sobre a loucura

A loucura é dividida em três estágios: a idiotice consciente, a lucidez plena e, finalmente, a loucura total.

A idiotice consciente tem início na pré-adolescência e vai até aos 22 anos. Há casos em que esta fase só termina aos 35 anos, acompanhada de bastante terapia de grupo. É nesta fase que esses indivíduos se apresentam extremamente vulneráveis a qualquer tipo de ideologia e são disputados a tapas pelas agências de publicidade.

É nesta fase também que vivem a sua maior crise existencial, quando descobrem que nunca existiu papai-noel e que foram enganados por muitos anos. Passam então a não acreditar em mais ninguém que acreditavam antes, usando primeiramente os familiares como alvo de sua indignação e, em seguida outras instituições, sendo a escola a mais alvejada delas.

Começam a acreditar em tudo que nunca ouviram falar antes e em pessoas que morreram por alguma causa, sem saberem exatamente quais seriam estas causas. Mudam de comportamento e começam a vestir roupas que antes achavam ridículas. Duendes, Che Guevara, Raul Seixas são alguns dos seus ídolos. Passam a acreditar no Socialismo de uma hora para outra, mas no Socialismo de Mesada. Talvez uma compensação pela perda da imagem do papai-noel, mas não há nenhum estudo sério sobre isso, assim como a preferência pela cor vermelha nos dois casos.

Já a lucidez plena, que vai dos 25 aos 50 anos, os indivíduos estão na fase de consolidação do seu caráter, ou da falta dele. De posse de bastante conhecimento e “vasta” experiência profissional, social e sexual, passam a montar suas estratégias para os próximos 50 anos, mesmo não tendo certeza do que irá acontecer ao término desse prazo.

Os indivíduos que se sentiram muito enganados por seus ídolos do passado, papai-noel, familiares, bancos, agências de publicidade, adotam, nesta fase da vida, a tática do “agora sou eu”, muito utilizada na infância e também conhecida como “meinha”. Eles começam enganando seus cônjuges, depois seus patrões, seus gerentes de banco e por aí vai. Alguns desses contraem uma doença antiga, mas só recentemente diagnosticada, conhecida como TUCO (Transtorno Um-sete-um Compulsivo Obsessivo) mas, curiosamente, muitos dos indivíduos que a contraem conseguem uma brilhante carreira em algumas áreas de atuação profissional ou no cenário político nacional.

Já os indivíduos desta fase que foram pouco enganados, ou que não apresentaram muitas seqüelas em relação a esse trauma, adotam uma estratégia diferente da dos demais. Começam a refletir sobre tudo que viveram nos últimos vinte e cinco anos e chegam a conclusão que tudo aquilo que viveram, desde a pior desilusão até os melhores momentos de suas vidas, como a primeira transa, foram coisa muito positivas, tornando-se obcecados em partilhar suas experiências com outras pessoas.

É nessa fase que se casam, têm filhos e constroem suas carreiras, pautando sempre suas ações em princípios e experiências vividos anteriormente. Alguns desses indivíduos são extremamente inquietos e criativos, a ponto de transformarem suas experiências vividas na mais genuína arte.

Geralmente são pessoas bem sucedidas profissionalmente e bem vistas pela sociedade. Alternam utopia e pragmatismo na administração de suas vidas, tornando-se pessoas equilibradas e solidárias.

Chegamos finalmente ao último estágio, onde a loucura se dividirá em dois tipos distintos: O maluco beleza e o doido varrido. Está fase inicia-se aos 50 anos e se entenderá até os últimos dias de suas existências. Por tratar-se do último estágio da loucura, essa fase pode ser comparada à pré-estréia do juízo final.

Os indivíduos considerados malucos beleza são todos aqueles que já não levam a vida tão a sério como faziam antes e filtram todas as informações que obtêm, evitando ao máximo as armadilhas contidas nelas. Conseguem diagnosticar o momento presente com extrema precisão e com apenas uma taça de vinho, prevêem o futuro com a mesma precisão que suas sogras prevêem a meteorologia.

Já os doidos varridos são aqueles indivíduos que falam o tempo todo, geralmente com quem não está presente, mas que eles acreditam estar. Adoram escrever cartas aos jornais, enviar emails catastróficos aos amigos e acham que naquela semana vão ganhar na loteria, mesmo cientes que naquela semana não jogaram. Compram medicamentos na farmácia, mas é só em casa, e com muita paciência, é que escolherão o sintoma da doença. Acreditam que o INSS sempre conspirou contra eles e que o grande problema do Brasil são as “Perdas Internacionais”.

Alguns desses chamados doidos varridos, mesmo com fortes indícios desse tipo de loucura, conseguem mandatos para administrar diversas cidades pelo Brasil afora a até cadeiras nas maiores casas legislativas do país. Tem muito louco por aí que ainda vota nesses caras, acreditam? Mas isso já é outra história.

(Vitória Régia Borges)

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