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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Considerações sobre a essência de uma guilda medieval

01) Os liberais costumam nos acusar dizendo que uma sociedade de guildas, cuja base de operação é o monopólio e o sigilo, seriam moralmente superiores, do ponto de vista distributivista. Esta acusação revela à má-fé dos liberais, já que ignoram a natureza essencialmente cristã das corporações de ofício.

02) A base da organização de uma guilda medieval se dá por conta do princípio da confiança, da reserva moral. Decorre de uma relação de mestre e discípulo, que deriva diretamente da relação do pai com o filho. Essencialmente, ela é uma escola e, ao mesmo tempo, uma associação onde todos da mesma classe profissional se reúnem de modo que possam aprender os segredos da profissão, de modo a bem exercê-la na sociedade, responsavelmente. É uma sociedade mais pessoal e mais humana que as OAB's da vida de hoje em dia, que só pensam no dinheiro.

03) As guildas eram sociedades fechadas, com o intuito de proteger os seus associados e os segredos da profissão de modo a que fossem mal usados, pois o mau uso das técnicas profissionais acarreta dano irreparável à sociedade, como vemos por aí na advocacia, onde muitos advogados se prostituem e patrocinam um monte de causas que, em si mesmas, pervertem a ordem jurídica de nosso país. É claro que, quando a ganância falou mais alto que a caridade, a natureza fechada da guilda de proteger os seus associados se tornou a base do corporativismo, característica essencial do fascismo.

04) As leis estatutárias que regiam os associados de uma guilda. por serem consuetudinárias, é que eram aplicadas, no tocante à solução de conflitos, e não as leis do Estado - na época, as relações do Estado se fundavam nos direitos decorrentes da Terra (relações civis), e não das relações decorrentes do comércio ou da prestação de serviço, que eram a base sob a qual se assentavam as corporações e ofício.

05) Hoje as associações são livres e vigiadas pelo Estado. Mas o problema das associações modernas é o mesmo que decorre do fato de que qualquer um pode fundar a associação que quiser, para toda e qualquer finalidade, desde que permitida pela lei: a tendência à impessoalidade, a extrema facilidade para sua disolução e a falta de senso de fraternidade e solidariedade entre seus membros. Não existe senso de comunidade entre os membros de uma associação moderna - o que há em comum entre elas é o interesse em comum, às vezes transitório, às vezes permanente, mas o mero interesse em comum é apenas circunstancial. Sem a sincera amizade, uma associação de homens livres não terá a vitalidade de uma guilda medieval, que deriva da tradição cristã, pois os homens devem amar uns aos outros, assim como Cristo nos amou e nos compreendeu. Sem o companheirismo, não há sentido para uma associação livre de seres humanos.

06) À guilda se aplicam os mesmos elementos que Aristóteles descreveu na teoria das formas de governo das cidades-estado: da perversão da guilda, quando do pecado da avareza, nasce o corporativismo. Se não estiverem corrompidas, são uma organização melhor que as OAB's de hoje.

07) É preciso que Cristo seja restaurado como o norte da sociedade de modo a que estas instituições voltem a funcionar. A diferença é que este tipo de associação poderia ser um pouco mais aberta, pois o ofício deve ser livre, mas exercido com responsabilidade. Isso daria margem a que pessoas novas possam começar na carreira, pois a Igreja Católica, que é a base que dá origem a estas instituições, é aberta a novos membros. O problema da corrupção deste tipo de instituição, o corporativismo, precisa ser mais bem vigiado. Como fazer uma associação reservada, de modo a que seja pessoal, fundada no amor de Cristo, e ao mesmo tempo aberta a novos membros? É esta zona cinzenta que se perdeu quando esta instituição foi abolida da sociedade. O liberalismo revolucionário era tão forte que romperam radicalmente com a base essencial de uma guilda, a solidariedade entre os membros, própria do Cristianismo.

08) Por isso que rejeito qualquer atitude progressista, fundada na moda de momento. Ela joga na lata do lixo o melhor conhecimento dessas zonas cinzentas, que mereciam uma melhor análise, se estas instituições ainda realmente existissem na sociedade. Como não temos equivalente vivo, sou obrigado a ter que refletir sobre isso através do que é essencial, fundado naquilo que Cristo nos ensinou. Modelos ideais podem não ser perfeitos, mas dão uma idéia do que seria uma instituição, se ela fosse viva. É como estudar um esqueleto de dinossauro.

Comentários finais: a razão pela qual escrevi este artigo é para responder às injustas acusações que os liberais nos fazem de que as guildas são a causa do subdesenvolvimento de um país. A falta de Cristo, que é o que permeia a mente de um liberal, leva à mentira e à falsidade. Ela antecipa em muitos aspectos a postura socialista, que é mentira sistemática até a chegada do poder.

José Octavio Dettmann
 
Rio de Janeiro, 20 de maio de 2013 (data da postagem original).
 
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2) Debate sobre a natureza da organização do trabalho, no âmbito do distributivismo: http://adf.ly/1PsJeDh

3) Distributivismo não é fascismo - muito menos, corporativismo - Parte 1: http://adf.ly/atr9B

4) Distributivismo não é fascismo - muito menos, corporativismo - Parte 2: debate entre Leonardo Faccioni e Leonardo Oliveira (Conde Loppeux de Villanueva): http://adf.ly/aw5U0

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